Bombardeio

Ataque com gás tóxico deixa mais de 50 mortos na Síria

O ataque aconteceu no dia que marca o início de uma conferência de dois dias em Bruxelas sobre o futuro da Síria

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Publicado em 04/04/2017 às 9:07
Foto: OMAR HAJ KADOUR/AFP
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Atualizada às 15h32

Ao menos 58 civis, incluindo onze crianças, morreram nesta terça-feira em um bombardeio aéreo que liberou gás tóxico em uma cidade do noroeste da Síria, informou a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

O balanço do ataque na cidade rebelde de Khan Shekhun, noroeste da Síria, inclui 11 crianças, de acordo com o OSDH.

"Várias pessoas morreram depois que foram levadas para os hospitais. Todas são civis", afirmou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor da ONG.

O OSDH, que não sabe que tipo de gás foi liberado, informou que 35 civis morreram por asfixia em Khan Sheikhun, na província de Idlib. Dezenas sofriam com problemas respiratórios e outros sintomas.

O OSDH, que tem sede na Grã-Bretanha e conta com uma ampla rede de fontes na Síria, não soube informar se os bombardeios foram executados por aviões das Forças Armadas sírias ou russos, aliados do regime de Damasco.

O ataque aconteceu no dia que marca o início de uma conferência de dois dias em Bruxelas sobre o futuro da Síria, com mediação da União Europeia e da ONU.

A ONG indicou que, segundo fontes médicas no local, foram registrados desmaios, vômitos e as vítimas espumavam pela boca.

Fotos de ativistas mostram voluntários dos Capacetes Brancos, grupo de socorristas na zona rebelde, no momento em que tentavam ajudar os feridos. Eles jogam água no rosto das pessoas e pelo menos dois homens aparecem com espuma branca ao redor da boca.

Este é o "segundo ataque químico mais mortífero do conflito na Síria", depois do que deixou mais de 1.400 mortos em 2013, disse a organização, que não pôde especificar que tipo de gás venenoso havia sido utilizado.

Hospital atacado

Algumas horas depois, o hospital que atendia os feridos do ataque tóxico foi bombardeado, o que provocou muitos danos ao centro médico, constatou um correspondente da AFP.

De acordo com a jornalista, o ataque teve como alvo uma área do hospital e os médicos tentavam fugir em meio aos escombros. Até o momento não foi possível obter informações sobre vítimas no centro médico.

A oposição síria pediu ao Conselho de Segurança da ONU a abertura de uma investigação sobre o ataque com gás tóxico no noroeste do país.

A Coalizão Nacional, principal grupo da oposição síria, pede em um comunicado ao Conselho de Segurança que "convoque uma reunião urgente após este crime e abra uma investigação imediata". 

A nota acusa o "regime do criminoso Bashar al-Assad" de ter executado os bombardeios contra Khan Sheikhun com "obuses que continham gás químico".

A província de Idlib é controlada em sua maior parte por uma aliança de rebeldes e jihadistas. A região é bombardeada com frequência por aviões do exército sírio e da Rússia, assim como da coalizão liderada pelos Estados Unidos para neutralizar os jihadistas.

O governo sírio negou em muitas oportunidades o uso de armas químicas em uma guerra que já provocou mais de 320.000 mortes desde março de 2011. 

Mas as alegações de que Damasco utiliza este tipo de armamento são recorrentes e uma investigação liderada pela ONU atribuiu ao regime pelo menos três ataques com gás cloro em 2014 e 2015. 

A Síria ratificou a Convenção sobre a Proibição de Armas Químicas em 2013.

- 'Responsabilizar' -

O enviado especial das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Misutra, declarou que a ONU quer "identificar claramente as responsabilidades".

Reagindo ao cair da noite, o exército sírio desmentiu "categoricamente ter usado hoje (terça-feira) substâncias químicas ou tóxicas em Khan Sheikhun (...)" e ressaltou que "nunca as utilizou, em nenhum momento, em nenhum lugar e que não fará isso no futuro", afirmaram as forças armadas em um comunicado publicado pela agência oficial Sana.

O governo sírio, que ratificou a Convenção sobre a Proibição de Armas Químicas em 2013, desmentiu em muitas ocasiões o uso de armas químicas, mas as acusações contra Damasco de que utiliza tais armas se sucedem, e uma investigação liderada pela ONU apontou que o regime fez ao menos três ataques de cloro em 2014 e 2015.

O exército russo, o principal aliado do regime sírio, disse que também não realizou nenhum bombardeio na área afetada.

Ainda assim, a oposição síria acusou o regime de ter utilizado "morteiros com gás químico". Este "crime horrível" lembra o ataque do verão de 2013 perto de Damasco, que a comunidade internacional deixou "impune", acrescentou, alertando que "colocava em xeque" o processo de paz destinado a acabar com um conflito que já dura mais de seis anos.

- 'Intolerável' -

Classificando o ataque de intolerável, Sean Spicer, porta-voz do presidente americano, Donald Trump, denunciou um "ato condenável" do regime de Assad.

Para o presidente francês, François Hollande, "mais uma vez o regime sírio nega a evidência de sua responsabilidade neste massacre".

"Embora não possamos estar seguros do ocorrido, ele tem todas as características dos ataques de um regime que usou reiteradamente armas químicas", disse o ministro das Relações Exteriores britânico, Boris Johnson, em um comunicado.

A correspondente da AFP em Khan Sheikhun viu equipes de saúde tentando socorrer uma jovem, mas em vão. Seu pai, destroçado pela dor, a pegou nos braços, beijou seu rosto e a levou para fora do hospital.

A jornalista também viu pacientes com espuma saindo da boca. Muitos foram pulverizadas com água enquanto os médicos tentavam reanimá-los.

Segundo a correspondente, o hospital foi bombardeado posteriormente, provocando grandes danos no centro de saúde e a fuga dos médicos entre os escombros.

O ataque desta terça-feira coincide com o início de uma conferência de dois dias em Bruxelas sobre o futuro da Síria patrocinada pela União Europeia e pelas Nações Unidas, mas não é esperada a presença de alguns atores-chave, como Rússia e Turquia.

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Hospital foi o alvo do 'ataque químico' - Foto: OMAR HAJ KADOUR/AFP
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Ataque deixou pessoas inconscientes - Foto: OMAR HAJ KADOUR/AFP
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Ao todo, 72 mortes foram registradas - Foto: OMAR HAJ KADOUR/AFP
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Das 72 vítimas, 20 eram crianças e muitas delas ficaram feridas - Foto: OMAR HAJ KADOUR/AFP
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Ao todo, 72 mortes foram registradas - Foto: OMAR HAJ KADOUR/AFP
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Ataque deixou rastro de destruição na cidade de Khan Sheikhun - Foto: OMAR HAJ KADOUR/AFP
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Ataque deixou rastro de destruição na cidade de Khan Sheikhun - Foto: OMAR HAJ KADOUR/AFP

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