Opinião

Juntinhos e misturadinhos. Por Ricardo Leitão

O presidente Jair Bolsonaro informou que irá disputar a reeleição pelo Partido Liberal (PL)

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Jamildo Melo

Publicado em 11/11/2021 às 9:55 | Atualizado em 11/11/2021 às 10:09
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Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog

O presidente Jair Bolsonaro informou que irá disputar a reeleição pelo Partido Liberal (PL). Seu (ou sua) vice será indicado (ou indicada) pelo Progressistas (PP). Trata-se de uma aliança da velha política com a corrupção. O PL é presidido pelo ex-deputado federal Valdemar Costa Neto, que cumpriu 7 anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso do Mensalão. Foi também investigado na Operação Porto Seguro e na Operação Lava Jato.

Ciro Nogueira, senador pelo Piauí, é presidente licenciado do PP e atual ministro da Casa Civil de Bolsonaro. Foi investigado pela Polícia Federal, que pediu seu indiciamento ao Supremo Tribunal Federal, acusado de ter solicitado propina a empresários – no valor total de R$ 9 milhões – nas campanhas de 2010 e 2014.

À aliança montada por Bolsonaro irá se juntar Arthur Lira (PP/AL), que ocupa a estratégica posição de presidente da Câmara dos Deputados. Era um ferrenho soldado de Eduardo Cunha (mentor do impeachment de Dilma Rousseff, depois cassado e preso) e contou com o apoio de Bolsonaro para se eleger presidente. Lira foi investigado na Operação Lava Jato, após o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e o doleiro Alberto Youssef, em delações premiadas, afirmarem terem feito doações ilegais para campanhas do PP, por meio do deputado. No acordo, terá apoio da aliança à sua reeleição à presidência da Câmara do Deputados.

Além das trajetórias políticas marcadas por envolvimentos em episódios de corrupção, Costa Neto, Nogueira e Lira têm outro traço em comum: são todos do Centrão, um aglomerado político de direita, notabilizado por seu compromi$$o com os alto$ intere$$es do País. Trapaças da sorte: o aglomerado já foi comparado a uma quadrilha de ladrões pelo general Augusto Heleno Pereira, hoje poderoso ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional de Bolsonaro. É perfilado a essa quadrilha - como diz o general - que Sua Excelência pretende marchar rumo a 2022.

Não será estranho para Jair Bolsonaro. Em contradição com a imagem de “caçador de corruptos” com que se apresentou na campanha de 2018, o presidente se acostumou a perdoar os pequenos deslizes dos companheiros. Na verdade até mesmo enormes crimes, como a transformação do Ministério da Saúde em balcão de negócios de compras fraudulentas de vacinas, no valor de bilhões de reais, em plena pandemia. Pela prevaricação, nesse e em outros episódios, Bolsonaro foi indiciado no relatório final da CPI da Covid.

No entanto, apesar dessas fragilidades, é um equívoco pensar que a aliança de velha política do Centrão, com os episódios contemporâneos de corrupção do bolsonarismo, está derrotada. A aprovação da PEC dos Precatórios, em dois turnos, na Câmara dos Deputados, comprovou o vigor da resiliência. O Palácio do Planalto, Ciro Nogueira e Arthur Lira venceram a oposição, preservando o que é estratégico para Bolsonaro em 2022: furo no teto de gastos do Executivo; calote no pagamento dos precatórios e aprovação do Auxílio Brasil, o programa que vai substituir o Bolsa Família.

Com isso, em 2022 – um ano eleitoral – o Governo terá um espaço fiscal de R$ 91,6 bilhões, que o bolsonarismo e o Centrão manipularão de forma a lhes assegurar os melhores ganhos políticos e eleitorais. A tática inclui, por exemplo, priorizar o pagamento do Auxílio Brasil em regiões como o Nordeste. É certo que os nordestinos pobres necessitam do benefício de R$ 400,00 por mês. Mas também é evidente que eles serão priorizados porque é no Nordeste que Luiz Inácio Lula da Silva, maior adversário de Bolsonaro em 2022, tem o maior apoio popular.

O Auxílio Brasil deve alcançar cerca de 17 milhões de pessoas, de janeiro a dezembro do próximo ano. O Governo ainda não informou de onde virão os recursos, estimados em R$ 50 bilhões, para bancar o programa. Faltam ainda dois turnos no Senado para que a PEC dos Precatórios – e nela embutido o Auxílio Brasil – seja aprovada. Se houver alteração no texto, a matéria retorna à Câmara dos Deputados. O debate no Senado será duro. Mas a oposição reconhece que o rolo compressor bolsonarista ganhou força – não só no Congresso, como também na disputa em 2022.

Bolsonaro tem certeza disso. A PEC é o seu último grande embate com a Câmara e o Senado até o fim de seu mandato. Com a intensificação da campanha eleitoral do próximo ano não haverá mais tempo para articulações parlamentares de grande envergadura. E ele precisa mostrar musculatura quando a corrida para as urnas se iniciar.

Está mantida a estratégia de polarizar com Lula, sendo Sua Excelência o lado da direita. Vai tentar atrair o centro, ainda indefinido, como fez em 2018. A candidatura do ex-juiz Sergio Moro a presidente, contudo, é um fato novo, capaz de alterar planos. Com um discurso de centro-direita, onde o combate à corrupção será dominante, Moro poderá atrair eleitores de Bolsonaro. Entre eles, lideranças das Forças Armadas, desapontadas com o presidente.

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