Estamos no meio de uma briga política por poder entre os rodoviários. Ou seja, estamos perdidos!

Publicado em 03/08/2015 às 16:47 | Atualizado em 07/08/2015 às 16:55
Foto: Edmar Melo/JC Imagem
FOTO: Foto: Edmar Melo/JC Imagem
Leitura:
  Foto: Edmar Melo/JC Imagem Representantes do sindicato oficial em frente às garagens de ônibus, durante manifestação nesta segunda-feira (3/8). Foto: Edmar Melo/JC Imagem   Estamos perdidos. Aliás, estamos nas mãos dos rodoviários e de seus braços políticos. À mercê de um movimento de classe que tem o poder de parar tudo e que tenta, a todo custo, recuperar a força perdida nos últimos 30 anos não só como categoria, mas principalmente como sindicato. E que não se entende. O que é pior e mais prejudicial. Até quando está com o discurso afinado, desafinam. O movimento de paralisação desta segunda-feira (03/8) é um reflexo dessa desordem moral e prática. A briga política pelo poder no Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco, de fato e de direito, é grande e só aumenta a cada dia, a cada manifestação, a cada greve. Por isso, estamos perdidos. Todos. Não só os passageiros do sistema de transporte, mas a sociedade em geral porque é inocência achar que, quando o transporte público sai de cena, apenas o ir e vir é comprometido. É muito mais do que isso. No movimento desta terça-feira, pelo menos o quarto oficial realizado pela categoria desde que a antiga diretoria (leia-se Patrício Magalhães, que por mais de 30 anos comandou o sindicato) saiu de cena, ainda no segundo semestre de 2014, o combustível para a revolta foi a decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) de reduzir os ganhos conquistados pelos rodoviários no dissídio – baixou de 12% para 9% o reajuste salarial e de 59,57% para 9% o ganho no tíquete refeição. Mas não é apenas isso. Há mais por trás. A briga política interna da categoria turbina os líderes, mesmo dissidentes, que estimulam os trabalhadores. Motoristas, cobradores e fiscais que sofrem com baixos salários e péssimas condições de trabalho. E que têm força como categoria e disposição para parar. Ou seja, é a fome com a vontade de comer. E, assim, os rodoviários tornam-se massa fácil de manobrar. LEIA MAIS Greve mostra pouca força de mobilização dos motoristas Motoristas que ignoram a Justiça divulgam nota pública e culpam governo do Estado e empresários pela greve da categoria Depois da saída de Patrício Magalhães os rodoviários ganharam dois líderes. Um de fato e outro de direito. Esse é o problema e o perigo. De um lado, o presidente de direito, Benilson Custódio, motorista eleito pela categoria para substituir Patrício Magalhães, mas que têm brigado, com unhas e dentes, para firmar sua autoridade. Do outro, Aldo Lima, que atuou como rodoviário por quatro anos na Empresa Caxangá e não conseguiu ser candidato à eleição por ter sido demitido por justa causa (ele trava uma briga judicial para reverter a situação). Aldo Lima e Benilson, conhecido como Grilo, eram companheiros e foi a base de Aldo Lima que pavimentou a eleição de Benilson. Aldo Lima era o “padrinho”, mas a ligação do líder com o CSP Conlutas (movimento de luta popular com representação em várias partes do País, tendo orquestrado, inclusive, a maioria das greves dos trabalhadores de Suape, nos tempos áureos do complexo) teria separado os companheiros e seus respectivos grupos. Tudo mudou depois da eleição e o que se vê agora nas ruas é uma briga que, às vezes, por pouco não vira física. Cena que está se tornando corriqueira: Avenida Conde da Boa Vista, no Centro, completamente vazia. Fotos: Fernando da Hora/JC Imagem Cena que está se tornando corriqueira: Avenida Conde da Boa Vista, no Centro, completamente vazia. Fotos: Fernando da Hora/JC Imagem Aldo Lima foi candidato a deputado estadual nas últimas eleições e, mesmo derrotado nas urnas, é acusado por alguns rodoviários de usar a categoria para fazer jogada política. Dizem que foi por culpa dele e do seu grupo que, na última greve, realizada no mês passado, que os motoristas e cobradores foram a dissídio, rejeitando a proposta empresarial de reajuste salarial de 9,5%, tíquete–refeição de R$ 188 para R$ 220, retorno do vale nas férias e a retomada da discussão sobre o plano de saúde da categoria. Aldo Lima se defende, alegando que nunca ninguém brigou e motivou tanto os rodoviários como ele. Que, sem a sua força, Patrício Magalhães até hoje estaria no poder. E assim a vida segue... Ainda existe uma terceira liderança, menos forte, é verdade: Roberto Carlos, ligado à CUT. Mas é entre os grupos de Grilo e Aldo que oscilam os rodoviários. O lamentável é que no meio da confusão esteja a população, sejam os passageiros de ônibus ou a sociedade em geral. Não se sabe mais o que a categoria vai fazer e é comum prometerem uma ação, realizando outra completamente diferente. O sindicato oficial negou a realização do movimento desta segunda-feira e depois confessou ter orquestrado toda a paralisação durante reuniões no fim de semana. Enquanto os oficiais queriam uma paralisação de seis horas, apenas pela manhã, o grupo de Aldo Lima defendia a retirada dos ônibus o dia inteiro. Ou seja, estamos perdidos.

Últimas notícias