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Sim, tudo tem um limite. Por Ricardo Leitão

O que ficará da desastrosa gestão de um presidente que sugere aos cidadãos famintos não comprarem feijão, mas fuzis?

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Jamildo Melo

Publicado em 01/09/2021 às 9:08 | Atualizado em 01/09/2021 às 9:11
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Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog

Ao participar de um culto evangélico em Goiânia (GO), Jair Bolsonaro inflou o peito, pigarreou, subiu nos coturnos e clamou aos céus: “Tudo tem um limite!”. Não se sabe se o clamor era uma referência à rapinagem no Ministério da Saúde ou às travessuras de seus filhotes.

O fato é que, naquele momento, o desabafo foi endossado por milhões de brasileiros, mas com outro entendimento: chega de desgoverno, tudo tem um limite!

Qual o limite do desprezo de um desgoverno a centenas de mortos pela pandemia, dezenas de milhões de infectados e um número inestimável de sequelados? É impossível calcular. Contudo, para que tantas fossem as vítimas, Bolsonaro contribuiu de maneira decisiva com negacionismo; ironia; boicote a medidas de prevenção; confronto com governadores e prefeitos e atraso na aquisição de vacinas. Coroou sua participação entregando o comando do Ministério da Saúde a quadrilhas de corruptos e falsários.

Chega de golpismo. Desde a redemocratização, em 1985, nenhum presidente conspirou tanto contra a democracia; atentou contra a Constituição; ameaçou o Legislativo e o Judiciário; atiçou extremistas da direita; desacreditou o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas – em investida permanente na ruptura institucional que assegure sua permanência no poder.

Ninguém mais suporta a reiteração do estelionato eleitoral. Basta. Depois de 30 meses de desgoverno, não há “nova política”, “economia liberal”, “fim do desemprego” e “inserção soberana do Brasil no mundo”.

Na verdade, restam a velha aliança de conchavos políticos controlados pela direita, o fracasso do liberalismo econômico, recordes de desemprego e de fome e o País tratado como um pária internacional.

Tudo tem (ou deveria ter) um limite. Como os desmatamentos e as queimadas que destroem os biomas do Pantanal e da Amazônia; as invasões no Cerrado e na Mata Atlântica; garimpos ilegais que tomam terras indígenas; leis que facilitam o avanço sobre florestas nativas e contrabando de madeira. Ao mesmo tempo, são desmontados órgãos de controle e fiscalização ambiental como o Ibama e o ICMBio, e o ministro do Meio Ambiente é processado sob suspeita de conivência com a roubalheira.

Basta de crises provocadas ou agravadas no relacionamento com o Supremo Tribunal Federal, o Senado, a Câmara dos Deputados e as Forças Armadas. O resultado é uma permanente instabilidade institucional no cabo de guerra com quem ousa contestá-lo. Sua Excelência tensionou a corda até quase esgarçá-la. Não venceu nenhuma disputa importante, no entanto consolidou a imagem do Brasil como um país onde os poderes se digladiam, afastando investidores.

Já ultrapassou os limites com uma política sistemática de esvaziamento das universidades federais e instituições de cultura. As primeiras passaram a enfrentar profundos cortes de verbas; as instituições de cultura, a ser dominadas por avatares da estética nazista e defensores do racismo. Foram esvaziadas, quase à extinção, as fontes de financiamento público para as artes, fundamentais para a expressão de todas as linguagens. O desgoverno pressiona os veículos de comunicação, insulta jornalistas e é tratado como um predador da liberdade de expressão, ombreado à Coreia do Norte.

O que ficará da desastrosa gestão de um presidente que sugere aos cidadãos famintos não comprarem feijão, mas fuzis? Fica a irremovível sensação de que, ao fim dos 48 meses do mandato de Jair Bolsonaro, o Brasil estará muito pior. Bolsonaro discorda de tal pressentimento. Ele acredita que, até dezembro de 2022, quando encerra o seu mandato, estará reeleito por ter vencido todas as crises. Do contrário, adiantou aos evangélicos em Goiânia, estará preso ou morto.

Os presentes no templo não foram consultados sobre suas preferências.

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