Metrô do Recife será comandado, pela primeira vez, por uma mulher

Publicado em 10/10/2019 às 15:48 | Atualizado em 08/05/2020 às 17:52
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Desde 2016 à frente do Metrô do Recife, Leonardo Villar Beltrão deixaria a presidência da CBTU no Recife para colaborar com a reestruturação nacional dos cinco sistemas da Companhia. Foto: Brenda Alcântara/JC Imagem  

O Metrô do Recife tem um novo superintendente. Aliás, uma nova superintendente. Depois de três anos e cinco meses de gestão, o engenheiro Leonardo Villar Beltrão, funcionário de carreira, deixa o comando da Superintendência da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Recife. Em seu lugar, entra a advogada Renata Teti, a primeira mulher a comandar um sistema metroferroviário em 161 anos de ferrovia no Nordeste e nos 34 anos do metrô pernambucano. Renata Teti é da CBTU no Recife e, desde 2008, atuava como assessora jurídica da Administração Central da Companhia no Rio de Janeiro. Chega para a nova função na capital pernambucana na próxima semana, provavelmente na terça-feira (15/10).

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Na prática, é como se ela e Leonardo Villar Beltrão estivessem mudando de posição. Renata Teti volta para o Recife, enquanto Leonardo Villar Beltrão passa a atuar no Rio de Janeiro. Segundo o diretor-presidente da CBTU, José Marques de Lima, o engenheiro foi escolhido a dedo para ser o novo assessor especial da presidência com a missão de comandar o projeto de reestruturação dos cinco sistemas operados e geridos pela CBTU – metrôs do Recife, Maceió (AL), João Pessoa (PB), Natal (RN) e Belo Horizonte (MG). “Nós temos a missão de quantificar e detalhar a reestruturação dos metrôs da CBTU. É uma decisão do governo federal, que vai liberar recursos para isso. E vamos começar o processo com os metrôs do Recife e de Maceió. Por isso estou trazendo Leonardo para o meu lado. Logo após assumir a superintendência, ele fez um diagnóstico das necessidades do Metrô do Recife e, agora, ficará responsável pelo mesmo trabalho nos outros sistemas. Depois do Recife e Maceió, faremos o diagnóstico nos metrôs de João Pessoa e Natal. E, por fim, de Belo Horizonte”, explica José Marques.

 

 

Agora ex-superintendente do Metrô do Recife, Leonardo Villar Beltrão sempre defendeu, inclusive publicamente, a gestão e operação públicas dos sistemas metroferroviários

Pelo menos oficialmente, a mudança de comando não teria relação com a redução de orçamento e o sucateamento enfrentado pelo Metrô do Recife – situação vivenciada, vale ressaltar, em todos os outros quatro sistemas da CBTU. A Administração Central garante que o nome de Renata Teti foi uma escolha técnica, sem relação com indicações políticas. Extraoficialmente, entretanto, comenta-se que a opção pela advogada seria mais um ato de ingerência política no sistema metroferroviário da Região Metropolitana do Recife, que amarga quebras e problemas há mais de uma década, embora garanta o transporte de 400 mil pessoas, em sua maioria das classes C, D e E. Seria, inclusive, uma escolha ligada ao presidente nacional do Partido Social Liberal (PSL), o pernambucano Luciano Bivar.

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José Marques de Lima nega qualquer relação política na decisão. “Renata Teti sequer sabe quem é Luciano Bivar. Assim como foi com Leonardo, está sendo com Renata. Uma decisão técnica por um metroviário de carreira. Leonardo, inclusive, era o único superintendente técnico dos cinco metrôs da CBTU. E, agora, estamos colocando uma outra técnica no lugar”, reforça José Marques. A reestruturação a que se refere o diretor-presidente da CBTU já é uma preparação para o processo de privatização – estadualização e, posteriormente, concessão à iniciativa privada – da Companhia, já anunciada pelo governo federal. Especula-se que esse processo, inclusive, teria contribuído para a mudança do comando do Metrô do Recife, já que Leonardo Villar Beltrão sempre foi um defensor da gestão e operação públicas dos sistemas metroferroviários. Inclusive publicamente.

Confira a Carta Aberta feita por Leonardo Villar Beltrão:

"Em 25 de maio de 2016, assumimos a Superintendência do Metrô do Recife, com a missão de reerguer o Metrô numa situação de grande degradação, desacreditado por seus funcionários e com previsão de paralisação de suas atividades total ou parcialmente em julho daquele ano. A empresa apresentava grandes débitos acumulados com seus fornecedores e prestadores de serviço. Funcionários terceirizados se negavam a trabalhar sem receber salários, passagem, ticket refeição e férias vencidas.

O cenário era marcado por muitos desafios, mas apesar de grandes restrições de orçamento impostas em função das dificuldades econômicas do país, conseguimos não paralisar o Metrô; quitar todos os nossos débitos recuperando nossa credibilidade; solucionar os problemas que ameaçavam a segurança e a operação; e avançar nas melhorias do sistema, dentre as quais destacamos algumas mais visíveis aos usuários, como a recuperação das escadas rolantes e elevadores, a melhoria da disponibilidade dos trens e dos aparelhos de ar-condicionado de algumas composições.

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Com relação à segurança, implantamos um sistema dos mais modernos com 1.380 câmeras de vídeos de alta definição com central de monitoramento, que é uma ferramenta imprescindível e fundamental no combate à criminalidade; assim como deixamos encaminhado convênio a ser assinado com a PM para a prestação de serviço que acreditamos ser um reforço suficiente para minimizar tanto os transtornos causados pelo comércio ambulante, prática proibida dentro do sistema, quanto os delitos no interior das nossas estações e trens.

Esses avanços, dentro do cenário de penúria orçamentária, foram alcançados através da dedicação e competência dos funcionários, da STU/REC e da CBTU/AC, sob a tutela do presidente (José Marques) e do apoio recebido desde 2016 do Ministério das Cidades/Ministério do Desenvolvimento Regional.

 

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Governo federal está dando como certa a privatização da CBTU a partir de 20021. Metrô do Recife entra no pacote. Fotos: Bobby Fabisak/JC Imagem
1 - Governo federal está dando como certa a privatização da CBTU a partir de 20021. Metrô do Recife entra no pacote. Fotos: Bobby Fabisak/JC Imagem
Sistema da  RMR sofre um histórico desmonte de recursos. Foto: Diego Nigro/JC Imagem
2 - Sistema da RMR sofre um histórico desmonte de recursos. Foto: Diego Nigro/JC Imagem

Devemos ressaltar também a colaboração decisiva, nesses avanços, de parceiros conquistados através da participação ampla e do diálogo franco, transparente e o mais realista possível; inclusive com a imprensa que passou a desfrutar de livre acesso ao nosso sistema.

Ao longo de mais de três anos de gestão, importante também se faz destacar o apoio recebido pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude (Sileno Guedes); Secretaria de Defesa Social (Antonio de Pádua); Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Marcelo Bruto); Secretaria de Justiça e Direitos (Pedro Eurico); Corpo de Bombeiros; Polícia Militar; Polícia Civil; bem como, do nosso parceiro nos desafios da mobilidade urbana, o Consórcio Grande Recife, nas pessoas de Erivaldo Coutinho e sua equipe.

Neste período, também destacamos as parcerias com as prefeituras do Recife, por meio da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano (João Braga); Cabo de Santo Agostinho; Jaboatão dos Guararapes; Gravatá; Cortez; São Lourenço da Mata; Camaragibe; Paudalho; Carpina; Nazaré da Mata; Aliança; e Timbaúba. Além das parcerias com UFRPE; IFPE; FUNDARPE; UFPE; Suape; Instituto Pelópidas da Silveira; Exército; IFAM; SPU; DENIT; INFRAERO; Polícia Federal; Ministérios Públicos; CREA e diversos políticos que ajudaram a nossa gestão.

Agradeço imensamente a todos, funcionários, parceiros e imprensa, que participaram sem dúvida desta caminhada em prol da melhoria de qualidade de vida do povo pernambucano. Faço também um agradecimento especial ao ex-ministro Bruno Araújo, que me confiou esta difícil e importante missão quando nem sequer me conhecia, baseado apenas em informações do meio técnico; e que procurei honrá-la com o máximo da presteza na qualidade de servidor público. Desejo a nova Superintendente Renata Mary Teti Vasconcelos muito sucesso na nova missão. Por fim agradeço aos quatrocentos mil usuários que utilizam o metrô diariamente. Tenham certeza que tiveram em mim durante esses três anos o mais profundo compromisso de quem há mais de trinta anos se dedica a essa empresa, que apesar dos muitos desafios está viva, cumprindo sua missão social".

Leonardo Villar Beltrão

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