violência urbana

Cresce violência no Cabo de Santo Agostinho. Número de tiroteios dobrou em comparação a agosto de 2020

Segundo o último Anuário Brasileiro de Segurança Pública, Cabo de Santo Agostinho é o segundo município com mais homicídios no Brasil

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Jamildo Melo

Publicado em 04/09/2021 às 15:52 | Atualizado em 04/09/2021 às 16:33
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Neste mês de agosto, o Instituto Fogo Cruzado mapeou 16 tiroteios/disparos de armas de fogo no Cabo de Santo Agostinho, o dobro do registrado neste mesmo período no ano passado.

O mês também bate recorde e é o mais violento para a população do município, com 25 pessoas baleadas, 7 vítimas a mais que o mês anterior.

Das 25 pessoas baleadas, 8 foram atingidas durante um ataque no Bar do Mineiro, na praia de Gaibu, logo no primeiro dia do mês. Entre as pessoas baleadas no ataque, estava um menino de 8 anos, baleado no abdômen. A mãe relatou ao site que ele brincava na praia quando foi atingido “Eu não o achava, até que ouvi a voz dele dizendo ‘quero minha mãe’, e reconheci”.

O ataque no Cabo de Santo Agostinho fez explodir também o número de baleados dentro de bares na Região Metropolitana do Recife em agosto. Ao todo 18 pessoas foram atingidas neste período (9 morreram e 9 ficaram feridas), 350% a mais que em agosto de 2020, com 4 baleados nestas circunstâncias (3 mortos e 1 ferido).

Segundo o último Anuário Brasileiro de Segurança Pública, Cabo de Santo Agostinho é o segundo município com mais homicídios no Brasil. São 90 assassinatos a cada 100 mil habitantes na região, ficando atrás somente de Caucaia, no Ceará, com 98,6 assassinatos a cada 100 mil habitantes.

Edna Jatobá, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado, comentou o drama.

“O Cabo de Santo Agostinho é um território bem emblemático já tem alguns anos. Já foi indicada como a cidade com maior vulnerabilidade juvenil à violência no Brasil, e pior lugar para jovens negros viverem, onde sua chance de ser assassinado era muito maior do que jovens brancos. Os grandes empreendimentos trouxeram junto com a promessa de emprego também muita desigualdade e violência sexual especialmente contra mulheres. É explícita a necessidade de mais envolvimento do município na execução de iniciativas de prevenção primária, secundária e terciária de prevenção à violência e trabalho conjunto e coordenado com o estado para diminuir esses índices e proteger vidas”, disse.

Números de agosto

O Instituto Fogo Cruzado mapeou 156 tiroteios/disparos de armas de fogo na Região Metropolitana do Recife em agosto. O número indica aumento de 9% em comparação ao mesmo mês em 2020, quando foram registrados 143 casos.

Em agosto, 179 pessoas foram baleadas, deixando 118 mortas e 61 feridas. Um aumento de 13% nos óbitos e queda de 12% dos feridos em relação a agosto de 2020, quando houve 173 vítimas, sendo 104 mortos e 69 feridos.

Em agosto, o dia 1º foi o mais violento para a Região Metropolitana do Estado, com 14 tiroteios/disparos de armas de fogo, 14 mortos e 11 feridos.

Dos 156 tiroteios do mês, 71% deles (111) houve mortos, em 33% (51) feridos e em 4% (7) não houve vítimas.

Locais afetados

Entre os municípios que fazem parte da Região Metropolitana do Recife, os 5 mais afetados pela violência armada foram:

Recife: 58 tiroteios, 41 mortos e 23 feridos

Jaboatão dos Guararapes: 25 tiroteios, 20 mortos e 8 feridos

Olinda: 23 tiroteios, 19 mortos e 6 feridos

Cabo de Santo Agostinho: 16 tiroteios, 13 mortos e 12 feridos

Camaragibe: 9 tiroteios, 7 mortos e 2 feridos

O município de Recife teve mais tiroteios que a soma dos registros em Olinda, Cabo de Santo Agostinho e Camaragibe.

Entre os 5 bairros mais afetados pela violência armada estão:

Piedade - Jaboatão dos Guararapes: 4 tiroteios e 4 mortos

Ibura - Recife: 4 tiroteios e 4 mortos

Barra da Jangada - Jaboatão dos Guararapes: 4 tiroteios 3 mortos e 1 ferido

Imbiribeira - Recife: 4 tiroteios 2 mortos e 1 ferido

Praia de Gaibu - Cabo de Santo Agostinho: 3 tiroteios, 3 mortos e 7 feridos

Retrato da violência armada

Em agosto, entre os 118 mortos por armas de fogo na Região Metropolitana do Recife, 97% deles (114) eram homens, 3% deles (3) eram mulheres e somente 1% (1) não teve o gênero identificado. Entre os 61 feridos, 85% deles (52) eram homens, 10% (6) eram mulheres e 5% deles (3) não tiveram o gênero identificado.

No Grande Recife, em agosto, 24 pessoas foram baleadas dentro de casa: 20 morreram (18 homens e 2 mulheres) e 4 ficaram feridos (3 homens e 1 mulher). No mesmo período de 2020, 16 pessoas foram atingidas, sendo 14 mortos (todos homens) e 2 feridos (1 homem e 1 mulher).

Houve 7 casos de homicídios múltiplos* no Grande Recife em agosto que resultou em 14 mortos (13 homens e 1 mulher). Em agosto de 2020 foram 6 casos, sendo 14 mortos no total (11 homens e 3 mulheres).

Também em agosto, no Grande Recife, 2 crianças (com idade inferior a 12 anos), 8 adolescentes (com idade entre 12 anos e 18 anos incompletos) e 6 idosos (com idade a partir de 60 anos) foram baleados. Destes, 1 criança, 6 adolescentes e 4 idosos morreram. No mesmo mês de 2020, houve 2 crianças e 4 adolescentes baleados, sendo 1 criança e 3 adolescentes mortos.

3 pessoas foram vítimas de bala perdida** no Grande Recife neste mês que passou: todas sobreviveram. Em agosto de 2020, 6 pessoas foram atingidas por balas perdidas no Grande Recife: 2 delas morreram.

3 vendedores ambulantes foram mortos a tiros no Grande Recife. Em agosto de 2020 não houve vendedores baleados.

Em agosto não houve baleados dentro de presídios do Grande Recife. Em agosto de 2020 foram 5 baleados, todos sobreviveram.

Em agosto, 6 agentes de segurança*** foram baleados no Grande Recife, 3 morreram. No mesmo período de 2020 não houve vítimas.

Também em agosto, 1 mototaxista foi morto a tiros no Grande Recife. Em agosto de 2020, houve 3 baleados: 2 deles morreram.

Acumulado do ano

De janeiro até agosto de 2021, foram 1.135 tiroteios/disparos de armas de fogo na Região Metropolitana do Recife. Ao todo, 1.242 pessoas foram baleadas: destas, 847 morreram e 395 ficaram feridas. No mesmo período de 2020, houve 1.180 tiroteios que atingiram 1.293, deixando 788 mortos e 505 feridos. Comparando os períodos, houve queda de 4% nos tiroteios e de 22% nos feridos, porém houve aumento de 7% no número de mortos por armas de fogo.

SOBRE O FOGO CRUZADO

O Fogo Cruzado é um instituto que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia através da transformação social e da preservação da vida.

Com uma metodologia própria, o laboratório de dados da Instituição produz mais de 20 indicadores sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife e, em breve, em mais cidades brasileiras.

Por meio de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado recebe e disponibiliza informações sobre tiroteios, checadas em tempo real. Elas estão disponíveis no único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto.

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