ELEIÇÕES 2018

Para onde vão os votos dos eleitores de Lula se ele não for candidato?

No Nordeste e nas classes C, D e E, Lula tem amplo apoio e pode influenciar de forma decisiva o voto do eleitorado

Paulo Veras e Renata Monteiro
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Paulo Veras e Renata Monteiro
Publicado em 04/02/2018 às 9:01
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
No Nordeste e nas classes C, D e E, Lula tem amplo apoio e pode influenciar de forma decisiva o voto do eleitorado - FOTO: Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
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“Só numa situação que eles prendam Lula e ele não possa de dentro da cadeia gravar uma live para apoiar alguém, Lula não teria condição de ter um candidato forte para colocar no segundo turno. Pode até não ser do PT”, afirmou o senador Humberto Costa (PT) em entrevista à rádio CBN na última semana. Sujeito a ter a candidatura presidencial barrada pela Lei da Ficha Limpa após a condenação a 12 anos de prisão na Lava Jato, o ex-presidente Lula (PT) continua ator decisivo na corrida eleitoral deste ano mesmo que deixe o páreo. Primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, o petista tende a influenciar o voto de parcela significativa do eleitorado, principalmente no Nordeste e nas classes mais pobres, vantagem que o PT deverá explorar.

Segundo o Datafolha, 35% dos eleitores de Lula declaram votar em branco, nulo ou não saber que candidato escolher no cenário em que o petista é tirado da lista de presidenciáveis. Outros 29% se dividem entre a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT). O restante se fragmenta em nomes como o do apresentador de TV Luciano Huck, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

Se não há um sucessor natural dos votos petistas, Lula se mantém um cabo eleitoral invejável. No Nordeste, 46% dizem que votariam com certeza em um presidenciável apoiado por ele. Entre os que ganham até dois salários mínimos, 36% afirmam ter convicção em escolher o candidato ungido por Lula.

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“O ex-presidente Lula, preso ou não, candidato ou não, será um ator estratégico da eleição de 2018. Embora toda essa chafurdação em torno do nome dele, ele sobrevive. E o lulismo também sobrevive sem ele. Isso significa que o eleitor vai procurar qual é o candidato que vai representar essa agenda defendida pelo PT e pelo lulismo. Quando esse nome aparecer, Lula passa a ser, como sempre foi, um forte cabo eleitoral”, projeta o cientista político Adriano Oliveira, professor da UFPE e especialista em pesquisas eleitorais.

Para o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC Rio, Ciro consegue herdar eleitores de Lula por ser um político do Nordeste, enquanto Marina leva vantagem por ser fundadora do PT e ter uma trajetória similar a de Lula. Apesar de acreditar que o ex-presidente terá influência no resultado da eleição, Ismael diz que é prematuro dizer quanto poder ele terá. “Se Lula estiver indicando Fernando Haddad no Nordeste, vai ter que explicar quem ele é, porque ninguém conhece. Não há um candidato que você possa dizer que é fácil fazer essa transferência. Pelo contrário, a transferência é difícil”, argumenta.

Na avaliação de Priscila Lapa, professora de Ciência Política da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), a transferência de voto de Lula é muito clara para os eleitores do Nordeste e das classes C, D e E porque foram esses segmentos que mais guardam uma memória positiva das duas gestões do petista como presidente. “Agora, a transferência não é tão matemática assim porque tem outras variáveis nesse cenário. Tem a perda de confiança de parte desse eleitorado no PT em função do que aconteceu no governo Dilma. E não necessariamente esse herdeiro vai ser do PT. O lulismo é muito maior do que o PT”, lembra.

PETISTAS

Pré-candidata ao Governo de Pernambuco, a vereadora do Recife Marília Arraes (PT) vê o alinhamento com Lula como importante para a estratégia eleitoral do PT no Estado. “A candidatura do PT faz parte do processo de defesa do presidente Lula e desse projeto que a população de forma geral está cada vez mais se dando conta de o quanto é importante. Nós tivemos vários anos de avanços sociais e, agora, em poucos anos é muito retrocesso. É isso o que está em pauta. O presidente Lula simboliza a ascensão da classe trabalhadora”, afirma.

Para o presidente do PT-PE, Bruno Ribeiro, o povo se identifica com Lula. “Nós não estamos trabalhando com o cenário de Lula não participar da eleição. Posicionando que a gente não quer especular com o cenário de ele não ser candidato, porque seria a aceitação da violação democrática, eu acho que esses números indicam que o governo de Lula incluiu o pobre e o Nordeste no orçamento. E o povo reconhece isso a ponto de votar nele ou em quem ele indique. Se ele decidir não ser candidato e indicar alguém, a força do que ele fez no Nordeste e no Brasil é tão grande que as pessoas votam em quem ele indicar”, defende.

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