Com Juliette e Gil do Vigor, Nordeste vence e derruba preconceito

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Publicado em 05/05/2021 às 15:40
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Por Terezinha Nunes, em artigo enviado ao blog

“ O nordestino é, antes de tudo, um forte” escreveu Euclides da Cunha em sua obra “Os Sertões”. Sua frase virou ícone da literatura brasileira e, desde que foi criada, tem servido para explicar porque, mesmo vivendo em uma região tão inóspita, o nordestino resiste e se mantém de pé.

Apesar desta força, quem nasce no Nordeste aprende, desde cedo, que, em um país onde a desigualdade social e econômica impera, o preconceito contra os que não fazem parte do chamado jocosamente “andar de cima”, vão pro resto da vida ter que vencer, além da distância econômica, as barreiras impostas pelos que, não tendo argumentos, usam das diferenças de linguagem e de sotaque para tentar desqualificar seus concorrentes.

De tempos em tempos, porém, o feitiço vira contra o feiticeiro, como fala sabidamente a linguagem popular.

Esta semana isso se concretizou e ganhou a mídia tradicional e as redes sociais quando dois nordestinos, o pernambucano “Gil do Vigor” e a paraibana Juliette Freire, saíram consagrados do reality show Big Brother que, muito em função da pandemia, foi acompanhado em quase todos os lares brasileiros e comentado em toda ponta de rua.

Mesmo dividindo o noticiário com a tragédia da pandemia que matou, justo nesta semana, o ator Paulo Gustavo causando uma comoção nacional, a façanha dos dois protagonistas do BBB não passou despercebida.

Como Gil e Juliette chegaram ao topo do programa disputado também por “celebridades” do show business e influenciadores digitais famosos pelo sucesso na Internet?

Pode-se dizer que uma das formas de abrir brechas no pensamento preconceituoso é a cultura e nesse patamar o Nordeste tem história e experiência pra dar e vender. Isso sem falar na perspicácia herdada dos cancioneiros e repentistas populares que improvisam versos não só para contar histórias como para responder, com ironia, as provocações do adversário.

“Rir é um ato de resistência” ensinou Paulo Gustavo em sua última mensagem aos brasileiros. Foi aí, pelo riso, pelas brincadeiras, pelas “cachorradas”, como falou, que Gil do Vigor, oriundo de bairro periférico do Grande Recife, penetrou no programa, derrubou barreiras inclusive sexuais (outro motivo de preconceito) e passou a sua verdade de resistência como doutorando da UFPE, aprovado no teste de duas conceituadas universidades norte-americanas.

De fininho, mesmo errado, como disse, Gil virou celebridade nacional apesar de não ter sido um dos três primeiros mais votados.

Juliette que não contava com os dotes de Gil para abrir, com jeito, as portas fechadas, enfrentou o preconceito de frente. Não deixou nada sem resposta, rebateu cada comentário, cada alfinetada que foi desferida. Ganhou a preferência do público de fora e chegou lá.

Não há como negar que Gil e Juliette começaram a vencer quando outro preconceito, o racial, foi derrotado pelo público, mandando para casa os participantes que foram às vias de fato com o protagonista negro Lucas, expulso até da mesa de refeições

Estava patente que os telespectadores não iam tolerar que o mesmo que infelicitou Lucas fosse usado contra os demais e foi aí que os nordestinos mandaram ver e acabaram de enterrar a mentalidade tacanha dos que, mesmo com tudo que têm presenciado, ainda acham que a intolerância é caminho a ser seguido.

Aprenderam que não. Duramente, mas aprenderam.

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