Opinião

Deputado Alberto Feitosa, respeite a história. Por Heliane Rosenthal

Na Alepe, ao se apresentar como contra projeto de obrigação da vacinação para servidores, deputado atacou o governador Paulo Câmara como nazifascistas

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Jamildo Melo

Publicado em 30/09/2021 às 11:16 | Atualizado em 30/09/2021 às 11:30
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Por Heliane Rosenthal, em artigo enviado ao blog

Na última segunda-feira, dia 27, acompanhei pela internet a votação, na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa, do projeto de lei de autoria do Executivo que cria sanções aos servidores públicos que se recusarem a tomar as vacinas contra a Covid-19. Fiquei, confesso, estarrecida com a fala do deputado Alberto Feitosa que chamou a proposta de “monstro nazifascista”. Sim, o parlamentar compara um projeto que salva vidas a uma prática nazista sob a alegação, segundo ele, de que as pessoas estariam se submetendo a uma vacina experimental.

Não vou aqui, deputado, atacar sua fala somente porque ela é digna de repúdio e ser desrespeitosa com a história do povo judeu – a maior vítima do Holocausto nazista. Tão pouco falo em nome da comunidade judaica do Recife, da qual faço parte e onde tenho centenas de amigos desde que nasci, porque não pedi autorização para isso. Mas falo em meu nome e de toda minha família. Sou neta de refugiados da guerra. Minha geração, desde cedo, aprendeu o que significou aquele período nefasto da humanidade. Sou filha, irmã e tia de médicos judeus que sempre defenderam a ciência e lutaram pela saúde das pessoas.

Mas, como já disse, não vou atacar. Trarei, no entanto, fatos que comprovam o quanto sua posição é falaciosa e utiliza de forma irresponsável a história de dor e tristeza, mas também de resistência, do povo judeu. E, para isso deputado, o faço através da segunda pátria dos judeus e judias do mundo todo: Israel. Um país criado sobre dois pilares: ser um Estado judeu e democrático e que, atualmente, tem uma população de 9,2 milhões de pessoas, das quais, quase 73% são judeus.

Até o ano passado, Israel era comandada por Benjamim Netanyahu – primeiro-ministro do partido de direita Likud. É em Israel que está a Universidade Hebraica de Jerusalém – de onde já saíram 8 prêmios Nobel. Pois bem, é nesse contexto que Israel se tornou um exemplo de combate ao coronavírus. Netanyahu não se refutou em decretar lockdown mais de uma vez – impedindo que as pessoas se afastassem mais de 100 metros das suas residências – e fez apelos diários para que as pessoas ficassem em casa.

Da mesma forma, o então primeiro-ministro fez questão de ser um dos primeiros a tomar a vacina em frente às câmeras. No fim de fevereiro, pelo menos 50% da população israelense já havia tomado pelo menos uma dose da vacina. Hoje, segundo a plataforma Our World in Data, cerca de 63% da população israelense está totalmente imunizada.

O governo israelense já iniciou a aplicação da terceira dose de reforço para garantir a imunização diante da alta capacidade de transmissão da variante Delta. Infelizmente, lá também existem os negacionistas. Estudos mostraram que, entre os idosos israelenses, a taxa de hospitalização dos que se recusaram a tomar a vacina chegou 233 internados para cada 100 mil habitantes. Entre os imunizados, essa taxa, no mesmo período, foi de 19 para cada 100 mil imunizados.

Em março, deputado, quando a vacinação ainda dava seus primeiros passos no Brasil, um grupo de jovens recifenses – com idade média entre 18 e 19 anos - voltou de seu período de um ano em Israel já vacinados com as duas doses da Pfizer. Eu, com 50 anos, precisei esperar até junho para receber minha primeira dose. Naquela época, o país já instituía o seu passaporte sanitário para impedir a propagação do vírus em ambientes fechados. E lá, jamais, alguém chamou o governo de nazifascista por causa disso.

Em um país que nasceu em 1947 – apenas dois anos depois da libertação dos campos de concentração -, jamais se usaria esse termo de forma vil e desrespeitosa. O Estado de Israel, todos os anos, reverencia os 6 milhões de judeus mortos no Holocausto com dois minutos de silêncio quando toda a sua população, literalmente, para tudo que está fazendo para se lembrar daqueles dias. Portanto, deputado Alberto Feitosa, o senhor, volto a dizer, usou o capítulo mais aterrorizante e sombrio da história do povo judeu para pregar contra vida. O senhor nem sequer sabia o que estava falando quando tentou alegar que o nazismo era de esquerda. E eu tenho a obrigação de jamais deixar isso ficar sem resposta.

Por fim, quero ressaltar a atitude do presidente da CCJ, deputado Waldemar Borges, que fez questão de mostrar sua solidariedade à comunidade judaica naquele momento. E peço licença à deputada Priscila Krause – uma pessoa diretamente ligada a nós por laços familiares – para repetir um trecho do seu voto quando se posicionou a favor do projeto do Executivo, mesmo sendo da bancada de oposição: “Acabem com o desserviço contra as vacinas. Contenham-se, senhores, e deem valor àquilo que verdadeiramente têm”.

Heliane Rosenthal apresenta-se como judia, jornalista e vacinada com duas doses

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