
Longe de todo glamour que cerca os grandes astros do futebol, atletas de divisões inferiores do desporto acabam sofrendo desilusões. Entre um calendário e outro, o fim precoce das competições deixa inúmeros desempregados por até um semestre inteiro. Aconteceu com o goleiro pernambucano Gleibson. Em 2017, o jogador passou cinco meses sem trabalho. Pensou em desistir do sonho. Mas, aos 31 anos, a temporada 2018 consagrou aquele rapaz do Córrego do Jenipapo, zona norte do Recife. Com a titularidade do cearense Ferroviário, Gleibson ergueu o troféu de Campeão Brasileiro da Série D.
"Ano passado, passei cinco meses desempregado. Agora sou campeão brasileiro", diz o pernambucano. As coisas não estavam dando certo. Depois de deixar o Salgueiro, com a família incluindo dois filhos pequenos, aluguel para pagar e outros familiares dependendo dele, o goleiro passou a procurar emprego formal. Batia nas portas, fazia entrevistas e mandavam que ele aguardasse uma resposta em casa. O retorno nunca vinha. Hoje, Gleibson afirma com convicção quanto às negativas: "Deus sabe o que faz".
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Como boa série dramática que pode ser a vida, uma reviravolta, conhecida também como "plot twist", mudou a situação do jogador. "Foi passando o tempo. No quinto mês, um time do Ceará me ligou", relembra. Era o Iguatu. Lá, disputou o Campeonato Cearense deste ano e se destacou, sendo considerado um dos melhores de sua posição. Assim, o Ferroviário o contratou para jogar a Quarta Divisão nacional.
Mas Gleibson não assumiu a titularidade logo de cara. Integrou a equipe principal do campeão apenas no mata-mata. Nas oitavas de final, passou pelo Altos-PI, com um empate em 1x1 em casa e uma vitória por 4x2 na volta. Depois, o adversário foi o paraibano Campinense. Para o arqueiro, o mais difícil dos confrontos. Afinal, era a que valia o acesso à Série C do Campeonato Brasileiro.
Em casa, o Ferrão venceu por 3x2, mas a vantagem sumiu na volta, com o time de Campina Grande levando a melhor no tempo normal, vencendo por 1x0. O placar agregado forçou a disputa de pênaltis e uma cobrança do rival na trave garantiu o acesso do Coral Cearense. Mas a caminhada não ficaria por ali.
A semifinal foi contra o gaúcho São José. A vitória por 3x1 no Castelão fez com que a derrota por 2x1 na volta não pesasse. Assim, o time cearense foi para a final. Do outro lado, novamente um time paraibano de Campina Grande. Goleou o Treze na ida por 3x0, na arena de Fortaleza, e perdeu a volta por 1x0.
O Ferroviário venceu a ida por 3x0 e perdeu a volta para o Treze por 1x0. Foto: Divulgação/CBF
Agora, ele curte um pouco as duas semanas de férias com a família, para depois voltar ao Ferroviário e disputar a Taça Fares Lopes. Em casa, Gleibson aproveita para levar seu pequeno Kleberson de 5 anos para os treinos de futsal no Sport. Mas nada de luvas. O garoto joga na linha.
"Meu amuleto. Todos os jogos que ele vai, a gente ganha. O jogo que ele não foi, mas passei por aqui, contra o Campinense, passei no caminho, porque viemos para o Recife de avião. Vi ele no caminho. Dei um abraço, ele chorou e não queria sair do meu braço", explica o pai.
O contrato de Gleibson com o Ferroviário vai até o final deste mês, mas o goleiro revela que o clube sinaliza a renovação. Enquanto isso, ele divide sua experiência com Náutico e Santa Cruz, que disputam o acesso à Série B em formato similar ao disputado pelo goleiro.
"Náutico e Santa Cruz não são times de Série C, são para B ou A. Eles têm totais condições de subir, mas a Série C é mais difícil. Porque são times que buscam mais, querem também seu lugar ao sol. Vai dar certo para eles", completa o arqueiro pernambucano e mais novo campeão brasileiro.
COMEÇO
Antes da estrela de campeão nacional no peito, Gleibson peregrinou pelo futebol. Começou na base do Náutico, onde passou cinco anos e saiu aos 18. O clube dava dois vales transporte. "Ou eu ia para a escola ou treinar. Eu estudava no Derby. O professor já sabia que eu não assistia à última aula e ia andando até os Aflitos. Às vezes até de bicicleta também ia para chegar até o treino", relembra.
Seguiu para o Salgueiro e logo depois ABC, com o treinador Didi Duarte. Na equipe potiguar, o goleiro se sagrou campeão sub-20. "De lá, comecei a rodar. Voltei para Pernambuco, joguei na Cabense, subi, tive acesso com o América para jogar a Série A1. Fui para Natal de novo, no Alecrim. Passei só um mês lá, não deu certo e fui para o Salgueiro, onde passei quatro anos", conta.
Poucas foram as chances de Gleibson como titular no Carcará, mas um jogo do Hexagonal do Campeonato Pernambucano é destacado pelo atleta. "Em 2016 joguei contra o Sport. Foi a primeira vez em que o Salgueiro venceu na Ilha do Retiro", relembra.
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