Udenismo de volta?

Moro pode abalar polarização

Será? Fala-se que ele pode sair ao Senado, por São Paulo

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Jamildo Melo

Publicado em 27/10/2021 às 14:42 | Atualizado em 27/10/2021 às 14:58
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Por Terezinha Nunes, em artigo enviado ao blog

Com a filiação ao Podemos marcada para 10 de novembro e prestes a iniciar peregrinação pelo país lançando seu novo livro, o ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, tem pontuado nas pesquisas de intenção de voto para presidente ocupando o terceiro, quarto ou quinto lugares, longe ainda de Lula ou Bolsonaro, cujos projetos vêm marcando uma polarização jamais vista no país em ano pré-eleitoral e ameaçando o surgimento da chamada terceira via.

Que impacto pode ter uma eventual candidatura de Moro junto a mais de seis outros pré-candidatos a ocupar o espaço que, conforme as pesquisas, responde no momento a cerca de 30% do eleitorado que não quer Lula nem Bolsonaro?

Por enquanto, o ex-juiz, que manteve segredo sobre suas pretensões até onde pode, já causa burburinho nas cúpulas partidárias e nos bastidores do Congresso. Afinal,não faz muito tempo que Moro era carregado através de um boneco gigante nas passeatas da sociedade civil que reivindicava o impeachment da ex-presidente Dilma. Moro virou o protagonista mesmo ausente das manifestações diante do descrédito da classe política cujos representantes, com raras exceções, eram vaiados.

Embora não se possa neste momento falar sobre a possibilidade de Moro ser eleito presidente – cometeu o erro de aceitar o cargo de ministro de Bolsonaro e terá dificuldade de arregimentar partidos além do pequeno Podemos, onde vai ingressar agora – fontes dos mais diversos partidos já dão como certo o poder que seu nome terá de abalar a polarização
em torno de Lula e Bolsonaro, abrindo novos caminhos na sucessão presidencial.

É dado como certo que o primeiro abalo será sentido pelo presidente Jair Bolsonaro que tem se beneficiado da “ameaça” que Lula representa para eleitores de direita e está atravessando o momento mais crítico desde que seu mandato foi iniciado. É acusado pela CPI do Senado de responsável por milhares de mortes na pandemia e enfrenta uma crise econômica cuja repercussão sobre os mais pobres é avassaladora.

Os tempos, porém, não vão se tornar difíceis apenas para Bolsonaro. Se o presidente começar a perder pontos nas pesquisas, não terá mais no eleitorado de direita e centro direita o discurso de que só ele pode derrotar Lula e isso pode por fim à polarização no momento posta, abalando também o nome do petista.

Está claro que a radicalização tem feito bem não só a Bolsonaro como a Lula e o que tem se refletido em votações no Congresso em que o PT e bolsonaristas – inimigos figadais – têm votado juntos e no comportamento que petistas têm adotado frente a possibilidade de impeachment do atual presidente, passando ao largo de manifestações e demandas judiciais.

Na esquerda não é só Ciro Gomes que critica Lula e o PT. Lideranças e partidos estão com Lula nesta guerra contra Bolsonaro mas não há certeza do que vai acontecer se, de repente, a polarização for pro espaço. Pior ainda com Moro envergando a bandeira anti-corrupção e rememorando na cabeça do eleitorado o seu papel na Lava Jato.

Se havia alguma dúvida sobre o entusiasmo com Lula, esta semana, em entrevista à Folha de São Paulo, o cineasta Wagner Moura ao mesmo tempo em que atacou Bolsonaro e disse que a eleição de 2022 vai ser a disputa “da civilização contra a barbárie” afirmou que hoje votaria em Lula mas o ideal seria “dar um passo adiante”. Ele próprio fala em nome novo: “há muitos políticos que eu respeito, jovens, que poderiam virar esse passo adiante”.

Em um cenário desses a própria ameaça de quebra na polarização ou mesmo radicalização atual, pode embaralhar o tabuleiro, tanto na direita quanto na esquerda. Moro pode até não ser candidato a presidente – fala-se também que pode ir para o senado – mas seu nome sendo posto na balança já pode dar uma mexida no caldeirão. No mínimo pode abrir espaço para, enfim, a terceira via se consolidar.

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