No relatório final da CPI, médico pernambucano é indiciado por epidemia com resultado morte
Última versão do documento já inclui o nome do presidente do Médicos pela Vida
Como adiantou o Blog de Jamildo na última semana, Antônio Jordão de Oliveira Neto está na lista de indiciados pela CPI da Covid. O pernambucano é presidente da Associação Médicos pela Vida, que defendeu o uso de medicamentos ineficazes contra a doença durante a pandemia. À reportagem, o médico nega ter cometido qualquer crime e diz que sua atuação salvou vidas.
De acordo com os documento, o médico é participante do chamado "gabinete paralelo" e o indiciamento ocorre pelo crime de epidemia com resultado de morte, previsto no art. 267, § 1º do Código Penal.
Além disso, a CPI também pede ao Conselho Regional de Medicina de Pernambuco a apuração sobre as possíveis violações éticas cometidas pelo médico.
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"A Associação Médicos pela Vida propôs a existência de um gabinete paralelo, desestimulou medidas não farmacológicas, como o uso de máscaras, e reforçou o isolamento vertical e o uso de medicamentos como hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina, zinco, vitamina D, entre outros", aponta o relatório da CPI.
Ao Blog, Antônio Jordão afirma que não cometeu crime algum e considera que, com sua atuação, somente ajudou a salvar vidas.
"Vivemos uma ditadura. Autoridades da República elas próprias acusam, investigam e sentenciam. Sem direito à defesa. Inclusive contra seus pares. Um senador foi “indiciado” por discordar de outros senadores da CPI. Em pleno exercício do mandato e dentro da própria casa. Que regime é esse? Para os atos de exceção de 1964, tão condenados, faltam apenas os tanques nas ruas. Ou seria mais apropriado comparar com os inquisidores da idade média?", avalia. Confira a fala completa do médico ao final do texto.
Na primeira versão do relatório final da CPI da Covid, a Associação Médicos pela Vida foi citada 17 vezes. Na nova versão, o grupo é citado pelo menos 24 vezes.
O médico ainda afirma que a imprensa independente está agonizando e critica jornais que não apresentam duas versões nas suas reportagens. Antônio ainda reclamou sobre jornalistas usarem as classificações "medicamentos ineficazes" ou "sem comprovação científica", alegando que o profissional de imprensa não estudou matéria médica para afirmar que o medicamento não tem comprovação científica. "Acredito que essa cortina de fumaça se dissipará e a verdade logo virá à tona. Em sua plenitude. Não dizem que a justiça tarda, mas não falta?", finalizou. Confira na íntegra, ao final desta matéria, a fala de Antônio.
Nota técnica enviada pelo Ministério de Saúde, porém, reforça que medicamentos do "kit covid" não possuem eficácia comprovada e não devem ser usados no tratamento da doença. "Alguns medicamentos foram testados e não mostraram benefícios clínicos na população de pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados, sendo eles: hidroxicloroquina ou cloroquina, azitromicina, lopinavir/ritonavir, colchicina e plasma convalescente. A ivermectina e a associação de casirivimabe + imdevimabe não possuem evidência que justifiquem seu uso em pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados nessa população", diz o texto.
A associação e Antônio Jordão
Até dezembro de 2020, a Associação Médicos pela Vida tinha o nome Associação Dignidade Médica de Pernambuco.
Antônio Jordão de Oliveira Neto é médico oftalmologista, ex-presidente do Simepe e foi homenageado, em 2013, com a Medalha de Mérito José Mariano. A iniciativa foi do então vereador Rogério de Lucca (PSL). Em maio de 2020, ele ficou conhecido por liderar a publicação de um tratamento "pré-hospitalar" contra a covid-19.
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Quando a reportagem soube, na última semana, que Antônio Jordão seria incluído no relatório, o médico disse que desconhecia a sua inclusão na lista de indiciados e lamentou que, apesar dos convites de senadores, não pôde comparecer à CPI.
"Não vejo motivo para que isso aconteça. Acontecendo fatos como esse, só podemos imaginar a tentativa de demonização do tratamento da covid e uma total inversão de valores. Seria uma tentativa de criminalizar o cidadão de bem e deixar de apurar quem deve. Nós ajudamos a salvar vidas, por que motivo eu seria indiciado?", questionou o médico.
Reunião para o "gabinete paralelo"
No dia 8 de setembro de 2020 realizou-se reunião com o presidente Jair Bolsonaro, cujo tema era "médicos pela vida". Nela, debateu-se sobre a associação e a criação do "gabinete paralelo". O encontro contou com a presença de Antônio Jordão e outros representantes do movimento, como Nise Yamaguchi.
"A minha sugestão, até enviei mensagem ao executivo, mandei a carta pro Weintraub, pro Arthur, talvez fosse importante se montar um grupo. Eu não vou fazer parte desse grupo, porque não sou especialista em vacina, mas eu gostaria de ajudar o executivo a montar um shadow board. Como se fosse um shadow cabinet. Esses indivíduos não precisam ser expostos, digamos assim à popularidade", comentou na ocasião o virologista Paolo Zanotto.
Tratamento precoce
Outro ponto de destaque é a "Carta do Brasil - 2021", direcionada pela associação ao presidente Jair Bolsonaro. Nela, critica-se o uso obrigatório de máscaras e a obrigatoriedade indireta da vacinação, enquanto o uso de medicamentos ineficazes contra a covid-19 é estimulado.
A Associação Médicos pela Vida estabeleceu como "pilar" da Assistência em Saúde na covid-19 a "promoção da profilaxia da covid-19, com apoio para hábitos de higiene, proteção dos vulneráveis ou isolamento vertical, medicamentos (hidroxicloroquina, ivermectina), oligoelementos (zinco) e vitaminas D e C, de forma individualizada sempre que possível".
Outra orientação é o estímulo ao tratamento imediato domiciliar, com uso associado de medicamentos como hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e zinco. Esse "tratamento" seria instituído logo após o diagnóstico clínico, de sinais e sintomas da covid-19 e outras doenças.
Além dessas questões, aponta-se a associação como a responsável pela publicação do "Manifesto pela Vida". Trata-se de informe publicitário divulgado tanto em veículo de mídia quanto redes sociais, em defesa do tratamento precoce.
Resposta de Antônio Jordão
Abaixo, leia na íntegra a resposta do médico:
“Vivemos uma ditadura. Autoridades da República elas próprias acusam, investigam e sentenciam. Sem direito à defesa. Inclusive contra seus pares. Um senador foi “indiciado” por discordar de outros senadores da CPI. Em pleno exercício do mandato e dentro da própria casa. Que regime é esse? Para os atos de exceção de 1964, tão condenados, faltam apenas os tanques nas ruas.
Ou seria mais apropriado comparar com os inquisidores da idade média?
O cidadão de bem não pode mais opinar, nem se manifestar. O médico está sendo tolhido no dever sagrado de tratar e salvar vidas. O que está acontecendo?
Não cometi crime algum. Apenas ajudei a salvar vidas, graças a Deus. É minha missão. Não deveria fazê-lo?
Para agravar o quadro dantesco atual, vejo a imprensa independente agonizante. Foi-se o tempo que os jornais traziam um tema para discussão, e apresentava as duas versões, deixando para o leitor analisar e decidir. Hoje, nos raros casos nos quais se escuta as duas partes e se publicam as duas versões, a conclusão final é sentenciada pelo editor.
Querem um exemplo? Quando se usa como introdução ou finalização de uma reportagem (ou ambas) expressões carimbadas como “medicamentos ineficazes” ou “sem comprovação científica”. Neste momento cabe a pergunta: quem é o jornalista para afirmar que um medicamento é “ineficaz”? E quem estudou a matéria médica para afirmar que “não tem comprovação científica”? Duas grandes mentiras, numa só. E posso provar facilmente. Se tiver oportunidade, claro.
Acredito que essa cortina de fumaça se dissipará e a verdade logo virá à tona. Em sua plenitude. Não dizem que a justiça tarda, mas não falta?