O que você faria se um ente querido estivesse em coma durante anos? Como você explicaria tudo o que aconteceu enquanto ele "dormia"? Tiraria fotos, gravaria vídeos, escreveria cartas e/ou criava um blog? Foi isso que Bettina Bopp, irmã de Itamar Bopp, resolveu fazer: criou o blog intitulado "Para Quando Você Acordar". O espaço funciona como um diário onde ela escreve sobre conversas do dia a dia.
"Saudade engole a gente", escreveu Bettina. Reprodução Facebook/ Para Quando Você Acordar
Itamar sofreu um infarto e uma longa parada cardíaca aos 41 anos, em 2005. Entre as primeiras postagens do blog está o depoimento de Bettina "Durante quarenta minutos, o Ita precisou escolher se ficava ou ia embora. Decidiu ficar, apesar do que iria passar. Coragem? Carma? Acaso?". A irmã explica que o que aconteceu com Ita - apelido carinho de Itamar - despertou nela sentimentos desconhecidos. "O tempo me mostrou que abrir a ferida também pode curá-la", escreveu.
Reprodução Facebook/Para Quando Você Acordar
Criado a há cerca de dois anos, o blog já conseguiu atingir/emocionar leitores de 27 países. "Você não vai acreditar, mas você está espalhado pelo mundo... Mesmo sem querer, você viaja pelo mundo como o anão do Fabuloso Destino de Amelie Poulain. Está em lugares que nunca esteve antes. Acho que uma das razões porque fiz o blog foi essa. Colocar você pra andar por aí. Trazer você pra junto de mim, de nós, dos outros", escreve no texto Uma história para contar de um mundo tão distante.
Países em que o blog foi lido. Reprodução: Para Quando Você Acordar
No Brasil, o músico Sérgiomar resolveu homenagear em Ita de um jeito ainda mais especial, criou a música "Para quando você acordar". Pelo Facebook - que já conta com quase 4 mil curtidas - Bettina agradeceu ao músico e ao SESC de Porto Velho.
Leia um pouco mais dos depoimentos de Bettina:
"Escolho a leveza do peso. Escolho significados. Você é meu irmão com um coração enorme e agora tão frágil que tenho medo de não existir. Você dorme um sono profundo. Talvez fale, mas não tenho um ouvido treinado pra escutar. Você tem luz e, embora sutilmente, espalha sementes por ai. Aprendi com você e por você a defender com fúria nosso ninho. E esperar. Porque não é a todo o momento que se tem um beija-flor nas mãos". Trecho do texto Eu protegi seu nome por amor.
"Outro dia a mãe estava revirando caixas de fotos. Em uma delas, junto de moedas sem valor, carretéis sem linha e santinhos amassados – sim, essa ainda é a mãe – encontrei um bilhete seu, daqueles que você colocava na porta do quarto: “Pai, me acorda às 6:30. Beijo, Ita.”. Você está atrasado, já passou da hora. O pai nem está mais aqui. Acorda, Ita. Para esquecer todos os dissabores, refazer todas as lembranças de ti e não sentir mais saudades de mim!" Trecho do texto Um relicário imenso deste amor.
Todos os dias, indo ou voltando do hospital, eu ouvia Quanto tempo será que demora um mês. E achava que era isso. Você acordaria em no máximo um mês e seria tudo como antes – daqui a um mês, quando você voltar, a lua vai tá cheia e no mesmo lugar. Já esperei mais ou menos umas 120 luas cheias e nada de você voltar". Trecho do texto Mal posso esperar o dia de ver você voltando pra gente.
