Telefonia

Gigantes da internet põem teles na defensiva em seu próprio evento

Limitações técnicas em relação aos sistemas de telefonia em detrimento da demanda da internet vêm provocando reviravoltas no mercado da tecnologia

Da Folhapress
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Publicado em 02/03/2015 às 13:19
Foto: YOSHIKAZU TSUNO  AFP
Limitações técnicas em relação aos sistemas de telefonia em detrimento da demanda da internet vêm provocando reviravoltas no mercado da tecnologia - FOTO: Foto: YOSHIKAZU TSUNO AFP
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Organize o mais importante evento do setor, receba 85 mil convidados e faça um discurso unificado. Perfeita na teoria, a receita das empresas de telefonia exala cheiro de queimado nesta semana em Barcelona. O Mobile World Congress chega à décima edição na cidade espanhola em um momento particularmente delicado para seus promotores, acossados em diferentes batalhas.

No front da legislação, as teles acabam de sofrer uma derrota importante nos EUA. Na semana passada, a agência que regula o setor optou pela chamada neutralidade de rede, proibindo a existência de uma pistas lentas e rápidas na internet, como defendiam as operadoras.

"Os EUA estão trazendo legislação dos anos 30 para regular a banda larga", reclamou Anne Bouverot, a diretora-geral da GSMA, associação que congrega as teles, já na abertura do congresso, nesta segunda (2).

O presidente da Telefónica pediu ajuda governamental. "As teles precisam estar em equilíbrio com outros atores do mundo digital, e elas estão em desvantagem, porque têm que investir muito", afirmou César Alierta. "A regulação deveria ter como objetivo equilibrar o campo de jogo."

Alierta comanda uma empresa que teve 35% de queda no lucro no ano passado e fez o discurso de abertura do evento.

Os quase R$ 10 bilhões de lucro da Telefónica superam os R$ 8,5 bilhões ganhos pela companhia do executivo que está na outra ponta da agenda do congresso, fechando o primeiro dia: Mark Zuckerberg. Mas a questão é que o balanço do Facebook tem vetor inverso ao da tele espanhola --seu lucro quase dobrou de 2013 para 2014.

Não por acaso, boa parte das reclamações das teles concentrou-se na rede social, que lidera o tráfego móvel em várias partes do mundo, segundo estudo recente da Ericsson.

"O Facebook é um serviço de comunicação? Definitivamente é. Mas ele não é listado como um serviço de comunicação quando você olha a lei. Esse modelo é disruptivo", afirmou Timotheus Höttges, presidente da Deutsche Telekom.

O problema para as teles é que sua margem de manobra vem se estreitando, enquanto o investimento exigido para expandir a cobertura da internet não para de crescer.

No ano passado, as operadoras lançaram a ideia de uma identidade digital unificada, centralizada nos aparelhos celulares --ou seja, sob seu controle.

Desde então as teles conseguiram a adesão de apenas 16 operadoras em 13 países. Pouco perto do avanço das empresas que hoje dominam a identificação na internet. No ano passado, o Facebook aumentou em 13% seu número de usuários, chegando a 1,390 bilhão de pessoas. Já o Gmail se tornou o primeiro aplicativo com 1 bilhão de downloads em sua loja do Google.

O presidente da GSMA não ficou longe de jogar a toalha. "Vamos conseguir um "single sign on" [identificação unificada na internet]? Isso é difícil dizer", afirmou Jon Fredrik Bakssas.

BATALHA DOS APPS

Outra batalha até aqui perdida pelas teles é das lojas de aplicativos, dominadas por Google e Apple, que detêm 96% do mercado de sistemas operacionais de celulares.

Por ora as operadoras podem pouco mais do que fazer perguntas. "Por que não há portabilidade na vida digital? Como consumidor, eu tenho que pagar duas vezes pelo mesmo aplicativo [uma para o Google e outra para o Apple]", afirmou o presidente da Vodafone, Vittorio Colao.

Além disso, as teles não têm protagonismo no terreno dos pagamentos com celular, um jogo dominado por fabricantes como a Apple e por operadoras de cartão de crédito como a Visa e a Mastercard. Em Barcelona, um novo lance: a Samsung, maior fabricante de celulares do mundo, anunciou seu próprio sistema de pagamento.

Talvez por isso, o setor olhe com carinho para novos atores da internet que ainda não adquiriram a dimensão de Google e Facebook. "Cooperação com o Uber [aplicativo para buscar carros] e com o Airbnb [serviço de aluguel de imóveis], isso faz sentido", afirmou Höttges, da Deutsche Telekom.

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