Seguindo a retrospectiva da temporada de Santa Cruz, Náutico e Sport nas duas últimas Copas do Mundo vamos agora relembrar o ano de 2006 do Timbu, e com certeza será de boas histórias para os alvirrubros, afinal, o time conquistou uma vaga para a primeira divisão do Campeonato Brasileiro.
Esquecer o dia 26 de novembro de 2005 foi o maior desafio para o Náutico na temporada. Para quem não lembra essa data marcou um dos jogos mais incríveis da história do futebol e ficou conhecido como 'A Batalha dos Aflitos'. Náutico x Grêmio entraram nos Aflitos brigando por uma vaga na Série A e, depois de ter quatro jogadores expulsos, o Grêmio conseguiu marcar um gol com o jovem meia atacante Anderson, gol esse que deu a vitória aos gaúchos.
É bom lembrar que o Náutico também perdeu dois pênaltis (Bruno Carvalho e Ademar) e assim teve que esperar mais um ano para voltar a primeira divisão. Passado o relato da história mais triste dos Aflitos, vamos falar de coisas boas no Timbu. O problema é que elas demoraram a acontecer. Uma reformulação geral no elenco atrapalhou o desempenho em campo e o Timbu não se classificou à final do Pernambucano.
Para a Série B 2006, a primeira no formato dos pontos corridos, o Alvirrubro resolveu apostar em Roberto Cavalo no comando técnico. Ele que havia sido demitido após o fracasso na Série B 2005, foi para o Santo André-SP mas retornou aos Aflitos poucos meses depois. Foram dez rodadas antes da parada da Copa do Mundo e o alvirrubro terminou na terceira colocação com 17 pontos, cinco vitórias, dois empates e três derrotas.
Também nesta temporada, o Náutico teve uma de suas melhores duplas de ataque em um ano, com o artilheiro e ídolo Kuki e Felipe, que também se transformaria em ídolo, mas com menor intensidade. Na primeira rodada uma vitória apertada e de virada sobre o Brasiliense por 3x2, no estádio do Arruda, com portões fechados, por causa dos incidentes na 'Batalha dos Aflitos' no ano anterior.
Depois de estar perdendo por 2x0, o Náutico, graças a Flávio (volante), Betinho (hoje no Santa Cruz) e Netinho. Este último, inclusive, era um bom meia cobrador de faltas que pertencia ao Atlético-PR, onde retornou ao final da temporada, e deixou saudades nos Aflitos. Hoje defende o Vila Nova-GO.
Após a boa estreia os alvirrubros tiveram uma parada dura na segunda rodada. Encararam o Atlético Mineiro, futuro campeão da Série B daquele ano, e perderam por 3x1, de virada, no Mineirão. Sidny abriu o placar mas Marinho, duas vezes e Ramon (que depois de gordo jogou no próprio Náutico em 2012) deram a vitória ao Galo.
Nas duas rodadas seguintes, uma vitória (Paysandu, 3x2 nos Aflitos) e um empate diante do Guarani-SP no Brinco de Ouro por 2x2. O momento parecia ser favorável aos alvirrubros, em quinto colocado com sete pontos, mesma pontuação do Coritiba que estava em quarto. Mas instabilidade era a palavra-chave nos Aflitos e tudo mudava rapidamente, tanto para o bem, quanto para o mal.
Bastou uma derrota, por 3x2, em casa, para o Vila Nova,lanterna da competição, e o técnico Roberto Cavalo foi demitido. Paulo Campos, ex-Fluminense, assumiu o cargo e o objetivo de readquiri a paz no Eládio de Barros Carvalho. Nos quatro jogos seguintes, três vitórias (Ceará, CRB e Portuguesa) e um empate (Remo).
Com isso, o clube conseguiu afastar a crise e retornar ao pelotão de cima. Encerrou para o Mundial com derrota por 1x0 para o Paulista-SP. Passaram-se pouco mais de 30 dias, a Itália levantou o quarto título Mundial, e o Brasil foi um fiasco. Ronaldo e Adriano quase não se moveram contra a França; Kaká e Ronaldinho apareceram apenas na escalação, em campo ninguém viu. Resultado final - França um a zero no Brasil.
Voltando para a Série B e a trajetória do Náutico, os alvirrubros retornariam em grande estilo, com duas vitórias e a liderança assegurada. Uma delas sobre o maior rival, o Sport. Nos Aflitos, o Timbu superou o Leão com uma vitória por 2x1, para ficar na ponta da tabela. Na rodada seguinte, uma goleada por 4x0 para o Marília que deixou o técnico Paulo Campos na bronca com a arbitragem do jogo.
Tudo por conta de um pênalti mal marcado, a repetição na cobrança perdida por Bruno Ribeiro, que depois converteu, e a expulsão do zagueiro Jamur. Dois empates seguidos contra Coritiba e São Raimundo, respectivamente, tiraram a liderança do Timbu. Nas quatro últimas rodadas foi impecável e fez mais que o dever de casa, pontuou também fora e se manteve entre os quatro mais bem classificados.
Gama, Avaí e Santo André foram as vitórias; e contra o Ituano terminou no empate. O objetivo agora era se manter na briga pelo título, já que com essa filosofia de trabalho a vaga para a Série A era certa. Venceu bem o Atlético Mineiro nos Aflitos por 3x0, em noite inspirada do artilheiro Felipe, autor dos três gols no jogo.
Com moral elevada e o grupo unido, o Náutico começou a dar passos mais largos rumo a primeira divisão. A goleada por 4x1 em cima do Guarani nos Aflitos foi uma bela amostra. Com o resultado o Timbu abria dois pontos de vantagem sobre o Coritiba e cinco para o Sport, quarto colocado. Mas outra vez o time deu uma recaída e perdeu a ponta, e dessa vez para o rival Sport.
Na 25° rodada, após o empate com o Ceará, o Sport aproveitou, venceu o América-RN e assumiu a primeira colocação. A briga entre os pernambucanos estava boa, atrás vinha o Coritiba e logo depois o Atlético Mineiro, crescendo a cada rodada. Na 28° rodada empatou em pontos com o Galo, 48, mas perdeu logo na rodada seguinte por causa do empate diante do Paulista nos Aflitos, 3x3. Mais uma vez oscilou e quase perdeu uma vaga no G-4. Na 31° rodada não suportou o Sport na Ilha do Retiro e perdeu por 2x1, jogo esse que demitiu o técnico Paulo Campos.
Hélio dos Anjos assume e leva o Náutico à Série A
O técnico Hélio dos Anjos, campeão da Série B em 1999 com o Goiás, chegou com o objetivo de repetir a façanha pelo Náutico, não conseguiu a taça, mas levou o Timbu de volta a primeira divisão depois de 12 anos, já que a última vez havia sido em 1994. Aliás, Hélio voltava ao clube 13 anos após a sua primeira passagem como técnico.
Assumiu o time na vitória por 2x1 sobre o Marília. Conquistou um empate de extrema importância no Couto Pereira contra o Coritiba, que se vencesse passaria o Timbu. Goleou o São Raimundo nos Aflitos por 5x1 e venceu apertado o Gama, por 1x0, e ficou a quatro pontos do quinto colocado.
Vitória sobre o Ituano e acesso após 12 anos
O dia 19 de novembro de 2011 querendo ou não cheirava a 'Batalha dos Aflitos'. Os alvirrubros não queriam repetir o filme de 2005, é claro. Como também não queriam tomar sustos, pois os corações vermelho e branco ainda não estavam 100 por cento curados, sentiam pequenas dores que seriam curadas apenas após os 90 minutos contra os paulistas.
O estádio dos Aflitos estava lotado, parecia até mais do que contra o Grêmio, mais de 20 mil alvirrubros se entrelaçando nas arquibancadas do Eládio de Barros Carvalho. A certeza de que o final seria feliz era grande, afinal, ninguém acreditava que o raio iria pela primeira vez, cair duas vezes no mesmo lugar. Foi um dos jogos mais emocionantes para os alvirrubros, que desta vez, choraram de alegria ao apito final do árbitro.
Em campo um time apreensivo e querendo resolver o jogo logo nos primeiros minutos; nas arquibancadas, quase o mesmo panorama do gramado onde estavam os 11 mais novos guerreiros vestindo vermelho e branco, mas com um pouco mais de tensão. Mas os guerreiros demoraram para dar o alívio aos torcedores.
Os gols saíram apenas no segundo tempo, primeiro com Capixaba, aos três minutos, após boa tabela entre Felipe e Kuki. 21 minutos depois veio o gol da consagração alvirrubra na temporada. Felipe, aos 24 minutos, chutou forte de perna esquerda para marcar o segundo e colocar o Náutico na primeirona. Pronto, 358 dias depois da Batalha dos Aflitos, o Náutico superava a dor, cicatrizava a ferida e voltava à elite nacional.
O jogo merece até ficha técnica, com as escalações das duas equipes, mas somente após falar do último compromisso alvirrubro na Série B. Um empate por 1x1 com o Santo André marcou a despedida do Náutico na Série B, que terminou na terceira colocação com 64 pontos.
Ficha de jogo Náutico x Ituano
Náutico: Eduardo; Sidny, Breno, Leandro Eusébio e Jaime (Sérgio Manoel); Luciano Totó, Vágner Rosa, Luís Carlos Capixaba e Nildo (Marcelo Ramos); Kuki e Felipe. Técnico: Hélio dos Anjos.
Ituano: André Luiz; Ricardo Lopes, Romildo, Erivélton e Daniel Moradei; Adriano, Jhonny (Rafael Tesser), Paulo Santos e Reginaldo; Gilson (Moré) e Cris (Beto). Técnico: José Carlos Drey.
Local: Estádio Eládio de Barros Carvalho (Aflitos).
Árbitro: Antônio Hora Filho (SE). Assistentes: Almirdrovandro da Silva Lima (SE) e Ivaney Alves de Lima (SE).
