SUSPENSÃO DA POLÍCIA CIVIL

Advogado da associação dos delegados sai em defesa de Patrícia Domingos: 'ação do PSB expõe ciúmes com pitadas de perseguição'

Delegada levou suspensão da Polícia Civil de Pernambuco por 'faltar com a verdade'.

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José Matheus Santos

Publicado em 20/07/2021 às 10:10 | Atualizado em 20/07/2021 às 10:39
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Por Rodrigo Almendra, advogado criminalista, da associação dos delegados, em artigo enviado ao Blog

É bastante óbvio, especialmente para quem traz no currículo o combate ao crime e às injustiças, que nenhuma condenação — ainda que correcional — passará livre da interposição dos recursos cabíveis e, se necessário, da judicialização das ilegalidades que ali se acumulam.

Todavia, a condenação da Delegada Patrícia pela inexistente transgressão disciplinar de “faltar com a verdade” causou perplexidade além do jurídico. Explico: reprimida por enaltecer o trabalho da DECASP, extinta de supetão e com uma canetada, a servidora lastimou em uma de suas entrevistas: “Pernambuco nunca tinha enfrentado a corrupção antes da DECASP”. Assim, enfatizou o seu amor aos anos em que esteve à frente daquela importante Delegacia especializada.

E isso causou ciúmes aos burocratas e aos fiscais das etiquetas funcionais: “como nunca se combateu corrupção antes? Isso é uma mentira. Puna-se a mentirosa!”. Não é bem assim. Quando alguém casa e faz juras apaixonadas, dizendo que nunca amou tanto como agora, não quer dizer (ao pé da letra) que o amor era de todo desconhecido no coração do nubente. É bem verdade que se admite, ao ex-namorado rejeitado, afogar-se em lágrimas e fazer garçom de psicólogo. Ao rejeitado, persiste a dúvida: “então, se ela nunca soube o que era amar, o que fui para ela?”

O corrosivo pigarro ciumento parece ter se apoderado dos corregedores da PCPE: “Como assim, Dra. Patrícia? E as lutas que travamos no combate aos crimes do Título XI, foi tudo uma mentira?” Calma, pessoal. É que nunca se fizera tanto, até então, no combate ao crime de colarinho branco. A DECASP, sozinha, jogou baygon no esgoto habitado por baratas corruptas que se julgavam absolutamente intocáveis. A fala da Delegada Patrícia, portanto, nem de longe foi mentirosa. Assim como não é falsa a jura de quem casa, anunciando ter finalmente encontrado o amor. A exaltação do que ressoou extraordinário não nega o que foi apenas razoável. E isso é fácil de entender.

E sobre as acusações de “inércia”, de “permitir a prescrição de inquéritos”, de “causar danos às investigações”? Destas, como esperado, ela foi absolvida, juntamente com outros importantes Delegados que também tiveram suas delegacias fechadas e sofreram as mesmas acusações. Ao menos em relação à reserva do possível, os inspetores da correição ponderaram o óbvio: todas as Delegacias do Estado de Pernambuco possuem acervos tão antigos que, quem os assumir, estará fatalmente propenso a ser responsabilizado pelos crimes prescritos e não solucionados.

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O advogado da associação dos delegados, Rodrigo Almendra - Divulgação

Mas voltemos a falar de ciúmes corporativos que motivam punições injustas contra servidores exemplares. Não há dúvidas de que a candidatura da Delegada Patrícia, disposta a fazer ainda mais no combate à corrupção, inflamou o ego dos bedéis, censores e inquisidores da Corregedoria Geral: “como ela diz que vai fazer mais e melhor se já estamos fazemos tudo que é possível?”. Novamente é preciso ter calma, caro comandante do zepelim brilhante da Boa Vista. Deixe-me lembrar: foram tantas as operações deflagradas pela Delegada Patrícia Domingos, de notória qualidade e resultados visíveis, que fez o esforço de outrora parecer pequeno. A fala da Delegada passa longe de “faltar com a verdade”. A punição recebida, todavia, flerta com a censura, o autoritarismo e a incapacidade de lidar com ciúmes.

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