Opinião

Polarização consolidada. Por Márcio Coimbra

Articulista entende que dificilmente o cenário de embate entre Lula e Bolsonaro mudará

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Jamildo Melo

Publicado em 16/09/2021 às 11:15
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Por Márcio Coimbra, em artigo enviado ao blog

As manifestações que buscaram unir os nomes que desejam evitar a polarização política que se impôs no Brasil foram um fracasso. A baixa adesão do público tem inúmeras explicações, entretanto, não é possível dissociar-se do fato de que sem um líder, um nome que represente o grupo, os votos da chamada terceira-via serão pulverizados por diversos candidatos, fortalecendo o duelo entre Lula e Bolsonaro.

Aquilo que vimos no dia sete foi o ápice do bolsonarismo em estado puro, impulsionado em larga medida pelo governo e especialmente pelos 14% da população que votaria no Presidente em qualquer circunstância. Este é um voto fiel e assim como o petismo, está disposto a ir para ruas para defender suas bandeiras. As manifestações em prol de Bolsonaro foram basicamente alavancadas por esta lógica.

Isto significa que o Presidente não ampliou sua base, mas buscou, em larga medida, sedimentá-la, certo de que seus 14% podem ser acrescidos de um contingente de votos que pode levá-lo ao segundo turno. Para chegar ao duelo final com Lula, o bolsonarismo precisa atrair entre 20% e 25% dos votos, dependendo do movimento e escolha dos candidatos ou candidato que irá representar a terceira-via.

As manifestações do dia doze podem ser o início de um caminho que pode unificar aquilo que convencionou-se chamar de centro, tentando servir como alternativa ao modelo de polarização já desenhado para as eleições presidenciais. A adesão baixa, entretanto, mostra que trilha será longa e que o eleitorado disponível para optar por este projeto deseja mais do que os organizadores planejaram e propõe.

Diante do desenho que vemos atualmente, o cenário está posto com a pulverização do centro e a polarização da eleição entre Lula e Bolsonaro, a não ser que um efeito manada a poucos dias da eleição possa mudar os pilares de posição. Isto significa a chance do imponderável se debruçar sobre a eleição, retirando Bolsonaro do jogo ainda no primeiro turno, impulsionando um nome que possa vencer Lula. Isto seria o eleitorado fazendo o trabalho que os políticos falharam em organizar.

Se nada disso acontecer, dependendo dos movimentos das peças, Lula pode vencer ainda no primeiro turno. Sem uma terceira-via definida, Lula pode recolar-se no centro com um vice que agrade os mercados e os moderados, uma missão sob medida para um nome como Henrique Meirelles e o PSD de Gilberto Kassab. Ao lado de Meirelles, Lula acena ao mercado e ao centro, reposicionando o jogo e deixando aqueles que desejam ocupar a terceira-via sem rumo definido. A chance de vitória se impõe com solidez.

A fraca adesão nas manifestações do dia doze delineiam caminhos que precisam ser considerados, desde a possibilidade de vitória de Lula ainda em um primeiro turno, passando pela surpresa de um nome da terceira-via despontar na reta final ou mesmo um segundo turno entre Bolsonaro e Lula. Fato é que todos os cenários passam pela polarização. Para o eleitor nada surgiu para desmontar esta realidade.

Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil. Diretor-Executivo do Interlegis no Senado Federal.

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