CASO BEATRIZ

Antes de protesto no Recife, mãe da menina Beatriz diz que perícias foram sabotadas

Lucinha, que fez peregrinação até o Recife, gravou vídeo expondo questões envolvendo o caso Beatriz

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Augusto Tenório

Publicado em 28/12/2021 às 12:37 | Atualizado em 29/12/2021 às 15:04
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Antes de começar o protesto no Recife, Lucinha Mota realizou transmissão ao vivo nessa segunda-feira (27) para comentar o sobre o caso Beatriz e expôs questões ao público. Ela reclamou da postura da polícia e fez cobranças ao governador Paulo Câmara (PSB), criticando também Gleide Ângelo (PSB), que chegou a ser delegada do caso.

A menina Beatriz foi assassinada no seu colégio, em Petrolina, durante a aula da saudade da irmã mais velha, realizada no dia 10 de dezembro de 2015. Segundo a mãe da criança, a perícia foi sabotada e, apesar das denúncias, o Ministério Público nada fez. Recentemente, o governador de Pernambuco admitiu que o "trabalho da polícia não atingiu o êxito que gostaríamos".

"As festas do colégio eram muito organizadas, ninguém entrava sem senha e sem convite. (...) O inquérito até hoje não foi solucionado. A polícia civil de Pernambuco não apresentou para a sociedade quem são os assassinos de Beatriz, quem planejou... Foi planejado, pois para entrar no colégio, não era qualquer pessoa, tem de ser alguém que conhece todos os caminhos", chega a comentar Lucinha.

A mulher conta que a primeira delegada a assumir o caso atuou 11 dias no inquérito e a Polícia Federal trabalhou cerca de três dias, produzindo bem. "Eles esclareceram que o crime não era para a família, pois a gente não tinha dívida ou inimigos", diz.

"Durante esses seis anos de impunidade, já se passaram oito delegados. (...) Hoje temos uma força-tarefa de quatro delegados, que se juntar tudo não dá um...", reclama Lucinha, que chegou ao Recife após peregrinação para exigir justiça.

ARQUIVO PESSOAL
Caso Beatriz Angélica - ARQUIVO PESSOAL

Segundo a mãe de Beatriz, a Polícia Civil não isolou a cena do crime devidamente, usando apenas um pedaço de arame. A chave do cadeado do portão do local teria ficado na posse das freiras do colégio.

Ela também volta a acusar Diego Leonel de receber recursos financeiros pagos colégio. "Essa investigação quem fez fui eu, dei os caminhos para desarticularem organização criminosa que tira o direito das vítimas a um inquérito justo. Não investigaram".

PH Reinaux/Divulgação
Lucinha Mota ao lado de Marilia Arraes - PH Reinaux/Divulgação

Lucinha também aponta que as perícias começaram a ser sabotadas: "uma digital foi encaminhada ao Recife e a análise, assinada por quatro peritos, dizia tratar-se de uma digital de um ex-aluno. Posteriormente o delegado chega com outra perícia, assinada por dois peritos, diz que não foi do ex-aluno. Na sala do lado foi identificado cloro, alvejante, detergente. Na sala ao lado o colégio arrancou o piso".

O Blog de Jamildo procurou o Ministério Público de Pernambuco e a delegada Gleide Ângelo, que responderam com as seguintes notas. O Governo de Pernambuco ainda não se posicionou.]

Nota do MPPE

O Ministério Público de Pernambuco informa que o inquérito da menina Beatriz Angélica encontra-se em análise na Promotoria de Petrolina com um Grupo de Promotores designado especialmente para o caso, desde agosto de 2021.

A partir de uma análise do inquérito, o grupo de Atuação Conjunta Extraordinária - GACE, requisitou diligências diante da necessidade de maiores esclarecimentos dos indícios até então apresentados pela Polícia Civil. Recentemente, os autos foram devolvidos pela Polícia Civil, com o indicativo de que as diligências solicitadas pelo MP foram efetivadas, contudo, ainda sem autoria. Caberá ao Grupo de Promotores, de agora em diante, fazer uma análise aprofundada dos autos e traçar estratégias de atuação. Para isso, um plano de trabalho foi traçado e será acrescido de novas diligências, após concluída esta nova análise dos autos.

Conforme Portaria PGJ nº POR-PGJ Nº 2.383/2020, o MPPE está em recesso até o dia 03/01/2022, atuando em regime de plantão, apenas nas demandas urgentes, das 13h às 17h, nos termos da Resolução RES-CPJ nº006/2017.

O MPPE ressalta que não houve nenhum agendamento e nem contato prévio por parte da família da criança com a Procuradoria Geral de Justiça- PGJ ou com outra unidade ministerial para qualquer audiência, no dia de hoje. Em momentos anteriores, todas as vezes em que foi procurado o MPPE recebeu prontamente a família. A PGJ continua à disposição para agendamento de nova reunião no retorno do recesso.

Nota da delegada Gleide Ângelo

Sempre presando pela transparência no exercício da função pública, enquanto Delegada da Polícia Civil de Pernambuco, a Delegada Gleide Ângelo esclarece que apenas em dezembro de 2016, um ano após o crime que vitimou a criança Beatriz Angélica, foi designada, junto com mais dois delegados, para assumir as investigações.

Apesar da distância entre a data do crime e o tempo em que começou a trabalhar no caso, foi possível resgatar imagens reais de um circuito de segurança que registrou a movimentação de um suspeito. Ela também conseguiu o mapeamento do perfil genético dele, que foi confrontado com uma centena de pessoas submetidas a exames de DNA. Na época, já havia 13 volumes de inquérito policial e seis anexos.

No entanto, em abril de 2017, devido ao aumento no número de crimes de violência doméstica e familiar em Pernambuco, a Delegada foi nomeada pela Chefia da Polícia Civil para assumir o comando do Departamento de Polícia de Proteção à Mulher, no Recife, não podendo mais continuar investigando o caso Beatriz, em Petrolina.

Apesar de não estar mais à frente do caso, a Delegada defende que as investigações continuem sendo executadas com todos os recursos humanos e materiais disponíveis pelas corporações policiais para que o crime possa finalmente ser solucionado, o culpado preso e a família de Beatriz tenha a verdade dos fatos revelada.

Em Pernambuco, toda forma de violência deve ser tolerância zero, principalmente quando se tratar de crimes praticados contra grupos vulneráveis.

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