Com Lula elegível, PSB vê 'maiores chances' de aliança com PT em Pernambuco em 2022. Dobradinha preocupa PDT, de Ciro Gomes

Imagem do autor
Cadastrado por

José Matheus Santos

Publicado em 16/04/2021 às 10:58
X

Após o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) confirmar, por 8 votos a 3, a anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Operação Lava Jato, o PSB de Pernambuco passou a ver maiores chances de uma composição em 2022 com o petista no estado.

Fontes ouvidas pelo Blog antes da sessão desta quinta do STF estavam cautelosas quanto à decisão final do STF, se haveria mesmo a confirmação das anulações, o que veio a se confirmar.

LEIA TAMBÉM:

> Lula e Paulo Câmara debateram eleições 2022 em conferência virtual com cúpula do PT e PSB

> Por maioria, Plenário do STF mantém anulação das condenações de Lula, que fica livre para disputar eleições em 2022

> ‘Se alguém roubou que seja preso’, diz Lula

Para um deputado federal do PSB, ouvido nesta sexta, com a ratificação pelo plenário do Supremo da decisão do ministro Edson Fachin, o caminho está pavimentado para uma candidatura de Lula à presidência da República, bem como para um arco da alianças que inclua o PSB, que diz ter como uma das prioridades em 2022 derrotar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que deverá tentar a reeleição.

"O PSB tem como prioridade, assim como outros partidos de oposição, derrotar Bolsonaro na eleição de 2022. Primeiro, devemos discutir programas e propostas para em seguida discutirmos nomes. No caso de Pernambuco, não descartamos aliança com Lula ou com qualquer outro nome do PT, pois estamos abertos e temos uma ligação histórica de muitas eleições. Acho possível uma aliança", afirma este deputado, sob reserva de fonte.

> Lula bate recorde de interações nas redes sociais, mas Bolsonaro lidera em seguidores

Um integrante da Direção Nacional do PSB, também sob reserva, diz que, com a confirmação pelo plenário do STF da decisão de Fachin, as chances de aliança do partido com o PT "aumentam". "Há mais chances, claro, não se pode negar o potencial eleitoral de Lula. Mas não é fato consumado, tem muito tempo até 2022, entretanto, não há portas fechadas no PSB. (Portas fechadas) Só para Bolsonaro e autoritários como ele".

Para 2022, o PSB tem como provável candidato a governador o ex-prefeito do Recife e atual secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Geraldo Julio, na tentativa de suceder Paulo Câmara.

LEIA TAMBÉM:

> Lula e Bolsonaro lideram pesquisa presidencial em SP, Doria marca 4%

> Suspeição de Moro não implica em absolvição de Lula, diz especialista

Na semana passada, conforme o Blog revelou em primeira mão, o ex-presidente Lula e o governador Paulo Câmara se reuniram de forma virtual para debater a conjuntura política e cenários com vistas à próxima eleição.

O encontro foi interpretado como uma sinalização de que o ex-presidente estaria disposto a retomar aliança com o PSB, o que ocorreu nas eleições de 2018, por exemplo, apesar da disputa dura do partido com o PT no segundo turno das eleições para a Prefeitura do Recife em 2020.

Integrantes do PT Nacional trabalham para retomar as pontes com o PSB e veem que o prefeito do Recife, João Campos, pode ter um dos focos de resistência a uma nova aliança entre as duas legendas. Entretanto, membros do Diretório Nacional petista avaliam que Lula tem uma boa relação com a família do ex-governador Eduardo Campos e que isso poderia ser um caminho para a retomada de alianças políticas.

O PT, por sua vez, até antes mesmo da decisão do STF sobre Lula, tinha como nome mais cotado o de Humberto Costa. Nesse caso, o objetivo de lançar a postulação do senador seria para fazer um palanque para a candidatura do PT na eleição presidencial. Agora, com Lula elegível - e se isso se efetivar até as convenções partidárias do próximo ano, os planos devem priorizar uma aliança em torno da factível candidatura do ex-presidente ao Palácio do Planalto.

Lula deve intensificar nos próximos meses os diálogos com partidos como PSB, MDB e PSD. Ainda que haja alas nessas legendas contrárias à eventual aliança com Lula, o PT entende que é possível firmar alianças em estados.

Como Pernambuco é o principal estado sob o comando do PSB, uma aliança em Pernambuco seria prioridade para o PT em troca de um apoio à postulação de Lula no âmbito nacional.

No PSB local, a avaliação é que uma aliança em Pernambuco com o PT é possível e uma aliança entre Geraldo Julio e Lula traria benefícios eleitorais para ambos.

Na composição, o PT poderia sacrificar Humberto Costa para governador, que até o momento não confirmou publicamente a intenção de disputar, em prol de um apoio do PSB, ou de parte dele, a Lula no âmbito nacional.

Conforme revelou o Blog em março e em apurações nesta sexta-feira, a avaliação de parlamentares do PSB é de que, com a alta popularidade de Lula no estado, sobretudo no interior, a eleição de Geraldo Julio (PSB) para governador ficaria mais segura, diferentemente de uma aliança com o PDT, de Ciro Gomes - menor potencial de votos no estado em relação a Lula, historicamente.

"Quem traria mais benefícios para o nosso palanque? Uma aliança com Ciro Gomes ou com Lula, sendo candidato?", resumiu um integrante do PSB de Pernambuco ainda em março ao Blog.

No mês passado, como mostrou a reportagem, a fala de um deputado do PSB, de outro estado, reforça a força do grupo de Pernambuco no partido. Este parlamentar é contrário à aliança do PSB com o PT e defende um movimento em prol de nomes de centro, como Luciano Huck. "O momento pede equilíbrio", afirmou. Entretanto, o parlamentar admitiu, na ocasião: "quem comanda o PSB é o grupo de Pernambuco".

PDT acende alerta

Com a ratificação do STF ao anular as condenações de Lula, acompanhantes da cena política local avaliam que um dos maiores prejudicados poderá ser o PDT, que pretende lançar como candidato a presidente o ex-ministro Ciro Gomes.

Pedetistas seguem aliados do PSB em Pernambuco, tanto no Governo do Estado como na Prefeitura do Recife. Na capital, inclusive, a vice-prefeita é a pedetista Isabella de Roldão.

O palanque do PSB em Pernambuco está no radar do PDT para ser base eleitoral de Ciro Gomes no estado. Com Lula no páreo, um dirigente local pedetista afirma: "o alerta acendeu, mas vamos seguir aliados do PSB. 2022 deve ser resolvido em 2022".

O PDT tenta passar por um processo de fortalecimento em Pernambuco e trabalha para ampliar o número de deputados estaduais e federais. A legenda tem atualmente apenas 1 deputado estadual e 2 federais e pretende ampliar o número de parlamentares, sobretudo na Assembleia Legislativa em 2022. 

Entretanto, dirigentes da sigla veem dificuldade em isso acontecer em eventual rompimento com o PSB meses antes da eleição de 2022.

A aliança com o PSB é tratada como "plano A" do PDT. Em 2020, os dois partidos estiveram juntos em eleições de capitais, como Maceió, Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, com a dobradinha de João Campos e Isabella de Roldão.

Acordão em 2018

Em 2018, o PSB não apoiou o PDT e ficou “neutro” na eleição presidencial. Em Pernambuco, estado do grupo mais forte do PSB, os pessebistas apoiaram Fernando Haddad (PT) para presidente, em 2018. Dois anos antes, o PSB apoiou o impeachment da então presidente Dilma Rousseff.

PT e PSB fizeram acordo de bastidor em 2018. O PT retirou a pré-candidatura Marília Arraes para o Governo de Pernambuco e apoiou Paulo Câmara. E o PSB rifou aliança provável com Ciro Gomes e apoiou o PT em Pernambuco.

O palanque em Pernambuco, além de Paulo Câmara e da vice Luciana Santos (PCdoB), juntou Humberto Costa (PT) e Jarbas Vasconcelos (MDB), que foram candidatos e eleitos para o Senado Federal.

Em 2020, no Recife, PT e PSB estiveram em campos opostos. O PSB lançou João Campos, com apoio do PDT, e o PT lançou Marília Arraes, que perdeu no segundo turno para o filho do ex-governador Eduardo Campos.

Tags

Autor