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'É preciso romper o ciclo de violência contra as mulheres!', por Dani Portela

Artigo assinado por Dani Portela, vereadora do Recife e advogada popular, após o caso Pedro Eurico

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Augusto Tenório

Publicado em 12/12/2021 às 8:00
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Artigo enviado ao Blog de Jamildo por Dani Portela (PSOL-PE), vereadora do Recife e advogada popular

Para uma mulher romper o ciclo da violência é preciso muito mais do que apenas vontade. É preciso que as políticas públicas estejam prontas para acolher aquela vítima e protegê-la de quem a violenta.

Nós últimos dias fomos confrontadas com as graves denúncias feitas pela economista Maria Eduarda Marques contra o seu ex-companheiro o ex-secretário de Direitos Humanos e Justiça, Pedro Eurico. Segundo a denúncia de Eduarda, foram cerca de anos de agressões físicas, verbais, perseguições e ameaças de morte. Foram mais de 10 boletins de ocorrência registrados, medidas protetivas expedidas, mas ela nunca teve paz.

Por conta das denúncias, Pedro Eurico foi exonerado do cargo público que ocupava. É importante lembrar que durante todo o período de violência descrita por Eduarda, ele sempre esteve em cargos públicos, seja na Assembleia Legislativa, seja no próprio Governo de Pernambuco. Ao lado dele, sempre esteve uma pessoa muito importante neste caso, o seu assistente Eduardo Figueiredo, que acaba de assumir a titularidade da secretaria, quando da exoneração do seu chefe. O chamo assim, pois hoje sabemos que Figueiredo era o advogado responsável pela defesa de Pedro Eurico durante todo esse tempo, além de ter sido assessor parlamentar e secretário executivo das pastas comandadas por Eurico ao logo dos últimos 15 anos.

O patriarcado tem um pacto. De nos matar em silêncio. De calar a nossa voz, colocando os nossos algozes em lugares onde o nosso direito de defesa é cerceado. Me espanta pensar que tudo isso acontecia debaixo dos olhos do governo do estado, sem que nunca Eduarda tivesse o direito de uma apuração justa do caso.

Vi muitas pessoas públicas se posicionando sobre o caso, mas poucas citam diretamente o denunciado. Talvez por medo, não sabemos. O que sabemos hoje é que é preciso acreditar na vítima. Pernambuco é o quarto estado com maior índice de violência contra a mulher. E todas essas mulheres que um dia sofreram na mão dos seus agressores exigem hoje uma resposta do governador do estado, Paulo Câmara.

Porque o advogado do denunciado foi nomeado secretário de Direitos Humanos do Estado? Porque o inquérito foi concluído apenas um dia depois da exoneração de Pedro Eurico? Todas essas perguntas continuam sem respostas.

Trocar seis por meia dúzia, colocar seu homem de confiança revela o descompromisso do estado de Pernambuco com a vida das mulheres. É como se existisse uma espécie de "pacto da masculinidade" que desacredita a vitima, e que a revitimiza inúmeras vezes. Não só ela, Eduarda, mas a todas nós.

O patriarcado é um sistema perverso com as mulheres e nesse caso, ele se mostra arraigado em nosso estado. Pedro Eurico disse em áudio gravado: “sonhei que matava você!”. Infelizmente para milhares de nós, esse sonho é uma realidade.

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