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Manifestações de 7 de setembro podem fortalecer terceira via?

Oficina Consultoria debateu os efeitos da polarização política e os impactos desse cenário de instabilidade nos rumos do país

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Jamildo Melo

Publicado em 12/09/2021 às 9:00
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O Brasil vive momento de constantes ataques à democracia e extrema polarização política.

Os episódios registrados no dia 7 de setembro, no qual milhares de manifestantes foram às ruas protestar contra as instituições democráticas, colocam em risco o futuro do país.

A nota divulgada pelo presidente Jair Bolsonaro na quinta-feira deixou o cenário ainda mais nebuloso.

Para debater o assunto de tamanha relevância à sociedade brasileira, a Oficina Consultoria realizou um debate com especialistas para entender quais são os cenários que podem impactar entidades, organizações e marcas.

"Foram manifestações significativas, e que mostra a força de uma liderança que tem seu pior momento na presidência e que conseguiu fazer a manifestação mais importante ocorrida no Brasil desde o impeachment da Dilma. A nota do Bolsonaro foi uma necessidade para o que aconteceu no 7 de setembro, mas é um recuo provisório e vamos ter muita radicalização nos próximos meses", analisa o fundador do Congresso em Foco, Sylvio Costa.

Para o diretor do Congresso em Foco Análise, Rudolfo Lago, a nota divulgada pelo presidente Jair Bolsonaro nesta quinta-feira suavizando as críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao ministro Alexandre de Moraes não surpreenderam.

Segundo ele, esta é uma estratégia calculada e muito bem conhecida entre os militares.

"O Bolsonaro usa uma estratégia adaptada da militar à política pelo Steve Bannon, que é uma estratégia militar dissonante. É você estabelecer táticas que você confunda o seu inimigo. Avança uma tropa para um determinado território e, ao fazer esse avanço, verifica como seu inimigo vai reagir. Se ele recua, você avança. Se ele reage, quem recua é você".

Embora a nota de Bolsonaro tenha sido recebido no meio político com um claro recuo e mudança de tom, o head de Public Affairs da consultoria, Ronald Freitas, vê o movimento do presidente com cautela.

"É preciso ver quanto tempo essa nota dura. Temos que lembrar aqui que o [Michel] Temer é o maior mediador do momento. De fato, a relação é próxima e se tinha alguém que podia fazer esse meio-campo é o Temer. Mas é preciso ver quanto tempo a trégua vai durar".

Além das dúvidas quanto aos próximos passos de Bolsonaro, a diretora de Public Affairs da Oficina, Fernanda Lambach, lembrou que as manifestações tiveram reflexo nos trabalhos legislativos.

"A primeira coisa que o Rodrigo Pacheco fez foi suspender as sessões no plenário e comissões. É um sinal, e pode ser que a partir desse momento ele comece a segurar um pouco mais algo que vinha num ritmo bom".

Manifestações pavimentam caminho para a terceira via?

Para Sylvio Costa, o discurso radical e o apoio às pautas antidemocráticas presente nas manifestações de 7 de setembro tiveram efeito contrário ao bolsonarismo.

"As críticas exacerbadas afastam o eleitorado moderado e reacendem o debate em busca de uma terceira via de centro-direita.  As manifestações radicalizadas abriram espaço maior para a discussão e consolidação de uma candidatura de terceira via, que era algo que muitos consideravam impossível com a polarização Bolsonaro e Lula. Há hoje três posições nessa terceira via: o [Luiz Henrique] Mandetta, o Rodrigo Pacheco e o PSDB, numa disputa entre João Doria e Eduardo Leite", afirmou Sylvio Costa.

Nesse contexto, o filósofo André Rehbein Sathler reforça que a Proposta de Emenda Constituição (PEC) para que a corrida presidencial no Brasil tenha três candidatos em caso de segundo turno é um movimento que reforça o ressurgimento dessa terceira via.

"Começa a surgir reações diferentes. O Senado está propondo a PEC para possibilitar três candidatos no segundo turno. A possibilidade de impeachment segue sendo muito baixa, segundo o Painel do Poder".

A jornalista e sócia-direta da oficina, Patrícia Marins, destaca que as manifestações da oposição marcada para o próximo domingo (12) serão um termômetro para os próximos capítulos. "Temos uma manifestação anti Bolsonaro no domingo. Há discussão da esquerda de participar ou não. Até que ponto essa manifestação pode fazer com que Bolsonaro volte à outra estratégia? É mais uma peça de uma xadrez que não acaba".

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