'Terraplanista é quem não enxerga a emergência da agenda ambiental' diz Liana Cirne

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jamildo

Publicado em 29/01/2021 às 16:20
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Por Liana Cirne, vereadora do Recife

Em tempos em que as fontes realmente limpas de energia, como a solar e a eólica, se desenvolvem a passos largos em todo o mundo, ainda há negacionistasque insistem em ignorar os riscos ambientais que

envolvem a instalação de uma usina nuclear no Sertão pernambucano.

Como acertadamente destacou o deputado Isaltino Nascimento, somente por meio de uma Emenda à Constituição estadual seria possível a instalação da estação central da usina nuclear em nossas terras.

Terraplanista é quem é incapaz de enxergar a emergência de uma agenda ambiental para Pernambuco e para o País e não leva em consideração os números recentes do setor energético brasileiro. É quem nega que os povos quilombolas e indígenas da região são contra a usina.

É quem desconsidera o fato de o Brasil ter alcançado, em 2020, a marca de 15 mil MW de capacidade de geração elétrica a partir de usinas eólicas - mais do que a usina hidrelétrica de Itaipu - e que 80% dessa capacidade estão concentrados no Nordeste.

É quem esquece que Pernambuco, que hoje ocupa a 7ª posição no ranking nacional nessa modalidade de geração de energia, tem capacidade, sozinho, para gerar 15.330 MW de energia a partir dos ventos, além de 700 MW de energia solar.

E que isso é mais que o dobro da capacidade dos oito reatores nucleares previstos para a usina de Itacuruba. E mais importante, sem os seus graves impactos sociais e ambientais negativos.

Terraplanista é quem ignora que a energia nuclear é uma tecnologia que vem sendo abandonada em todo o mundo por causa dos seus riscos sociais e ambientais.

Planas são as cifras por trás dos interesses pseudo ambientais de quem hoje defende que uma usina nuclear seja construída em Pernambuco.


Foto: Roberto Soares/Alepe

Entenda a polêmica

Nesta quinta, o blog mostrou que Rogério Arcuri, recém-empossado presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), disse que a Central Nuclear de Itacuruba faz parte do programa de trabalho da entidade para 2021/2022.

O engenheiro pernambucano Carlos Mariz, vice da entidade, atuará no desenvolvimento de novas usinas nucleares no país, conforme determina o plano estratégico do Ministério de Minas e Energia, com inclusão de mais 8 usinas nucleares pós Angra3.

Se tudo der certo, serão iniciados este ano os levantamentos de dados sobre fundação, topografia, geologia, estudos hidrológicos, que antecedem a definição, por leilão, dos empreendedores que vão construir a usina.

Pois bem.

A discussão sobre a possível instalação de uma usina nuclear já rende debates na Alepe.

O deputado Isaltino Nascimento disse ser contra esse tipo de fonte de energia e afirma que a constituição estadual, no artigo 216, veda central nuclear em Pernambuco.

Ele diz que seria necessária uma tramitação no legislativo para aprovar emenda constitucional com no mínimo 30 votos em duas etapas. Em sendo aprovada na Alepe, o Governo do Estado ainda poderia vetar.

Hoje os defensores da instalação não têm número suficiente para aprovar uma emenda constitucional dessa natureza na casa.

O deputado Isaltino justifica seu posicionamento.

“Estamos ouvindo professores universitários, a arquidiocese, indígenas, quilombolas e trabalhadores rurais da região. Hoje sabemos de vários países que estão abandonando esse tipo de fonte de energia, que podem trazer efeitos sérios em caso de acidente. E Pernambuco tem potencial para formas mais inteligentes e seguras para produção de energia. No mais, a população de Itacuruba é contra esse tipo de empreendimento em seu território”, diz o deputado.

Outro lado

“O deputado está defasado da realidade mundial de produção de eletricidade. O mundo caminha para energia limpa e confiável. Razão pela qual a energia nuclear está em expansão. Vide governo Biden e vide o pai das baterias, o bilionário e visionário da Tesla, Elon Musk, falando do suprimento da grande demanda de eletricidade provocada pelos carros elétricos. Por outro lado a legislação sobre energia nuclear é da esfera federal. Recentemente o Estado de Sergipe , através da Procuradoria Nacional, tornou inócua a sua legislação estadual sobre restrição as nucleares. O negacionismo está em moda , aqui no Brasil, alguns advogam que a terra é plana”, rebateu Carlos Mariz.

“A população de Itacuruba não é contra a energia nuclear. Fiz palestra lá , em campo aberto, na quadra esportiva e percebi que a maioria era a favor. E os contras não tinham argumentos.Tem-se pesquisas também e percebam que, em toda sua história Itacuruba deve ter tido mais de 100 palestras contra e só uma a favor. A Igreja se mete e faz barulho junto com os “ índios” de lá”, acrescentou.

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