Quase santo

Em livro, biógrafo diz que Lula 'fez milagre' enquanto estava preso na Polícia Federal

Autor carrega no tom panfletário, mas marca pontos ao tratar dos bastidores da prisão do ex-presidente

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Jamildo Melo

Publicado em 09/12/2021 às 10:11 | Atualizado em 09/12/2021 às 14:21
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O ex-presidente Lula e o ex-ministro Sérgio Moro não duelam apenas nas intenções de voto das pesquisas eleitorais para 2022. Nas livrarias do Brasil, há uma disputa silenciosa e particular na área editorial também.

Moro lançou um livro sobre combate à corrupção e a Lava Jato e, por outro lado, ao mesmo tempo, também chegou às livrarias a prometida biografia de Lula, escrita pelo jornalista Fernando Morais, autor de best sellers como Olga e Chatô, o Rei do Brasil.

No livro, o autor conta o que foi batizado pelos petistas como o "milagre' da vigília. 

"Um casal de amazonenses estava a caminho do Rio Grande do Sul quando o ônibus que os transportava aproveitou a escala em Curitiba para mostrar aos passageiros a tão falada Vigília Lula Livre. Casados havia muitos anos, Gerson e Renata Arruda tinham um problema de saúde que nenhum médico, nenhum tratamento conseguia solucionar: por mais que tentasse, ela não engravidava", descreve o autor.

"Durante a rápida parada na rua Professora Sadália Monzon, onde ficava a vigília, enquanto tomava um cafezinho, revelou seu problema de saúde a uma das moças que se revezavam no acampamento: Ué, dizem que o Lula pode tudo, quem sabe ele não me dá sorte e eu acabo engravidando?". Os presentes acharam a história engraçada, os passageiros embarcaram e o ônibus retomou rumo a Porto Alegre. Passados três meses, o advogado Manoel Caetano levou à cela do ex-presidente uma imagem de ultrasson que acabara de receber de uma incrédula Renata Arruda: depois da visita à vigília ela não só conseguira engravidar, mas além disto o bebê aparecia na imagem com o indicador e o polegar esticados, fazendo o L de "Lula", conta Fernando Moraes.

Na publicação, Lula aparece beijando a menininha identificada como Maria Luiza Shatkoski.

Divulgação
O advogado Luiz Carlos da Rocha, o escritor Fernando Moraes, o advogado Manoel Caetano Ferreira e o senador Jaques Wagner - Divulgação

"Presidente, agora é que o Moro vai se foder mesmo; o senhor começou a fazer milagres", afirmou o advogado Manoel Caetano, que trabalhava em Curitiba na defesa do ex-presidente.

 

No livro, Fernando Morais diz que os assessores ficaram temerosos de que a notícia se espalhasse e a vigília virasse um ponto de romaria, "convertendo Lula em um novo Padre Cícero. "... trataram com superficalidade a história, da qual ninguém mais falou".

O autor pega então o gancho para citar que não havia o menor risco de a historia vazar, uma vez que o ex-presidente estava impedido de dar entrevistas, mesmo não havendo lei que impedisse.

 

Companhia das Letras
Capa do livro de Fernando Morais - Companhia das Letras

Livro

O livro é o primeiro volume e tem 17 capítulos e 447 páginas, ao custo de R$ 63 reais. A edição é da Companhia das Letras.

A grande jogada do autor, nesta obra, é não seguir uma ordem cronológica. Fernando Morais dedica os seis primeiros capítulos a tratar da Lava Jato, da Vaza Jato e da condução coercitiva e depois da prisão de Lula, por ordem da Justiça de Curitiba. Com isto, ele não apenas cria um gancho mais atual para uma história já conhecida, mas estabelece o contraditório com os procuradores da Lava Jato e o ex-juiz Sérgio Moro.

Desde 2011, Fernando Morais ganhou acesso direto, franco e frequente a Lula.

Neste primeiro volume Morais vai da infância de Lula até o anulamento de suas condenações, em 2021 ? passando pelo novo sindicalismo, as greves do ABC, a fundação do PT e a primeira campanha eleitoral.

O escritor acompanhou Lula em viagens a 18 países e calcula ter realizado 170 horas de entrevistas com ele, além de ler uma centena das milhares de cartas que ele escreveu no período em que ficou preso em Curitiba.

O autor não esconde a militância no livro.

Morais nasceu em Mariana, Minas Gerais, em 1946. Jornalista, trabalhou no Jornal da Tarde, na revista Veja e em várias outras publicações da imprensa brasileira. Recebeu três vezes o prêmio Esso e quatro vezes o prêmio Abril de jornalismo. Foi deputado (1979-1987) e secretário da Cultura (1988-1991) e da Educação (1991-1993) do Estado de São Paulo. É autor de A ilha, Cem quilos de ouro, Olga, Os últimos soldados da Guerra Fria, Corações sujos e Chatô, todos publicados pela Companhia das Letras.

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