CONJUNTURA I

Uma parte da América do Sul com políticos de centro-direita à frente

Eleitores da Argentina e do Chile optaram por dirigentes da centro-direita nas urnas

Da editoria de Política
Cadastrado por
Da editoria de Política
Publicado em 23/12/2017 às 13:43
Foto: AFP
Eleitores da Argentina e do Chile optaram por dirigentes da centro-direita nas urnas - FOTO: Foto: AFP
Leitura:

Eleitores de pelo menos dois países da América do Sul já começam a desenhar um novo quadro político no continente. Estamos falando do Chile, que elegeu Sebastián Piñera no último dia 17, e dos argentinos, que colocaram no poder o empresário Mauricio Macri, ambos identificados com uma agenda de ajuste fiscal e representantes de um pensamento inverso ao que governava os países vizinhos até então. Atualmente, a região tem pelo menos três presidentes que tentam passar longe da agenda da esquerda sul-americana – focados em uma política reformista –, se for incluído o brasileiro Michel Temer (PMDB).

Piñera e Macri foram eleitos como candidatos principais, enquanto Temer assumiu por causa do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Há uma tendência de eleger presidentes de centro-direita na região? “Não se pode afirmar que existe essa tendência. O que os eleitores desses dois países (o Chile e a Argentina) mostraram é que há um afastamento da tradicional esquerda”, explica o professor titular de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Marcos Guedes.

E outras variáveis contribuíram para isso, segundo ao menos quatro cientistas políticos e um economista escutados pelo

A economia mundial não desacelerou apenas para o Brasil. O Chile sofreu com a queda do preço das commodities (produtos agrícolas, como açúcar e soja, ou minérios, como ferro ou cobre) que ocorreu depois de 2012. Um dos principais produtos de exportação dos chilenos é o cobre. O que ocorreu lá foi que o País saiu de um crescimento médio da economia de 5% ao ano entre 2010 e 2014 para um aumento de 1,7% do seu Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado.

“Além do crescimento econômico abaixo do esperado, a imagem dos políticos no Chile estava degradada por causa da corrupção que abalou sobretudo alguns da direita”, conta o professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UNB) Adrián Albala, que possui nacionalidade chilena/francesa e morou na Argentina.
Já a Argentina passou por uma grave crise em 2013, que, de acordo com especialistas, começou com o calote da dívida em 2001 e se estendeu até 2014. A última eleição presidencial na Argentina ocorreu em 2015. Os hermanos passaram pelo menos 12 anos sob o comando do que os cientistas chamam de “populismo de esquerda” dos Kirchners. “A eleição do Macri foi uma consequência da crise de confiança contra os Kirchners, que tiveram maus resultados, como uma inflação de 30% ao ano”, resume Adrián.

CONSEQUÊNCIA

“O impacto econômico dessa eleição do Chile é pequeno. Já na Argentina estão começando a votar reformas econômicas que mudam a relação entre o privado e o público, a diminuição do tamanho do Estado, entre outras coisas”, relembra Guedes. Grande parte das medidas que estão sendo implantadas agora na Argentina e no Brasil foram implementadas pelo Chile nos anos 1980, durante a ditadura militar de Augusto Pinochet.

O Chile, argumenta Marcos Guedes, consegue ser mais estável do que a Argentina e o Brasil. E até mais civilizado. “Uma das primeiras coisas que Piñera fez logo depois que ganhou as eleições foi acenar para o candidato que perdeu no sentido de criar governabilidade. Isso demonstra maturidade política, diferente do Brasil”.

Segundo ele, o Chile também está criando uma tradição de alternância do poder. “Numa democracia, ninguém fica mais de 20 anos no poder. Tanto a socialista Michelle Bachelet como Piñera são ex-presidentes eleitos, e a alternância é saudável”, registra.

Últimas notícias