Dom Odilo Scherer: 'Enxergo o risco de uma virada política para uma ditadura'
No Roda Viva desta segunda-feira (12/4), Dom Odilo Scherer, cardeal-arcebispo de São Paulo, falou sobre as consequências do radicalismo na sociedade neste momento. Ele disse acreditar que é um risco esse tipo de pensamento e que isso pode desencadear em uma ditadura.
"Enxergo o risco de uma virada política para uma ditadura, ou então uma tendência a um certo fascismo que se vai afirmando sempre mais", disse o entrevistado.
Sobre as declarações do presidente Jair Bolsonaro e seus aliados, Scherer comentou que ajudam a afirmar tendências de polarização e de fanatismo.
Segundo ele, o discurso piora quando se mistura com religião. "Instrumentalização da religião em função de afirmação de partido e de ideologia".
Quando questionado pela jornalista Patrícia Zorzan sobre sua avaliação em relação à pandemia no País, ele foi crítico.
"O governo federal não adotou em tempo as medidas que deveriam ser tomadas. Isso, naturalmente, está trazendo suas consequências. Mas é um problema que temos que resolver juntos e com muita paciência. Ainda é tempo de tomar medidas para que as coisas não piorem. Mesmo com uma demanda muito grande, havia a possibilidade da imunização acontecer de maneira mais rápida".
Dom Odilo Scherer concorda com a medida que impede a presença do público na missa diante do alto índice de mortes por complicações da Covid-19.
"Nós estamos torcendo e contribuindo para que a pandemia, o quanto antes, seja vencida e nós possamos ter um momento mais normal na nossa vida", disse.
Ainda respondendo à jornalista Patrícia, agora sobre sua opinião acerca do acesso às armas por parte de cidadãos comuns, o líder religioso criticou a media.
"É um grande engano achar que isso é satisfazer o direito da população. É um grande risco armar a população, e amanhã mesmo isso pode se voltar contra ela. Isso deve ser visto como um grande risco para a paz social no Brasil", declarou.
Ao mencionar a inclinação cristã do presidente Jair Bolsonaro, Diego Amorim, repórter do O Antagonista, questionou se as frases do chefe do executivo de desprezo aos mortos pelo coronavírus estavam de acordo com o cristianismo.
"Isso não só não concorda com o cristianismo como, humanamente, manifesta pouca sensibilidade e pouca polidez. Não se espera isso de uma autoridade que deveria dar um outro tipo de exemplo de postura", afirmou o arcebispo.