Corredor de BRT Norte-Sul segue totalmente degradado

Publicado em 11/04/2019 às 8:00 | Atualizado em 12/05/2020 às 12:21
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Corredor de BRT Norte-Sul, que deveria ter sido concluído ainda para a Copa do Mundo de 2014, é pura degradação. E custa caro: teve aumento de 20% do valor inicial, passando de R$ 156 milhões para R$ 187 milhões. Fotos: Felipe Ribeiro/JC Imagem  

 

Às vésperas de completar cinco anos de operação, o Corredor de BRT Norte-Sul segue acumulando problemas de operação, degradação e abandono por parte do poder público. Seriam necessárias diversas páginas de jornal para reunir todas as reportagens que o JC fez sobre s problemas do corredor – o mais extenso do sistema BRT na Região Metropolitana do Recife, com 33 quilômetros. Ainda incompleto, apesar do tempo, o Norte-Sul não tem mais nada de BRT, modelo criado há mais de 40 anos em Curitiba e reconhecido mundialmente como o metrô sobre pneus, com três premissas básicas: circulação em corredores exclusivos, embarque em nível com as estações e pagamento antecipado da tarifa.

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Falar da degradação do Norte-Sul incomoda porque é repetir o mesmo, sem que provoque mudanças. É tratar de uma degradação histórica, mas que se tornou invisível aos olhos dos gestores do sistema – no caso, o governo de Pernambuco. Após o primeiro ano de operação, o corredor começou a apresentar problemas e apenas paliativos foram feitos desde então. As estações estão cada dia mais estragadas, a iluminação inexiste – especialmente nos quilômetros que cortam o município de Olinda, no Grande Recife – e o pavimento está, novamente, destruído.  

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A situação é tão crítica que, segundo informações de bastidores, o Consórcio Conorte – que reúne as empresas Itamaracá, Cidade Alta e Rodotur e opera o Norte-Sul – ameaçou suspender as viagens aos sábados por causa da degradação do pavimento da PE-15, rodovia que compõe o principal eixo viário do corredor de BRT. Mesmo antes da chegada do novo sistema, a PE-15 apresentava problemas, que ficaram mais evidentes com a entrada dos BRTs. Os veículos, inclusive, estão em avançado e precoce estado de degradação. “É impraticável andar nesses buracos. Temos perdido de quatro a cinco viagens por causa da destruição do pavimento. Chega a dar pena colocar esses veículos, tão modernos e confortáveis, nessa buraqueira”, lamenta o motorista de BRT Carlos Alberto dos Santos, flagrado pela reportagem em meio à buraqueira do corredor na altura de Ouro Preto (Jatobá), em Olinda.

O trecho, inclusive, é um dos mais críticos do Norte-Sul e pelo menos duas vezes no ano vira manchete na imprensa, sem que nada aconteça. No máximo, uma paliativa operação tapa-buraco que tira, pelo menos por um tempo, o foco de passageiros e jornalistas. A degradação do corredor é tão séria que nesta mesma época, ano passado, os operadores cumpriram o que agora voltam a ameaçar: suspenderam a operação por causa da buraqueira. Naquela época, o trecho crítico era em frente ao 7º Grupamento de Artilharia de Campana (GAC), em Olinda, que terminou sendo solucionado corretamente pela Secretaria das Cidades, atualmente rebatizada de Secretaria de Desenvolvimento Urbano. Mas foi preciso muitas manchetes de jornais e ao vivos das televisões. Três estações foram desativadas.

Um ano antes, a situação foi ainda mais grave. Os operadores tiveram que desativar quatro estações do Norte-Sul mais uma vez por causa da buraqueira. A falta de cuidado do poder público foi tanta que jogaram camadas de barro sobre brita para amenizar os buracos e na altura das estações, o que impediu o embarque e desembarque dos passageiros. Diretor de Operações do Conorte, Almir Buonora revela o prejuízo que a falta de manutenção do pavimento do Corredor Norte-Sul tem provocado nos veículos BRT, que têm custos duas vezes maiores do que os ônibus convencionais. “Nossos BRTs foram adquiridos para rodar, sem problemas, por dez anos. Mas os nossos estão sofrendo de uma degradação precoce e, assim, vão durar, no máximo, sete anos”, destaca.

 

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ALVO DO TCE

A degradação do Corredor de BRT Norte-Sul já virou alvo do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Uma auditoria especial acompanha a implantação do corredor desde 2012 e os problemas têm escandalizado os engenheiros do Tribunal. Segundo o Núcleo de Engenharia, corpo técnico que está subsidiando a auditoria especial, o governo do Estado já gastou R$ 28,3 milhões com uma pavimentação que deveria durar, no mínimo, 15 anos. Mas que se desfez em menos de quatro anos de operação. Desde março de 2018 que se espera o julgamento da auditoria, a ser realizado pela conselheira Teresa Dueire. O valor do Corredor de BRT Norte-Sul era de R$ 156 milhões, mas com os aditivos, já está em quase R$ 187 milhões – 20% a mais do valor inicial. Desse total, 159 milhões já foram pagos às empresas que o executaram.

 

Para tentar evitar a invasão do sistema, catracas-monstro vêm sendo instaladas nas estações
GM1 - Para tentar evitar a invasão do sistema, catracas-monstro vêm sendo instaladas nas estações
Escuridão é um dos graves problemas do corredor em todo o trecho de Olinda. Fotos: Guga Matos/Arquivo JC Imagem
GM2 - Escuridão é um dos graves problemas do corredor em todo o trecho de Olinda. Fotos: Guga Matos/Arquivo JC Imagem

PROVIDÊNCIAS DO ESTADO

Apesar da gravidade da situação, a expectativa de recuperação do Norte-Sul não é boa. Uma intervenção séria para melhorar o pavimento do corredor de BRT só deverá acontecer a partir de agosto, quando o governo do Estado estima que as chuvas tenham passado. Até lá, serão feitas apenas ações pontuais e paliativas, frequentemente realizadas e de pouco resultado. “Sabemos da situação do corredor, mas em relação ao pavimento, esse é nosso cronograma. Estaremos fazendo intervenções pontuais e emergenciais. Mas só poderemos atacar mais profundamente os problemas depois que o período de chuvas passar. Estamos correndo para concluir o distrato do contrato – já que o Consórcio Emsa/Aterpa abandonou os trabalhos – e finalizar as obras que ainda faltam para a conclusão do corredor”, afirmou o novo secretário executivo de Desenvolvimento Urbano de Pernambuco, Fred Ferreira.

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