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'Bolsonaro quer gerar maior crise institucional desses tempos ao pedir o impeachment de ministros do STF', reclama Ciro Gomes

Pedido de processo no Senado foi feito como uma resposta às cobranças de aliados radicais após prisão do ex-deputado Roberto Jefferson

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Jamildo Melo

Publicado em 15/08/2021 às 10:22 | Atualizado em 15/08/2021 às 11:56
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Ciro Gomes, sobre o pedido de Bolsonaro ao Senado

O ambiente que vivemos acaba de produzir o fato mais grave e paradoxal da política nacional: Bolsonaro, o presidente mais passível de crime de responsabilidade em nossa história, acaba de anunciar que vai pedir o impeachment de dois ministros do Supremo Tribunal Federal.

Se estivesse em uma sala de cinema, eu pensaria estar assistindo uma comédia; se estivesse em um teatro, eu pensaria estar assistindo uma tragédia; mas como estou vivendo os tempos de Bolsonaro, rendo-me às evidências, e vejo que tudo faz parte de uma realidade previsível e atemorizante.

Quando um país chega a um limite como este, é sinal que todos, sem exceção, falhamos. E que precisamos acordar deste pesadelo. É hora, portanto, de uma grande vigília democrática!

Não é por acaso que esta crise institucional esteja sendo gerada por um presidente que é alvo de cinco inquéritos no STF; de um outro no TSE, e contra quem dormitam, na gaveta do presidente Câmara, mais de 100 pedidos de impeachment.

Dois deles, inclusive, assinados por mim.

Não é por acaso que um presidente, que está se sentindo sem apoio militar para aventuras golpistas, que está sendo contido por líderes do Congresso, tenta, mais um vez, tensionar o ambiente politico e esgarçar as instituições.

E faz isso com a hipocrisia de tiranete que teatraliza temporariamente ritos democráticos, quando, na verdade, ensaia o libreto desvairado de uma ditadura.

Ao enviar esta mensagem ao Senado, Bolsonaro não quer outra coisa senão jogar sua ruidosa horda de apoiadores na rua, provocar convulsão social e requisitar os célebres mecanismos da lei e da ordem que justifiquem alguma ação militar.

Não é por acaso, também, que este jogo tenebroso seja tocado por um presidente incompetente e sem projeto, que vê sua imagem derreter, no caldeirão do pavoroso quadro econômico e social que ele próprio gerou.

Quando o desemprego aberto já atinge quase 15 milhões de brasileiros; quando a precarização do trabalho empobrece e machuca outros 40 milhões; quando os desalentados já passam de seis milhões.

Não é por acaso que estas tentativas desesperadas venham de um presidente que viu cair sua máscara de falsa moralidade, agora que a CPI da COVID desvendou o vergonhoso esquema de corrupção com as vacinas, enquanto morriam centenas de milhares de brasileiras e brasileiros.

Para ele, portanto, a única saída seria criar uma crise artificial para levar o país junto com ele, para o buraco que ele próprio cavou. Cabe ao Brasil democrático não deixar que nada isso prospere. Cabe ao Brasil democrático responder com equilíbrio, porém com firmeza, a esta escalada que já tem o script desenhado por um presidente autoritário e desvairado.

Um presidente que agora, em desvario simbólico e patético, tentar gerar uma crise institucional a pretexto de defender um personagem tão indefensável quanto a si mesmo.

Um mau político acusado de dez crimes, que vem sendo, há décadas, o mais legítimo representante das ilegitimidades e aberrações com as quais a politica brasileira tem sido obrigada conviver.

É hora, repito, de iniciarmos uma vigília democrática que envolva todos os setores da sociedade. É hora de darmos um basta aos abusos de Bolsonaro. Não podemos deixar que ele continue impunemente testando nossos nervos e a musculatura de nossas instituições.

Temos que mostrar que temos nervos de aço, para buscar uma saída pacífica e democrática; que nossas instituições tem musculatura suficiente para resistir a este jogo de pressões; mas temos que mostrar, principalmente, que não temos sangue de barata. Impeachment, já, para quem merece!

Impeachment não de ministros do STF, mas de um presidente que está devendo muito ao país e à democracia brasileira.

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