PROMESSAS

Mandato novo, tarefa antiga: fatura de Geraldo Julio para 2º governo

Os próximos quatro anos serão desafiadores para prefeito do Recife, que precisa cumprir promessas pendentes e tirar do papel as prometidas na campanha

Marcela Balbino
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Marcela Balbino
Publicado em 01/01/2017 às 7:07
Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem
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“A dignidade do pobre é ter uma casa própria, né?”, diz Elisângela Uchoa da Silva, 27 anos. Ela mora em uma palafita erguida sob o mangue da comunidade do Bode, no Pina. A precária habitação pende para um lado e corre o risco de desabar sobre a água suja. Desempregada, ela confundiu a reportagem com as pessoas responsáveis pelo cadastramento. A requalificação da área foi uma das principais promessas do prefeito do Geraldo Julio (PSB) quando disputou o cargo pela primeira vez, em 2012. De lá para cá, pouco mudou. Neste segundo mandato, que se inicia hoje, o socialista terá pela frente um cenário bem diferente do que encontrou em 2013. A lista é extensa, as promessas da campanha somam-se às pendências do primeiro mandato. Tudo com a sombra da crise econômica.

Nos últimos dias de dezembro, o prefeito adotou medidas para dar um respiro à máquina, com o corte de nove secretarias e três órgãos. Para este ano, fica a expectativa de reduzir, em média, 35% das 66 secretarias-executivas e dos 2.606 cargos comissionados. A garantia dada pelo prefeito é de realizar o enxugamento sem descontinuar ou diminuir serviços.

A habitação é um dos calos que o socialista terá que administrar. O tema foi alvo de críticas durante a campanha e as moradias precárias são retrato da política habitacional deficiente. Estima-se que o déficit habitacional do Recife é de 60 mil moradias. Segundo dados da secretaria de Habitação, dez conjuntos habitacionais estão em construção, que totalizam 1.317 unidades, cerca de 2% do total. De 2013 para cá, foram entregues 1.222 casas.

O projeto do Bode, o mais emblemático para o socialista, ainda não saiu do papel. Enquanto isso, Elisângela alimenta o sonho da casa de alvenaria. Com problemas na pele por causa da poluição da maré e das condições miseráveis, ela mora há 5 anos na localidade e, de tempos em tempos, ajeita o barraco para não desabar. “Quem não sonha com a casa própria? Ter meus móveis, minhas coisas. É o sonho de qualquer ser humano. Aqui você não tem a segurança de estar bem. A qualquer momento pode acontecer algo e a casa cair dentro da maré”, desabafa a jovem, desempregada.

No terreno onde será o habitacional, ainda não há sinal de obra. Segundo a URB, foi constatada a necessidade de rever o projeto da fundação para diminuir o impacto ambiental. “Ainda não há prazo definido para retomada da obra”, diz o órgão, em nota.

Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem
Paradas de ônibus do BRT estão inacabadas e refletem a desordem na via - Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem
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Paradas de ônibus do BRT estão inacabadas e refletem a desordem na via - Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem
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O que mais me incomoda na Conde da Boa Vista é o sucateamento nas paradas, diz Ivan Ferreira - Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem
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A requalificação da Avenida Conde da Boa Vista é uma das promessas do prefeito Geraldo Julio - Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem
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A requalificação da Avenida Conde da Boa Vista é uma das promessas do prefeito Geraldo Julio - Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem
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Retirada das palafitas da comunidade do Bode foi uma das promessas feitas por Geraldo ainda em 2012 - Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem
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Retirada das palafitas da comunidade do Bode foi uma das promessas feitas por Geraldo ainda em 2012 - Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem
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Retirada das palafitas da comunidade do Bode foi uma das promessas feitas por Geraldo ainda em 2012 - Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem
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Terreno do Aeroclube onde deve ser erguido o habitacional. - Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem
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Terreno do Aeroclube onde deve ser erguido o habitacional. - Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem
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A requalificação da Avenida Conde da Boa Vista é uma das promessas do prefeito Geraldo Julio - Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem
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Minha casa está caindo, porque as ‘estroncas’ ficaram podres, conta Elizabeth Matias, do Bode - Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem

 

Do programa de governo de 2012, foi cumprida uma média de 30% do total. Na eleição, a construção do Hospital do Idoso foi uma das promessas mais audaciosas.

Terceira capital brasileira com maior proporção de idosos do País, com 9,4% da população acima dos 60 anos (150 mil pessoas, em média), o Recife carrega a missão de encarar o desafio de se remodelar para favorecer saúde, mobilidade e segurança à faixa etária que mais cresce no mundo. Geraldo defende que o hospital é futuro, mas ainda não há informações sobre o projeto ou orçamento.

Quem precisa de atendimento específico, fica a expectativa. Na última quinta do ano, a aposentada Vandete Malaquias, 64, estava há 9 horas esperando por uma consulta oftalmológica no Centro Médico Senador José Ermírio de Moraes, em Casa Forte. Ela e outras dezenas de idosos precisavam do exame e, desde as primeiras horas da manhã, aguardavam atendimento.

“Tem muita gente necessitada e nem sempre a gente consegue atendimento. O médico passou para mim um exame de laringoscopia e esperei 8 meses para conseguir. É a demora que irrita. A gente se sente desrespeitado”, desabafa a senhora, que recorre ao SUS por não tem condições de arcar com plano de saúde. “Se viesse o hospital seria ótimo.”

ANO DURO

Consciente dos anos difíceis que virão pela frente, o prefeito Geraldo Julio assume um discurso realista sobre as perspectivas futuras, bem diferente do quadro que encontrou quando chegou à prefeitura no primeiro mandato.

Na tentativa de governar em meio ao aperto nas contas, o gestor fez cortes ainda no primeiro mandato em busca de economia para o caixa municipal. A expectativa é que a redução da secretarias gere economia de R$ 81 milhões ao ano. Outra medida anunciada foi o corte de R$ 90 milhões em contratos e no custeio da administração municipal. 

 

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“O Brasil está vivendo um período muito difícil e a população está pagando um preço muito alto. A gente fecha um ciclo de quatro anos que iniciou quando o País crescia muito e estamos preparando o governo para um tempo difícil e duro para o Recife”, disse Geraldo, durante entrevista à Rádio Jornal. 

Será em meio ao difícil momento que o prefeito terá que cumprir a promessa de recuperar a Avenida Conde da Boa Vista. Os quase dois quilômetros da via são puro descuido, marcados pelo descontrole urbano - com ambulantes pelas calçadas, paradas de ônibus inacabadas e trânsito caótico. Aqueles que precisam percorrer a avenida reclamam dos obstáculos. As paradas em construção estão se deteriorando e refletem o desperdício do dinheiro público.

A obra será uma das prioridades do gestor, embora ainda não tenha nada encaminhado. “A gente já tem um estudo da Conde da Boa Vista que define a remodelação da via. Agora precisamos fazer o projeto executivo, que é quando teremos orçamento detalhado e preço para viabilizar o recurso e fazer a obra”, explicou. 

Outra vitrine da gestão do PSB, os cinco Compaz também ficaram pendentes no primeiro mandato. Dois estão de pé, mas somente o do Alto Santa Terezinha foi entregue; o do Cordeiro deve ser aberto ao público no primeiro semestre do próximo ano. 

O prefeito tomará posse hoje ainda sem ter anunciado o time que vai ajudá-lo nos próximos quatro anos. Mas a avaliação é que deve ser mantido o perfil técnico da gestão, tanto que o núcleo duro da equipe – os secretários ligados à administração e Finanças - serão preservados. 

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