Polícia faz buscas e mira empresa do Recife suspeita de praticar golpes em oferta de vacinas a 20 prefeituras do Brasil

Imagem do autor
Cadastrado por

José Matheus Santos

Publicado em 22/04/2021 às 8:32
X

Uma empresa do Recife que ofereceu doses da vacina de Oxford/AstraZeneca a pelo menos 20 prefeituras de todo o Brasil é alvo de mandado de buscas e apreensão na Operação Sine Die - sem data, em latim - nesta quinta-feira (22).

Ao todo, são oito mandados de busca e apreensão cumpridos em Pernambuco por determinação do juiz Bruno Monteiro Ruliere, da 1ª Vara Criminal Especializada do Rio de Janeiro.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro afirma se tratar de um golpe. Segundo a Delegacia de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro do estado fluminense, a Montserrat Consultoria, com sede no bairro de Casa Forte, Zona Norte do Recife, dizia ter um lote de meio bilhão de doses do imunizante, a US$ 7,90 (R$ 44) cada uma, mas que jamais seriam entregues.

LEIA TAMBÉM:

> Vacinação contra a covid-19 em pessoas com comorbidades deve ser feita em ordem decrescente de idade, orienta Ministério da Saúde

A operação foi realizada com apoio da Polícia Civil de Pernambuco e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

A investigação ainda não descobriu se algum município chegou a pagar à organização.

“Nas reuniões com os prefeitos, eles se passavam por representantes da Ecosafe Solutions, na Pensilvânia (EUA). Eles alegavam que essa empresa americana recebeu 500 milhões de doses por ter financiado os estudos da vacina”, explicou o delegado Thales Nogueira em entrevista.

O inquérito da Operação Sine Die foi instaurado políticos de Barra do Piraí, no interior do Rio, desconfiarem da empresa e as formas de negociação após receberem uma oferta. Eles acionaram agentes da Polícia Rodoviária Federal, que fizeram contato com os investigadores da Delegacia de Combate à Corrupção da Polícia Civil fluminense.

LEIA TAMBÉM:

> Expectativa por decisão do Governo de Pernambuco sobre funcionamento de comércio e demais atividades econômicas

Uma reunião de oferta de doses foi gravada, com autorização da Justiça.

Na decisão que expediu os mandados, o juiz Bruno Monteiro Ruliere afirmou que a Oxford/AstraZeneca não realizou qualquer transação de venda de imunizantes para o mercado privado e entes municipais ou estaduais.

“Foi apurado que a pessoa jurídica citada [Ecosafe] não tem como finalidade social de venda de vacinas e, segundo informações do Consulado Americano, tem sido utilizada para diversas fraudes”, escreveu o magistrado, segundo apurou a TV Globo.

As doses em produção pelo laboratório AstraZeneca estão destinadas a consórcios internacionais, como o Covax Facility, e contratos com países. Não há doses remanescentes para serem comercializadas.

Ainda de acordo com a Polícia Civil do Rio de Janeiro, os contratos apresentados pela Montserrat pediam que as cidades realizassem o pagamento antecipadamente via “swift” ou por carta de crédito irrevogável no momento da suposta postagem das doses em Londres. Essas operações facilitam a remessa para o exterior e dificultam a repatriação dos valores.

Entre os municípios que receberam a oferta estão Duque de Caxias e Barra do Piraí, no Rio de Janeiro, Porto Velho, em Rondônia, Gramado, no Rio Grande do Sul, Mazagão, no Amapá, e 25 cidades que integram a Comunidade dos Municípios da Região de Campo Mourão, no Paraná.

Porto Velho, capital de Rondônia, chegou a reservar R$ 20 milhões para a compra das vacinas. O acordo passa por uma inspeção do Tribunal de Contas do Estado de Rondônia (TCE-RO). O dinheiro está bloqueado e só seria liberado com a remessa embarcada.

Tags

Autor