Monitoramento

Biógrafo de Lula diz que PF plantou grampo na casa do ex-presidente

Na época, nem os advogados reclamaram de nenhuma anormalidade, salvo a medida em si

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Jamildo Melo

Publicado em 10/12/2021 às 8:00 | Atualizado em 10/12/2021 às 10:19
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Logo nas primeiras páginas da biografia oficial de Lula (PT), recém-lançada, o jornalista Fernando Morais diz que a Polícia Federal grudou um microfone na casa da família de Lula em São Paulo para gravar secretamente as conversas do ex-presidente com sua companheira, Marisa Letícia (1950-1917). A iniciativa teria ocorrido no mesmo dia da operação de condução coercitiva do ex-presidente, a pedido de Moro, de Curitiba.

"...os federais aproveitaram um descuido de Marisa para grudar com velcro, sob o sofá da sala de visitas, um microfone tipo bug, capaz de transmitir todos os sons produzidos no ambiente", escreve. "A escuta foi desativada no mesmo dia". Havia ao menos oito militares na segurança pessoal do ex-presidente, coordenados pelo chefe da segurança pessoal Valmir Moraes.

Em trecho mais a frente, ele relata que os negociadores para a rendição de Lula tomaram um susto ao tomarem conhecimento de câmaras de monitoramento (possivelmente em lapelas e mochilas) de todas as dependências do sindicato onde Lula havia se abrigado, antes de se entregar. Oficialmente, o PT sabia apenas do trabalho de 18 jovens do "jornalistas livres" que filmavam tudo com seus celulares para a internet, com aval do partido.

Também há críticas ao ex-juiz e agora candidato Sérgio Moro, acusado de confraternizar com a acusação enquanto não atendia a defesa.

A ruidosa operação de condução coercitiva aconteceu em 04 de março de 2016. Os advogados reclamam que o ex-presidente seguer havia recebido uma intimação, não se recusando a colaborar eventualmente se fosse chamado.

O escritor levanta a tese de que a decisão, de tão veloz, teria sido previamente combinadas entre as três instâncias judiciais. "Moro produziu um recorde digno de Guinesses, em 17 minutos e 50 segundos, entre o recebimento dos autos e a expedição da sentença de prisão", no dia 05 de abril de 2018. O advogado Zanin, de Lula, chama de "prisão antecipada após a 2ª instância"

Retrato de Moro

O retrato que Fernando Morais faz de Moro é duro. Ele chama o ex-magistrado de provinciano e reclama até da indumentária, por, na época, só vestir camisa, terno e gravata pretas. "Com a ajuda de uma assombrosa máquina de propaganda foi convertido em super homem e herói nacional". Ele fala em "sanha de Moro e seus seguidores no MP" contra o ex-presidente.

ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL
GOVERNO Hoje presidenciável, Moro diz que se associou o governo para tentar mudar revéses da Lava Jato - ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL

O autor revela que, naquele fatídico fim de semana, de abril de 2018, Lula havia combinado um 'churrasco secreto' com sindicalistas no sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo.

Críticas à delação premiada

Morais chama delação de canalhice e diz que houve banalização do instrumento, por parte da Lava Jato.

"A legislação criada originalmente para facilitar a elucidação de crimes hediondos, como sequestro e estupro, a chamada colaboração premiada, permitiu que a Lava Jato construisse uma monstruosidade adicional, que foi a banalização da delação", escreve.

"Os presos da Lava Jato apelidaram de pau de arara de veludo. Ou os presos revelavam o que as autoridades queriam ouvir ou pagavam por isto, no caso, permanecer preso por tempo indeterminado"

Cid Gomes testemunha

No livro, fica-se sabendo que o cearense Cid Gomes, irmão do presidenciável Ciro Gomes, estava no Instituto Lula, em São Paulo, quando o ex-presidente foi informado do pedido de prisão de Moro contra Lula.

FÁBIO LIMA/O POVO
Senador Cid Gomes (PDT) - FÁBIO LIMA/O POVO

Cid Gomes havia viajado para se encontrar com Dilma e Lula, e convencê-la a tentar uma vaga no Senado pelo Ceará, onde ele dizia que ela tinha 70% de aprovação. Ela disputou por Minas Gerais e perdeu. Na campanha presidenciável daquele ano, Cid Gomes envolveu-se em uma polêmica com os petistas e bradou "Lula está preso", sugerindo que aceitassem o fato concreto e mudassem a orientação da campanha nacional.

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