O Caldeirão vai ferver? Por Victor Missiato

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jamildo

Publicado em 12/02/2021 às 16:30
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Por Victor Missiato, em artigo enviado ao blog

Em mais um ano que antecede as eleições presidenciais, o nome do apresentador Luciano Huck desponta como uma possível terceira via na política brasileira.

Paulista, radicado no Rio de Janeiro, Huck vem intensificando sua participação política através de artigos em grandes jornais e encontros com diversas lideranças brasileiras.

Em seu último artigo, intitulado "Apesar de...", o apresentador da TV Globo foi mais incisivo nas críticas ao bolsonarismo.

Ao invés de expor uma agenda de desenvolvimento como vinha fazendo em seus textos programáticos, Huck afirmou que "o Brasil será vacinado contra a Covid mesmo com as omissões, os erros e os arbítrios do governo federal".

Em outra passagem, Huck faz um aceno às Forças Armadas ao escrever que elas "não têm um só sobrenome e nem são reféns do familismo".

Ao final de seu artigo, o apresentador engajado caracteriza a presidência atual como "desprovida de razão e de coração", que não terá vida longa e atuará como revitalizadora da sociedade civil em detrimento do "messianismo".

Parafraseando Chico Buarque, braço intelectual do lulismo no Brasil, Huck temporaliza a "hora de ouvir, unir e agir", marcando o tempo da sua política.

Não se trata da primeira vez que Huck se coloca como um protagonista do debate político brasileiro.

Em 2018, ele aspirou um voo maior, mas suas asas se recolheram frente à polarização estridente e hegemônica entre bolsonarismo e lulo-petismo.

Seu perfil mais próximo naquela campanha, representado por Geraldo Alckmin, agregou apenas 3% do eleitorado.

Próximo ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Huck pode ser considerado um tucano "raiz". Sua adesão a um pacto socialdemocrata no Brasil dialoga com diversas e divergentes esferas da cultura política nacional.

Adepto ao liberalismo econômico, Huck constantemente encampa bandeiras da esquerda identitária.

Criticado por Lula e Ciro Gomes, seu espaço é o da centro-direita que vem se distanciando de Bolsonaro após a saída de Sérgio Moro e o aumento dos preços nos supermercados e postos de gasolina; do centro, que busca uma referência após o derretimento de Marina Silva, Amoêdo e Alckmin; e parte da centro-esquerda renovada, que vai de Tabata Amaral e João Campos, até Flavio Dino.

Somados, estamos falando de 20 a 30% do eleitorado brasileiro, número suficiente para competir rumo ao segundo turno, em 2022.

O primeiro semestre de 2021 será decisivo para Huck.

Enquanto DEM, parte do PSDB e Cidadania disputam a adesão de Huck na liderança de um bloco terceira via, Lula volta ao cenário político com acenos do STF e um chamado para colocar o bloco na rua com Fernando Haddad; Ciro Gomes continua dando suas voltas em círculos através de suas contabilidades fantasiosas; Dória luta para nacionalizar sua campanha demasiadamente paulista, apesar das fracassadas experiências de José Serra e Geraldo Alckmin; e Bolsonaro, imerso a um desafio espinhoso de controlar a inflação, domar o apetite do Centrão e manter seu terço do eleitorado, proporção esta suficiente para alcançar o segundo turno, preferencialmente contra um candidato ligado ao PT.

Diante da atual conjuntura pandêmica, Huck encontra-se em uma encruzilhada: substituir Faustão no domingo da TV brasileira, e se colocar definitivamente como o apresentador mais importante do país até 2026, quando Bolsonaro e Lula estarão definitivamente fora do jogo, ou ferver de vez seu Caldeirão político e se colocar no rol dos presidenciáveis "da arte do possível", representados por Emmanuel Macron, Armin Laschet e Joe Biden, este último, saudado efusivamente por Huck, após sua vitória nos EUA.

Victor Missiato é doutor em História, professor de História do Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas Psicossociais sobre o Desenvolvimento Humano (Mackenzie/Brasília) e Intelectuais e Política nas Américas (Unesp/Franca).

 

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