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Furacões de agosto

CPI da Pandemia volta agora no começo de agosto

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Jamildo Melo

Publicado em 29/07/2021 às 21:08 | Atualizado em 29/07/2021 às 21:13
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Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog

Desde o suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954, o mês é tido como azarado na política brasileira. A depender das investigações da CPI da Covid, agosto de 2021 vai confirmar a lenda.

A comissão do Senado irá retomar as sessões no próximo dia 3 e seu potencial de gerar tumulto na conjuntura eleitoral é incalculável.

O objetivo da CPI é identificar os responsáveis pela tragédia da pandemia no país, que já superou 550 mil mortos. Entre outros, estão na fila para depor Ricardo Barros, líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados; o empresário Francisco Maximiano, presidente da Precisa Medicamentos, contratada para fornecer vacinas ao Ministério da Saúde; o tenente-coronel Hélcio Almeida, presidente do Instituto Força Brasil; o tenente-coronel Marcelo Blanco, o lobista Guilherme Odilon e o reverendo Amilton Gomes de Paula, presidente da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários, uma instituição bolsonarista.

Haverá reinquirições do ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, e do ex-secretário executivo do Ministério, coronel Élcio Franco. Serão marcados o depoimento de Onyx Lorenzoni, ministro do Trabalho, e uma acareação entre a diretora da Precisa, Emanuela Medrades e o servidor do Ministério Luis Ricardo Miranda – o primeiro a denunciar o escândalo da compra de vacinas superfaturadas.

Desse caldo grosso, a ser remexido pelos senadores da CPI, não há como sair um refresco para o presidente da República. À exceção do servidor Luis Ricardo Miranda, todos os demais depoentes contribuíram para que se estruturasse, no Ministério da Saúde, o que pode ser o maior esquema de corrupção no governo de Jair Bolsonaro.

O deputado Ricardo Barros, por exemplo, terá de explicar o seu empenho pessoal em aprovar projeto de lei que facilitou a importação da vacina indiana Covaxin. Élcio Franco, por que o preço do contrato para o fornecimento dessa vacina, a 10 dólares a dose, subiu para 15 dólares na primeira fatura. Caberá ao reverendo Amilton Gomes de Paula explicitar seu imenso acesso aos gabinetes do Ministério, a ponto de se envolver em operação de importação de vacinas no valor de 400 milhões de dólares.

A tenebrosa sombra da corrupção também encobre o ex-ministro Eduardo Pazuello, flagrado ao negociar, com uma empresa de Santa Catarina, no interior do Ministério da Saúde, a compra de 30 milhões de doses da vacina chinesa Sinovac. As partes concordaram que o preço por dose seria de 28 dólares, quando no Instituto Butantan, em São Paulo, o mesmo preço é de 10 dólares.

A CPI também irá se concentrar, em agosto, sobre três dias de março passado, cruciais para a investigação: 18, 20 e 22. O primeiro dia, 18, foi quando o servidor Luis Ricardo Miranda diz ter recebido, no Ministério, a primeira fatura da Precisa, segundo ele com sobrepreço e solicitação de pagamento antecipado do valor total de R$ 1,6 bilhão – o que não estava previsto no contrato. No dia 20, acompanhado de seu irmão, o deputado federal bolsonarista Luis Miranda, ele denunciou o caso ao presidente da República. Ainda segundo os irmãos Miranda, Bolsonaro comentou que “ é um rolo, isso é coisa do Ricardo Barros” e que iria tomar providências. Não tomou e, em consequência, está sendo investigado pela Polícia Federal por prevaricação.

Emanuela Medrades, diretora da Precisa, contestou a versão dos Miranda em seu depoimento aos senadores. Afirmou que a fatura enviada ao Ministério no dia 18 era um documento provisório, sujeito a correções, e a fatura definitiva e válida foi a encaminhada no dia 22. Dessa forma, os irmãos Miranda teriam feito uma denunciação falsa ao presidente da República, baseada em uma fatura fraudada. A CPI solicitou perícias das faturas à Polícia Federal.

Com sessões prorrogadas até novembro e cinco milhões de documentos para analisar (o que faz com apoio de especialistas da Receita Federal e da Polícia Federal), os senadores irão se defrontar com a questão que não cala: Jair Bolsonaro também deve ser responsabilizado por corrupção na compra de vacinas pelo Ministério da Saúde? Por dever moral e político, a CPI – controlada pela oposição – está obrigada a dar uma resposta clara aos brasileiros.

Os que conhecem os ventos de agosto em Brasília sabem que eles podem virar furacões. Mesmo que Bolsonaro escape do relatório final da comissão de inquérito, sua imagem de “caçador de corruptos” ficará irreversivelmente comprometida. A 14 meses das urnas de outubro de 2022 não haveria mais tempo de reverter tamanha fratura exposta.

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