JABOATÃO DOS GUARARAPES

Anderson Ferreira assume imensos problemas em Jaboatão dos Guararapes

Falta de saneamento, poucas vagas em creche e atendimento materno são desafios do novo governo em Jaboatão

Paulo Veras
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Paulo Veras
Publicado em 01/01/2017 às 7:04
Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Um rio de esgoto e dejetos corta ao meio a rua onde José Amaro da Silva, 55 anos, mora na comunidade de Sovaco da Cobra, em Jaboatão dos Guararapes. Lá, chega água, mas não há esgotamento. Tudo é jogado na água do canal que nasce na Lagoa Olho D’Água: animais mortos, fezes, resto de comida. “Entra ano, sai ano e isso aqui é assim sempre. Esse canal mesmo, tem para mais de mil projetos, mas nunca fizeram nada. Basta chover que essa água podre alaga tudo.”

Na segunda maior cidade de Pernambuco, apenas 6,59% da população é atendida com esgoto. A falta de saneamento é um dos desafios nevrálgicos que o novo prefeito Anderson Ferreira (PR) vai ter que enfrentar ao assumir hoje o comando de Jaboatão. Ela se soma a outros desafios como o enorme número de ruas sem calçamento, a falta de creches e o atendimento de saúde precário. Para o republicano, essas áreas serão prioridade no novo governo.

Do outro lado do canal, Maria Luiza dos Santos, 20 anos, luta para manter o filho de 20 meses longe da água que deixou outras seis pessoas da família com leptospirose. Não raro, ratos cruzam o quintal. “Eu não tenho fé. Não tenho esperança de nada. Porque durante os 20 anos que eu moro aqui, nunca vi nada acontecendo. Vem um prefeito, vem outro e não acontece nada. Não é agora que esse que vai entrar vai fazer alguma coisa. Principalmente aqui. Um lugar esquecido.”

Na educação, o desafio é oferecer creche. São apenas quatro na segunda maior cidade do Estado. As 600 crianças atendidas representam apenas 34% da demanda da faixa etária de 0 a 3 anos, segundo a própria prefeitura. O filho de Luiza é um dos que ficam de fora. Só em 2018 ele poderá tentar uma das 6,2 mil vagas em um dos dez Cemeis e das 77 pré-escolas, para crianças entre 3 e seis anos.

A vinte quilômetros dali, as obras da Maternidade Rita Barradas, do município, ainda estão longe do fim. Demolida em 2006, a unidade foi uma das principais promessas da primeira campanha de Elias Gomes (PSDB) na cidade, há oito anos. Em 2010, o edital para construção da maternidade foi lançado, prevendo que ela atenderia partos de alto risco. Devia ter ficado pronta em menos de um ano e custar R$ 22,9 milhões; mas só 45% da obra foi executada e o custo estimado já é de R$ 38 milhões. Enquanto ela se arrasta, o índice de mortalidade materna triplicou no município entre 2010 e 2012, segundo dados do Datasus compilados pelo Programa Cidades Sustentáveis.

O JC esteve no canteiro de obras, no bairro de Sucupira e constatou que as paredes foram levantadas, mas ainda faltam obras de concretagem, a laje, acabamentos e todas as instalações de água e energia. Funcionários da empresa dizem que não há previsão para conclusão das obras, pois o ritmo tem sido prejudicado pela falta de repasses do governo. Quando há dinheiro, até 20 operários trabalham no canteiro; que chegou a parar por meses no ano passado. “Está meio morta a construção. Se isso aí saísse seria uma bênção”, conta a dona de casa Maria Lucia, 60 anos, que mora em frente ao local.

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CRISE ATRAPALHA

Eleito com a promessa de fortalecer a ação social da prefeitura, Anderson Ferreira já adiantou que terá um pacote de ações para os primeiros 90 dias de governo. Mas o cenário de crise fiscal pode adiar as principais medidas.

“As maiores dificuldades são nas áreas da educação e saúde. Nós temos que reverter esse quadro que se encontra no município. É por isso que nós temos muito cuidado em anunciar as medidas que vamos tomar. Durante toda a campanha, nós colocamos que a nossa gestão seria a inversão de prioridades. E o que eu quero é fazer as escolhas corretas das prioridades que nós vamos ter no nosso início da gestão”, explica Anderson. Apesar dos cortes na máquina, ele recriou as secretarias municipais de Educação e Saúde para dar prioridade às duas áreas.

Necessidade urgente da cidade, o saneamento é visto como uma área onde a nova gestão teria dificuldade de atacar. A parceria público-privada (PPP) da Compesa já promete ampliar a cobertura de saneamento na Região Metropolitana, mas caminha a passos lentos. A atual administração tem acompanhado os estudos realizados pela PPP e discutido possíveis soluções. A Lagoa Olho D’Água já tem um extenso projeto de requalificação, incluindo um Parque Metropolitano, mas as ações já tomadas são pontuais e famílias retiradas do local onde seriam as intervenções retornaram.

Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
Canal próximo à Lagoa Olho D'Água no Sovaco da Cobra, em Jaboatão dos Guararapes - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Canal próximo à Lagoa Olho D'Água no Sovaco da Cobra, em Jaboatão dos Guararapes - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Maria Luiza dos Santos, 20 anos, moradora do Sovaco da Cobra, em Jaboatão dos Guararapes - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Canal próximo à Lagoa Olho D'Água no Sovaco da Cobra, em Jaboatão dos Guararapes - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Canal próximo à Lagoa Olho D'Água no Sovaco da Cobra, em Jaboatão dos Guararapes - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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José Amaro da Silva, 55 anos, morador do Sovaco da Cobra, em Jaboatão dos Guararapes - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Obras da Maternidade Rita Barradas, em Sucupira, Jaboatão dos Guararapes - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Obras da Maternidade Rita Barradas, em Sucupira, Jaboatão dos Guararapes - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Obras da Maternidade Rita Barradas, em Sucupira, Jaboatão dos Guararapes - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Maria Lucia, 60 anos, moradora de Sucupira, em Jaboatão dos Guararapes - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem

 

As inúmeras creches prometidas na campanha devem ser mais baratas, já que adaptarão o modelo implantado em Petrolina, que em vez de construir unidades maiores, encontra imóveis já disponíveis nas comunidades. Antes, porém, é preciso identificar esses locais e adaptá-los para receber as crianças do município.

Já a saúde concentra algumas das promessas mais assertivas de Anderson, como o deslocamento de médicos para as comunidades com mais fila de espera nos postos, a marcação de consultas pelo celular e a entrega de remédios em casa para pacientes com diabetes e hipertensão. Hoje, além das unidades de saúde, Jaboatão já entrega medicamentos em casa para 160 pacientes crônicos e tem uma central de marcação de consultas e exames. Mas na equipe do novo prefeito, a sensação é que apesar da transição, só será possível saber a situação exata do município após a posse.

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