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Bolsodoria 2, o divórcio. Por Ricardo Leitão

Nunca perdeu uma eleição majoritária e agora se lança ao Planalto

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Jamildo Melo

Publicado em 01/12/2021 às 8:00 | Atualizado em 01/12/2021 às 8:10
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Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog

Esse personagem fictício, Bolsodoria, surgiu na eleição de 2018, em São Paulo, para nomear quem votaria em Jair Bolsonaro, do PSL, para presidente e João Doria, do PSDB, para governador. Não havia um casamento político entre os dois - para usar uma analogia a gosto de Bolsonaro; mas um arranjo que servia a ambos, carreando milhares de votos e lhes garantindo a vitória.

Bolsodoria agora volta, na versão 2, porém para anunciar o divórcio de um casamento de conveniência. Indicado à Presidência da República pelo PSDB, Doria já escolheu o ex-aliado como principal oponente. Ao discursar na solenidade em que foi anunciado candidato, o governador de São Paulo não poupou Lula, que chamou de corrupto, mas acusou Bolsonaro, o ex-aliado, de autoritário, odiento e incompetente. A estratégia de Doria é semelhante à dos demais presidenciáveis: radicalizar a polarização com Bolsonaro, de forma que os dois passem para o segundo turno, quando o tucano espera ter o apoio de todos os partidos – à exceção dos representantes da direita – e ganhar a eleição.

João Agripino da Costa Doria Junior, 64 anos, nascido em São Paulo, empresário, jornalista e publicitário, tornou-se nacionalmente conhecido como apresentador em programas de televisão. Ingressou na vida pública como secretário de Turismo de São Paulo e presidente da Paulistur, no governo de Mário Covas (PSDB), e presidente da Embratur durante o mandato de José Sarney (PFL). Filiou-se ao PSDB em 2001 e, em 2016, venceu as prévias do partido para ser o candidato à Prefeitura de São Paulo. Foi eleito no primeiro turno, fato inédito na história política da cidade. Quinze meses após a posse, apesar do compromisso público de cumprir integralmente o mandato, renunciou para disputar o Governo do Estado. Venceu a eleição com 10,9 milhões de votos.

Escalada tão vertiginosa gerou desafetos, aliada à inexistência de qualquer relação ideológica de Doria com a social-democracia tucana de raiz. Na eleição presidencial de 1984 foi acusado de apoiar Fernando Collor, quando o candidato do PSDB era Mário Covas. Em 2007, juntamente com outros empresários e personalidades da direita, liderou o movimento Cansei, de oposição ao governo Lula.

Venceu as prévias para ser o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo com o apoio decisivo do então governador Geraldo Alckmin. Candidato a governador em 2018, ignorou a deliberação partidária e, no segundo turno, apoiou Jair Bolsonaro – fazendo nascer o Bolsodoria. De nada valeram os protestos das lideranças históricas do PSDB, entre elas Fernando Henrique Cardoso. Nas prévias presidenciais tucanas, Doria de novo nadou contra a corrente e outra vez venceu, manipulando a divisão interna do partido. Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul e seu adversário, tinha o apoio de Aécio Neves, deputado federal, líder do PSDB em Minas Gerais e rival do tucanato paulista. Doria recompôs sua aliança com os comandantes tucanos de São Paulo, derrotou Eduardo Leite e, por extensão, Aécio Neves. Trata agora de pregar a unidade.

A consolidação da unidade vai depender da sua viabilidade eleitoral. O PSDB ainda está lanhado pelo desempenho do partido na eleição presidencial de 2018, quando Geraldo Alckmin ficou na quarta posição, atrás de Bolsonaro, Lula e Ciro Gomes. E numa disputa de resultados imprevisíveis, como a do próximo ano, o partido não pode repetir a desempenho desastroso, sob pena de ter cada vez menos influência na política nacional.

Nas pesquisas, por enquanto, a intenção de voto em Doria se confunde com as de Sergio Moro, Ciro Gomes e Luiz Henrique Mandetta. Contudo, ainda faltam onze meses para as urnas de outubro de 2022 e correntezas passarão debaixo de centenas de pontes. Ser do PSDB, com a tradição e a capilaridade que tem o partido, é uma vantagem para Doria. Outra, o fato de representar São Paulo na disputa, o maior colégio eleitoral do País. Por fim ser, mais do que qualquer outro presidenciável, o que tem mais diálogo e melhor representa a chamada turma do dinheiro grosso da Faria Lima – avenida da capital São Paulo onde se concentram as sedes das maiores empresas e instituições financeiras do País. Dono de uma fortuna pessoal estimada em R$ 200 milhões, Doria tem portas abertas nesses gabinetes. Não faltará água boa para irrigar seus jardins.

Seu desafio imediato é somar votos com rapidez e se firmar na posição de maior adversário de Bolsonaro, para vencê-lo no segundo turno. Para tanto, no mínimo terá que superar Lula, com o mesmo objetivo. Impossível? Não existe essa palavra no dicionário da política. Na dúvida, é sempre bom lembrar: João Doria, direitista, milionário, antipetista ferrenho, contra todas as expectativas foi eleito prefeito de São Paulo, a mais importante e mais rica cidade do Brasil e, em seguida, governador de São Paulo, o mais rico e importante estado do País. Nunca perdeu uma eleição majoritária.

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