Em livro, biógrafo diz que Lula 'fez milagre' enquanto estava preso na Polícia Federal
Autor carrega no tom panfletário, mas marca pontos ao tratar dos bastidores da prisão do ex-presidente
O ex-presidente Lula e o ex-ministro Sérgio Moro não duelam apenas nas intenções de voto das pesquisas eleitorais para 2022. Nas livrarias do Brasil, há uma disputa silenciosa e particular na área editorial também.
Moro lançou um livro sobre combate à corrupção e a Lava Jato e, por outro lado, ao mesmo tempo, também chegou às livrarias a prometida biografia de Lula, escrita pelo jornalista Fernando Morais, autor de best sellers como Olga e Chatô, o Rei do Brasil.
No livro, o autor conta o que foi batizado pelos petistas como o "milagre' da vigília.
"Um casal de amazonenses estava a caminho do Rio Grande do Sul quando o ônibus que os transportava aproveitou a escala em Curitiba para mostrar aos passageiros a tão falada Vigília Lula Livre. Casados havia muitos anos, Gerson e Renata Arruda tinham um problema de saúde que nenhum médico, nenhum tratamento conseguia solucionar: por mais que tentasse, ela não engravidava", descreve o autor.
"Durante a rápida parada na rua Professora Sadália Monzon, onde ficava a vigília, enquanto tomava um cafezinho, revelou seu problema de saúde a uma das moças que se revezavam no acampamento: Ué, dizem que o Lula pode tudo, quem sabe ele não me dá sorte e eu acabo engravidando?". Os presentes acharam a história engraçada, os passageiros embarcaram e o ônibus retomou rumo a Porto Alegre. Passados três meses, o advogado Manoel Caetano levou à cela do ex-presidente uma imagem de ultrasson que acabara de receber de uma incrédula Renata Arruda: depois da visita à vigília ela não só conseguira engravidar, mas além disto o bebê aparecia na imagem com o indicador e o polegar esticados, fazendo o L de "Lula", conta Fernando Moraes.
Na publicação, Lula aparece beijando a menininha identificada como Maria Luiza Shatkoski.
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"Presidente, agora é que o Moro vai se foder mesmo; o senhor começou a fazer milagres", afirmou o advogado Manoel Caetano, que trabalhava em Curitiba na defesa do ex-presidente.
No livro, Fernando Morais diz que os assessores ficaram temerosos de que a notícia se espalhasse e a vigília virasse um ponto de romaria, "convertendo Lula em um novo Padre Cícero. "... trataram com superficalidade a história, da qual ninguém mais falou".
O autor pega então o gancho para citar que não havia o menor risco de a historia vazar, uma vez que o ex-presidente estava impedido de dar entrevistas, mesmo não havendo lei que impedisse.
Livro
O livro é o primeiro volume e tem 17 capítulos e 447 páginas, ao custo de R$ 63 reais. A edição é da Companhia das Letras.
A grande jogada do autor, nesta obra, é não seguir uma ordem cronológica. Fernando Morais dedica os seis primeiros capítulos a tratar da Lava Jato, da Vaza Jato e da condução coercitiva e depois da prisão de Lula, por ordem da Justiça de Curitiba. Com isto, ele não apenas cria um gancho mais atual para uma história já conhecida, mas estabelece o contraditório com os procuradores da Lava Jato e o ex-juiz Sérgio Moro.
Desde 2011, Fernando Morais ganhou acesso direto, franco e frequente a Lula.
Neste primeiro volume Morais vai da infância de Lula até o anulamento de suas condenações, em 2021 ? passando pelo novo sindicalismo, as greves do ABC, a fundação do PT e a primeira campanha eleitoral.
O escritor acompanhou Lula em viagens a 18 países e calcula ter realizado 170 horas de entrevistas com ele, além de ler uma centena das milhares de cartas que ele escreveu no período em que ficou preso em Curitiba.
O autor não esconde a militância no livro.
Morais nasceu em Mariana, Minas Gerais, em 1946. Jornalista, trabalhou no Jornal da Tarde, na revista Veja e em várias outras publicações da imprensa brasileira. Recebeu três vezes o prêmio Esso e quatro vezes o prêmio Abril de jornalismo. Foi deputado (1979-1987) e secretário da Cultura (1988-1991) e da Educação (1991-1993) do Estado de São Paulo. É autor de A ilha, Cem quilos de ouro, Olga, Os últimos soldados da Guerra Fria, Corações sujos e Chatô, todos publicados pela Companhia das Letras.