Riad, Jerusalém, Belém, Roma, Bruxelas e Sicília: o presidente Donald Trump, em dificuldades em Washington, inicia nesta sexta-feira (19) uma viagem que será acompanhada de perto nas capitais de todo o mundo. Esta primeira viagem prolongada - cinco países em oito dias, uma série de reuniões - promete ser um exercício difícil para o presidente dos Estados Unidos.
A avalanche de revelações que precedeu sua partida o colocou em uma posição delicada em seu país e reavivou dúvidas sobre a sua capacidade de desempenhar a função presidencial na presença de seus homólogos. "O fato é que ninguém sabe como Donald Trump vai se comportar ou o que dirá nas reuniões que nunca esteve", resume Stephen Sestanovich, do Conselho de Relações Exteriores.
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Os conselheiros do presidente imprevisível, de 70 anos, afirmam que seu estilo "amigável, mas franco" é uma garantia de eficiência nas relações internacionais. Trump, pouco simpático a viagens longas, será acompanhado por sua esposa Melania, até agora praticamente ausente nas atividades públicas. Sua filha Ivanka e seu genro Jared Kushner, dois dos seus assessores mais próximos, também embarcarão no avião presidencial Air Force One.
O magnata do ramo imobiliário, que tenta ajustar suas incendiárias declarações de campanha, terá de explicar como seu lema favorito, a "América primeiro", é compatível com o multilateralismo. "O presidente sabe que 'América primeiro' não significa 'Estados Unidos sozinhos', muito pelo contrário", declarou o general H.R. McMaster, seu conselheiro de Segurança Nacional. Mas, além da frase, muitas questões permanecem.
Discurso sobre o Islã
A Casa Branca antecipa uma viagem "histórica", na qual o presidente irá ao encontro das três grandes religiões monoteístas. Em Riad, onde chegará no sábado, Trump deverá se esforçar para marcar o contraste com seu antecessor, que despertou a desconfiança das monarquias sunitas do Golfo.
Um poderoso discurso contra o Irã xiita, silêncio sobre questões de direitos humanos, provável anúncio de contratos de armas, são os ingredientes para que a recepção seja boa. Mas o presidente faz uma aposta arriscada ao pronunciar na capital saudita, para mais de 50 líderes de países muçulmanos, um discurso sobre o Islã.
"Vou chamá-los a combater o ódio e o extremismo", prometeu antes da viagem, citando uma "visão pacífica do Islã". Em Israel, onde espera impulsionar a ideia de um acordo de paz com os palestinos, Trump se reunirá com seu "amigo" Benjamin Netanyahu (em Jerusalém), e com o presidente palestino Mahmud Abbas (em Belém, nos territórios palestinos ocupados).
Esta etapa será cercada de polêmicas, principalmente quanto a organização da visita ao Muro das Lamentações e a transmissão aos russos de informações confidenciais obtidas pelo aliado israelense. O encontro com o papa Francisco no Vaticano terá um aspecto singular, uma vez que as posições dos dois homens são diametralmente opostas em questões como a imigração, refugiados ou mudanças climáticas.
A Europa, onde Trump semeou confusão com declarações contraditórias sobre o Brexit, o futuro da União Europeia e o papel da Otan, será a última etapa de sua turnê com uma reunião cúpula da Aliança Atlântica em Bruxelas e outra do G7 em Taormina, na Sicília. Até agora, Trump não reafirmou o compromisso dos Estados Unidos com o artigo 5 do tratado da Otan sobre a solidariedade do seu país em caso de agressão externa.
Viagem de Nixon em 1974
A percepção da viagem nos Estados Unidos também será crucial. Consciente de que a ameaça terrorista é uma questão de preocupação central, o presidente republicano espera voltar com compromissos concretos com seus aliados na luta contra o grupo Estado Islâmico (EI). Mas, quaisquer que sejam as impressões de sua viagem, não serão suficientes para fazer esquecer os casos que sacodem a presidência em Washington.
Para Bruce Riedel, um ex-oficial da CIA e agora analista do Brookings Institution, uma comparação que naturalmente vem à mente é a viagem ao Oriente Médio em 1974 de Richard Nixon, que esperava um sucesso diplomático "para desviar a atenção do escândalo Watergate". "Isso não funcionou, a imprensa americana se concentrou implacavelmente sobre Watergate, tratando a viagem como um acessório, enquanto as revelações continuavam a se acumular", lembra ele.