Bolsonaro dá sua versão para exoneração da ex-superintendente Carla Patrícia, em depoimento à Polícia Federal
O depoimento de Carla Patrícia no inquérito que apura a interferência política na PF era esperado, mas até o momento não foi marcado
O presidente Jair Bolsonaro deu sua versão no depoimento à Polícia Federal no inquérito que apura a interferência política dele na Polícia Federal.
Em depoimento dado na surdina na última quarta-feira (03), e que somente veio a público no dia 4, Bolsonaro deu sua versão para as razões que "explicariam" a exoneração da ex-superintendente da Polícia Federal em Pernambuco, Carla Patrícia, exonerada do cargo em maio de 2021.
Bolsonaro disse, no depoimento, que “sugeriu ao ex-ministro Sérgio Moro” a mudança da superintendente da PF de Pernambuco “em razão da baixa produtividade local e pelo fato de a então Superintendente ter, anteriormente, assumido o cargo de Secretária Estadual de Pernambuco, o que não daria a isenção necessária nos trabalhos locais”.
No entato, ocorre que Carla Patrícia nunca foi secretária estadual em Pernambuco. Ela exerceu o cargo técnico de corregedora geral da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco.
Na época em que foi superintendente, dados da própria PF apontavam que a delegada Carla Patrícia tinha alta produtividade - a produtividade da superintendência cresceu em relação aos anos anteriores.
No plano operacional, a gestão da delegada Carla Patrícia na PF em Pernambuco foi reconhecida como a unidade da PF que obteve o maior número de operações de combate à corrupção deflagradas, com a atenção da mídia local.
É fato que uma das operações conduzidas durante a gestão da delegada Carla Patrícia, a “Operação Apnéia”, foi inclusive premiada com o IX Prêmio República de Valorização do Ministério Público Federal, promovido pela Associação Nacional dos Procuradores da República (APNR).
O depoimento de Carla Patrícia no inquérito que apura a interferência política na PF era esperado, mas até o momento não foi marcado.
Como se tinha o depoimento do presidente Jair Bolsonaro como o último a acontecer no inquérito, colegas da PF especulam que Carla Patrícia não será mais ouvida pelo delegado Leopoldo Lacerda, que agora conduz o inquérito em lugar do delegado Felipe Leal, afastado do caso pelo novo superitendente da PF no país, Paulo Maiurino.
Quando for concluído, o inquérito será remetido ao procurador-geral da República, Augusto Aras, que decidirá sobre uma eventual denúncia do presidente.
Carla Patrícia tomou posse como superintendente da Polícia Federal em Pernambuco em 19 de dezembro de 2019 e foi exonerada do cargo em maio de 2021, tendo sido a primeira mulher a comandar a PF no Estado.
No transcurso da carreira, pela seriedade, profissionalismo e compromisso, a delegada ocupou cargos de destaque na Polícia Federal.
Ela chefiou o Núcleo de Inteligência Policial, foi corregedora regional e foi delegada titular tanto da Delegacia Regional Executiva quanto da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado.
Carla Patrícia Cunha é formada em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Fez mestrado em Engenharia de Produção também na UFPE, dissertando sobre o tema “Decisão Multicritério na Priorização das Operações Especiais da Polícia Federal”.
Cursou especialização em Ciência Policial e Inteligência pela Academia Nacional de Polícia, e foi recentemente admitida no doutorado na UFPE.