Falha técnica, seguida de falha humana. As prováveis causas da colisão entre trens do Metrô do Recife

Publicado em 20/02/2020 às 6:59 | Atualizado em 08/05/2020 às 11:54
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Falhas no sistema de sinalização do metrô são preocupantes porque é ele que garante a segurança viária da operação. Foto: Bruno Campos/JC Imagem

 

Uma falha do sistema de sinalização seguida de um possível erro humano do maquinista. Essas seriam as causas prováveis da colisão entre dois trens do Metrô do Recife, no início da manhã de terça-feira (18/2), na estação Ipiranga da Linha Centro do sistema que atende a Região Metropolitana. O desgaste do sistema de sinalização, entretanto, é inquestionável, segundo metroviários ouvidos pelo Jornal do Commercio. Alguns deles, inclusive, participantes diretos da investigação que apura as causas da colisão. Os problemas no trecho do acidente, de tão comuns, teriam sido denunciados em documento oficial à Superintendência da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Recife.

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Pelas primeiras informações e apurações, o acidente teria acontecido da seguinte forma: o sistema de sinalização (controle eletrônico do metrô, instalado nos trilhos) teria dado, mais uma vez, uma informação de falsa ocupação quando, por erro, é informado que há um trem no trilho, quando ele não existe. Diante disso, o tráfego do trem é interrompido, com a redução da velocidade para 0 km/h. Para que a composição volte a circular é preciso que o maquinista solicite a liberação ao Centro de Controle Operacional (CCO), que libera a circulação, delimita a velocidade no caso de 35 km/h porque o trem estava se aproximando da estação, e transfere a autonomia do tráfego para o maquinista.

Acredita-se que isso aconteceu e, por alguma razão, a maquinista sim, era uma mulher quem conduzia o trem que se chocou com o que estava parado na Estação Ipiranga não percebeu a composição à frente. A busca, agora, é pelos atenuantes para esse fato. Precisamos saber se ela, por alguma razão que não atenda ao protocolo da operação, perdeu a atenção, ou se as condições do momento a impediram de ver o trem parado, raciocina um funcionário experiente do metrô. Entre os possíveis atenuantes está o fato de a Estação Ipiranga ficar numa curva, o que dificulta a visão dos maquinistas. O ângulo de visão também pode ter sido prejudicado pelo sol, que no horário do acidente (entre 5h30 e 6h) atinge a composição de frente.

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Mas, na avaliação dos metroviários ouvidos pelo JC, o principal atenuante são os problemas apresentados pelo sistema de sinalização. Como eles têm sido comuns devido à falta de manutenção e, principalmente, reposição dos fios roubados fato que mais prejudica a eficiência do controle eletrônico, os maquinistas e o próprio CCO estão se acostumando com as falsas informações e a necessidade de liberar o tráfego manualmente. Assim, o risco de pequenos e grandes acidentes é maior. Por isso não se pode culpar apenas o maquinista. Na verdade, o nosso ATC (Controle de Tráfego Automático) precisa ser modernizado, argumenta um engenheiro do metrô. Há informações extraoficiais de que, somente durante a paralisação da Linha Centro na terça-feira, 50 cabos teriam sido roubados dos trilhos do sistema.

Para quem não sabe, o sistema de sinalização de um metrô é o que garante a segurança da operação, informando ao CCO a posição de cada composição, permitindo a harmonização entre elas para garantir intervalos mais curtos entre as viagens e evitar exatamente colisões como a que aconteceu. São sistemas que precisam de modernização, o que não é o caso do utilizado pelo Metrô do Recife, instalado em 1985. A Linha Centro, por exemplo, operou sem o sistema por muito tempo entre as estações Rodoviária e Camaragibe. O trecho passou a contar com o equipamento somente em 2010. O VLT, que opera no extremo da Linha Sul, até hoje não possui ATC.

E por que um sistema de sinalização falha Porque está velho, sem manutenção ou modernização. E por que isso acontece? Por duas razões: não há recursos para garantir uma boa manutenção e/ou porque falta capacidade técnica para prever os problemas provocados pelo desgaste do sistema, que fica instalado nos trilhos e precisa de manutenção constante, permanente. A leitura que fazemos do acidente com o metrô é um problema que vai desde os grampos que seguram os trilhos aos dormente em péssimas condições, passando pelas falhas na sinalização, que fazem o maquinista pensar que pode seguir quando, na verdade, não pode. Esse trecho do acidente já vinha sendo questionado por vários profissionais. Até um documento denunciando as falhas foi encaminhado à superintendência há mais de um mês. Já tivemos veículos que fazem a manutenção da rede aérea recolhidos pela falta de comunicação nesse trecho, denuncia o presidente do Sindicato dos Metroviários de Pernambuco, Adalberto Ferreira.

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