Deputados federais do PT veem 'página virada' e 'disputa normal' de Marília Arraes por Mesa Diretora da Câmara

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José Matheus Santos

Publicado em 05/02/2021 às 10:19
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Deputados federais do PT tem visto com naturalidade a disputa da deputada federal Marília Arraes (PT-PE) pelo cargo de Segunda Secretaria da Câmara Federal na votação da última quarta-feira (3). A parlamentar venceu a eleição em segundo turno na Casa.

Quatro parlamentares foram ouvidos pelo Blog ao longo da quinta-feira (4): José Airton Cirilo (PT-CE), Erika Kokay (PT-DF), Zeca Dirceu (PT-PR) e Henrique Fontana (PT-RS).

Com tons diferentes, os quatro deputados viram com naturalidade a disputa por vaga na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.

A candidatura avulsa de Marília Arraes à Segunda Secretaria da Câmara gerou reações no partido, como da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e, em Pernambuco, do ex-secretário estadual de Agricultura, Dilson Peixoto.

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Entenda o caso

Inicialmente, a petista era candidata do partido à Primeira Secretaria da Câmara. Marília Arraes foi candidata única ao cargo pelo PT. A votação chegou a ser realizada, no entanto, assim que assumiu a presidência da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL) anulou o bloco de apoio ao adversário Baleia Rossi (MDB-SP).

Lira alegou que o PT atrasou por 6 minutos o registro no bloco de apoio a Baleia. O Partido dos Trabalhadores alega que houve problema no sistema interno da Câmara. Com a anulação, Arthur Lira convocou a eleição para o dia seguinte. Como houve um impasse na Casa entre os dois lados, a eleição foi adiada para a quarta-feira (3) para que houvesse um acordo entre os dois blocos, o que aconteceu.

FOTO: FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

No acordo, o PT perdeu a Primeira Secretaria, um dos cargos mais importantes e responsável pelo Orçamento da Câmara, e passou a ter direito de indicação para a Segunda Secretaria, responsável pela emissão de passaportes diplomáticos e de relações internacionais da Casa.

Na manhã da quarta-feira, horas antes da votação, Marília teve a indicação partidária derrotada pela bancada, por 24 votos a 22. O indicado foi João Daniel (PT-SE). A deputada não foi a única a se lançar avulsa dentro do PT. Além dela, disputou o cargo o deputado Paulo Guedes (PT-MG).

Na votação, Marília Arraes foi para o segundo turno contra João Daniel, quando venceu o colega de bancada. Paulo Guedes ficou em terceiro lugar no primeiro turno e não avançou para a nova etapa.

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Colegas de bancada

Para o deputado José Airton Cirilo (PT-CE), a disputa na bancada do PT foi fruto da anulação inicial da Câmara feita pelo novo presidente da Casa, Arthur Lira.

"Arthur Lira, num ato autoritário na minha leitura e sem o menor tipo de respaldo, promoveu essa segunda eleição, foi aí que a bancada do PT, parte dela, porque mesmo eu votei para manter Marília, por 24 a 22 votos, mudou o candidato. Marília manteve o nome dela e ganhou a eleição de forma democrática e representativa", disse o deputado.

José Airton ainda acredita em erro na bancada do PT por ter rifado Marília como candidata oficial da legenda para a segunda eleição. "Se tem alguém que errou aí na minha leitura foi a bancada do PT, que numa decisão casuística mudou (a candidatura). Por que mudar? Alguns do partido mudaram, como a presidente Gleisi (Hoffmann, também deputada) e (o deputado José) Guimarães)", disse Cirilo.

Na última quarta, em fala ao jornal "Folha de S. Paulo", a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, disse que a conduta de Marília "rompeu" política interna do partido e que "terá de ser analisado pelas instâncias partidárias".

"Acho uma posição equivocada da presidente (Gleisi) na minha leitura porque Marília está amparada legalmente, regimentalmente, lamento essa posição da presidente Gleisi pois tenho o maior carinho e respeito por ela. Marília Arraes é muito respeitada na bancada do PT pela posição corajosa e guerreira na história dela", acrescentou José Airton. "Votei em Marília na reunião interna e nas duas votações na Câmara. Votei e fiz campanha para ela", frisou.

Em entrevista ao Blog sobre o assunto, o deputado Henrique Fontana (PT-RS) se limitou a classificar a disputa como normal. “Acho que é uma página virada, as disputas são normais”, afirmou.

A deputada Erika Kokay disse acreditar que a conduta de Marília não tenha sido adequada internamente, mas atribuiu o impasse interno à anulação da primeira votação para Mesa Diretora feita pelo presidente da Câmara, Arthur Lira.

“Creio que há muito respeito na bancada à deputada Marília. Acredito que, ainda que não tenha sido adequada a postura da deputada Marília, eu considero que foi em meio a um processo em que houve um golpe, mas é preciso ver que houve 3 candidaturas”, disse Erika, relembrando também a candidatura avulsa do deputado Paulo Guedes (PT-MG), que também disputou por conta própria, assim como Marília Arraes.

“Entendo plenamente a posição da deputada Marília, que mostrou a sua força, em uma demonstração do respeito do conjunto da Câmara para com ela. O que se tem que questionar não é o fato do PT ter 3 candidatos, (mas sim que) houve um golpe e a nossa candidata era a Marília (na primeira votação). Isso não significa nenhum racha no PT. Tudo isso só aconteceu em função do golpe que nós sofremos, em uma tentativa de tirar o PT e a oposição da Primeira Secretaria”, afirmou Erika.

A deputada do Distrito Federal também considera que Marília Arraes tem tido posições convergentes com o PT.

“Não vejo qualquer posição dela que divirjam dos posicionamentos do PT, ela tem ocupado posições de destaque no partido e, por exemplo, representa o PT na Secretaria de Mulher da Câmara dos Deputados”, disse.

Sobre os rumores de uma aliança de Marília Arraes com partidos do Centrão, próximos ao novo presidente Arthur Lira, para a eleição da Mesa Diretora, os deputados Erika Kokay e Zeca Dirceu refutaram em suas avaliações.

"Não acredito que isso tenha acontecido, que ela tenha feito qualquer tipo de acordo com qualquer segmento que seja contra os princípios do PT”, disse Erika.

"Não acho razoáveis essas informações que surgem de alianças dela com Arthur Lira. Inclusive ela fez falas críticas ao Arthur Lira, em várias ocasiões durante esse processo eleitoral", disse Zeca Dirceu à reportagem.

"Acho um erro transformar isso numa crise, numa grande polêmica. Marília disputou, venceu e a vitória é legitima. Nossa prioridade tem que ser a luta por vacina para população, auxílio emergencial", afirmou o deputado federal do PT do Paraná.

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