Por Marcelo Pereira
Editor Executivo de Esportes do SJCC
Não era por acaso que torcedores do Santa Cruz estavam reunidos no Largo de Santa Cruz, na noite de segunda-feira. No coração do bairro da Boa Vista, foi ali que onze meninos jogavam bola quando decidiram fundar o Santa Cruz Foot-Ball Club, em 3 de fevereiro de 1914.
Quintino Miranda Paes Barreto, José Luiz Vieira, José Glacério Bonfim, Abelardo Costa, Augusto Frankin Ramos, Orlando Elias dos Santos, Alexandre Carvalho, Oswaldo dos Santos Ramos e Luiz de Gonzaga Barbalho Uchôa Dornelas Câmara não imaginavam a dimensão e a história que estavam construindo.
Vídeo registra hora em que organizada do Sport chega ameaçando festa de torcedores do Santa Cruzhttps://t.co/qfweisCawg pic.twitter.com/pkhKAVIKIq
— Jornal do Commercio (@jc_pe) February 4, 2020
O clube popular que nasceu alvinegro foi o primeiro em Pernambuco a ter em suas linhas um jogador de cor negra em tempos do futebol maciçamente praticado por brancos, e que depois adotou o vermelho, que representava os índios e os mestiços, tornando-se tricolor.
A arruaça provocada por baderneiros de torcida organizada ignominiosa do rival Sport Club do Recife é um desrespeito a memória daqueles jovens, é um desrespeito à história do Santa Cruz, que “nasceu e vai viver eternamente”.
É uma ameaça à paz social e a integridade de crianças, jovens, adultos, de famílias, enfim, que estavam confraternizando numa alegre noite de segunda-feira de verão.
Acima de tudo, é um ato covarde, que merece ser repudiado por todos, como foi imediatamente rechaçado pela direção do próprio Sport e do Santa Cruz. Além do repúdio, deve haver investigação e punição aos culpados pela confusão.
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Cabe um chamamento aos presidentes dos clubes de futebol de Pernambuco, da Federação Pernambucana de Futebol, dos poderes públicos e autoridades policiais e judiciárias para que haja um banimento da vida dos clubes e dos estádios desses indivíduos que agem de forma marginal.
É uma atitude covarde dessas instituições, notadamente dos clubes e de seus dirigentes, a de ficar jogando a bola de um lado para o outro, sem tomar para si a responsabilidade e a decisão política de agir de forma intransigente contra os membros de torcidas organizadas que promovem a violência.
O abrigo dado por dirigentes nos clubes, estádios e comemorações é um câncer que alimenta esses vândalos.
Não deixem pois, senhores, que manchem o nome, o pavilhão, a história, de sangue, de ódio e de covardia.