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Editorial: A nova política de imigração dos Estados Unidos

As entidades médicas que contestam o governo representam 250 mil profissionais, dos quais 7.700 especialistas em saúde mental

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Publicado em 20/06/2018 às 7:16
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As entidades médicas que contestam o governo representam 250 mil profissionais, dos quais 7.700 especialistas em saúde mental - FOTO: Foto: AFP
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Com a nova política de imigração do governo Trump, mais de 2.300 crianças foram tiradas dos pais na fronteira dos Estados Unidos entre 5 de maio e 9 de junho e essa está sendo a principal pauta dos meios de comunicação norte-americanos. Gravação do site de notícias ProPublica, por exemplo, mostra crianças que choram e chamam por seus pais em uma instalação da Patrulha de Fronteira e a foto de uma criança com não mais que 3 anos de idade agarrada às pernas do pai para não se separar, sob o olhar “neutro” de policiais, são cenas cujo efeito “é catastrófico”, como diz Charles Nelson, professor de pediatria da Harvard Medical School.

Essa política recebe o repúdio da Academia Americana de Pediatria, do Colégio Americano de Médicos, da Associação Americana de Psiquiatria e mais 142 organizações. “Pretender que crianças separadas não cresçam com o estilhaço dessa experiência traumática em suas mentes é desconsiderar tudo o que sabemos sobre o desenvolvimento infantil, o cérebro e o trauma”, diz petição dirigida a Trump.

As entidades médicas que contestam o governo representam 250 mil profissionais, dos quais 7.700 especialistas em saúde mental. São esses profissionais que dão o atestado da insanidade do presidente. Luis H. Zayas, professor de psiquiatria da Universidade do Texas em Austin dá um diagnóstico contundente: “O dano que o nosso governo está causando agora vai levar uma vida inteira para desfazer.”

Criticas 

Até a atual esposa de Trump, Melania, ela mesma uma imigrante eslovena, mãe do filho mais novo do presidente, Barron, criticou a política de tolerância zero do marido, através de nota divulgada por uma portavoz.

Há relatos de profissionais de saúde mental que acompanharam casos como na Romênia no tempo do ditador Ceausescu, quando foram abertos orfanatos para lidar com mais de 100 mil crianças cujos pais tinham dificuldade de sustentá-las. Ali eram vistas crianças batendo nelas próprias ou batendo a cabeça contra as paredes. “Como pesquisadores nunca iríamos chorar na frente das crianças. Sempre que nos sentíamos feridos, saíamos da sala”, relatou um desses profissionais. As crianças que haviam sido separadas de seus pais tiveram uma pontuação significativamente menor nos testes de QI mais tarde.

Na Austrália, estudos mostraram que crianças aborígenes tiradas das famílias se tornaram duas vezes mais propensas a serem presas ou acusadas criminalmente quando adultas. Na China, onde 1 em cada 5 crianças vive em aldeias sem seus pais, que migram para o trabalho, estudos mostram que as que foram deixadas para trás têm taxas mais altas de ansiedade e depressão. Voltados especificamente para o caso dos Estados Unidos, dizem os estudiosos que “do ponto de vista estritamente médico e científico, o que nós, como país, estamos fazendo com essas crianças na fronteira é injusto”. Um sentimento que tende a ganhar a forma de uma crise humanitária.

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