Gerente-geral da Pfizer diz que governo ignorou em agosto de 2020 oferta de 70 milhões de doses de vacina

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José Matheus Santos

Publicado em 13/05/2021 às 12:56
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O gerente-geral da farmacêutica Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, afirmou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 no Senado que o governo brasileiro não respondeu às propostas de contrato da compra dos imunizantes, sendo a primeira delas em 15 de agosto de 2020, de 70 milhões de doses.

Ao responder às questões do relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), Murilo disse que a negociação foi feita com o Ministério da Saúde, em especial com o ex-secretário-executivo Élcio Franco, mas houve contatos também com representantes de outros órgãos, como o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o ex-secretário de Comunicação Social Fábio Wajngarten, além de parlamentares, como os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-RO), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para tratar sobre a venda de vacinas contra a Covid-19 para o governo brasileiro. A negociação de vacinas com a Pfizer foi uma das contradições do depoimento de Wajngarten.

Sobre o encontro com o Wajngarten , Murillo disse que se reuniu com o ex-secretário esperando algum tipo de "coordenação" por parte dele. Apesar disso, Murillo afirmou que as negociações do contrato se deram somente com representantes do Ministério da Saúde.

"Nossa negociação foi com o Ministério da Saúde. As conversações com o senhor Fábio Wajngarten, em nosso entendimento, foram de possível coordenação dele, mas eu não conheço o funcionamento dos órgãos governamentais e não posso exatamente indicar a função das diferentes pessoas do governo. Mas quero enfatizar que nossa negociação foi feita com o Ministério da Saúde", afirmou o executivo.

Wajngarten disse ontem à CPI que seus encontros com representantes da Pfizer foram registrados em sua agenda oficial, mas a agenda de Wajngarten disponível no site do governo federal não traz nenhum registro sobre as reuniões citadas por ele à CPI. Em outra contradição, Wajngarten disse não ter discutido sobre os preços que seriam cobrados pela Pfizer pelas doses a serem fornecidas ao Brasil caso o acordo fosse firmado.

Em entrevista concedida à revista "Veja", no entanto, Wajngarten dá a entender claramente que ele teve, sim, acesso aos preços negociados pela farmacêutica com o governo brasileiro. Em determinado trecho, ao elogiar a postura da empresa, o ex-secretário diz que as negociações das quais ele participou teriam avançado e a empresa teria oferecido um valor abaixo de US$ 10 por dose. O valor é inferior aos US$ 10 dólares pagos pelo Ministério da Saúde no primeiro contrato que prevê a entrega de 100 milhões de doses ao governo brasileiro.

Carlos Bolsonaro

Renan questionou o ex-gerente-geral da Pfizer sobre a suposta participação do assessor da Presidência da República para assuntos internacionais, Felipe Martins e de um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), da cidade do Rio de Janeiro, de reuniões com representantes da farmacêutica com o então secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten em dezembro de 2020. A reunião teria o objetivo de facilitar as negociações entre a empresa e o governo brasileiro para o fornecimento de vacinas contra a Covid-19. O relator chegou a ameaçar convocar mais representantes da Pfizer para obter a resposta.

Calheiros indagou se Murillo tinha conhecimento de que Martins e Carlos Bolsonaro teriam participado das reuniões realizadas por Wajngarten no Palácio do Planalto sobre o acordo. Murillo respondeu que ele não tinha informações sobre todos os participantes das reuniões realizadas nos dias 7 e 9 de dezembro no gabinete de Wajngarten.

"Eu sei da parte da Pfizer, que foram a diretora jurídica Shirley Meschke, e a pessoa de assuntos corporativos, mas não sei de parte da Secom, em adição a Fabio Wajngarten, que outras pessoas participaram", respondeu.

Diante da imprecisão da resposta, Renan Calheiros disse que poderia convocar as duas diretoras da Pfizer para depor. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), no entanto, pediu que Murillo tentasse obter a informação ao longo da sessão e, assim, evitar que as duas fossem convocadas. Murillo disse que iria tentar obter os dados até o final do seu depoimento.

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