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E-mails apontam conhecimento do Flamengo sobre problemas elétricos no Ninho do Urubu

Karoline Albuquerque
Karoline Albuquerque
Publicado em 09/09/2020 às 21:00
Incêndio no Ninho do Urubu deixou dez garotos mortos. Foto: Thiago RIBEIRO / AGIF / AFP
Incêndio no Ninho do Urubu deixou dez garotos mortos. Foto: Thiago RIBEIRO / AGIF / AFP

Em fevereiro de 2019, um incêndio no Centro de Treinamento Ninho do Urubu matou dez meninos das categorias de base do Flamengo. Agora, mais de um ano e meio depois, o site Uol Esporte divulgou e-mails obtidos que mostram que o clube carioca tinha conhecimento dos riscos no alojamento dos garotos, por causa da precariedade das instalações elétricas, desde o dia 11 de maio de 2018.

Os problemas elétricos do local haviam sido observados semanas antes e um técnico de segurança do trabalho fez uma inspeção. O gerente de administração rubro-negro Luiz Humberto Costa Tavares, a gerente de recursos humanos Roberta Tannure e outro funcionário, identificado como Douglas Silva Lins de Albuquerque, receberam o relatório por e-mail, remetido por Wilson Ferreira, funcionário do departamento pessoal. Em anexo, imagens mostravam os problemas no quadro elétrico atrás do alojamento da base.

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"A avaliação foi realizada na presença do Sr Adilson, da empresa CBI, este indicado pelo Sr Luiz Humberto [Gerente de Administração do Flamengo], sendo comprovado as não-conformidades e suas gravidades. Conforme a avaliação do Sr Adilson e relatório anterior, a situação é de alta relevância e grande risco, ficando este de apresentar uma proposta ao Sr Luiz Humberto para atendimentos emergenciais de alguns pontos: quadro elétrico (poste ao lado do refeitório), disjuntores e fiação no jardim, quadro elétrico atrás do alojamento da base", diz o relatório divulgado pelo Uol Esporte.

Porém, os problemas foram deixados de lado. Em parte do e-mail fica explicito que "as irregularidades abaixo não serão tratadas no momento". O motivo para adiar era a demolição das instalações até o final de 2018. "(...) deixando claro que caso haja fiscalização e autuação o argumento mesmo que evidente não justifica a irregularidade, ficando a critério do órgão fiscalizador a penalidade ou intervenção". Tais instalações novas, porém, não ficaram prontas.

Um dia depois, o e-mail foi encaminhado pelo gerente Luiz Humberto para o diretor executivo de administração do Ninho do Urubu, Marcelo Helman. Ele acrescentou à mensagem outros detalhes, afirmando ainda que iria solicitar outros orçamentos.

"Falamos com o Marcelo Sá, que estava no CT, a respeito dessas instalações (não sabiam se foram feitas pelo patrimônio ou se já vêm de longa data, no esquema 'faça-de-qualquer-jeito' que os antigos administradores atuavam). Sá achou por bem solicitar que o Adilson (engenheiro eletricista que fez a instalação elétrica do CT -que você conhece) acompanhasse para verificar a real situação e elaborasse, caso seja necessário, um primeiro orçamento para colocarmos as instalações elétricas em dia", escreveu.

Os reparos elétricos nunca foram feitos, de acordo com a Anexa Energia, empresa que produziu o parecer após a tragédia no centro de treinamento. A empresa que orçou o conserto dois dias depois, prevendo 10 dias para corrigir o problema no valor de R$ 8.550 emitiu duas notas fiscais, em 25 de maio e 1º de outubro de 2018. A inconsistência gerou uma briga judicial entre o Flamengo e a Anexa.

O Uol Esporte acrescenta que o advogado da Anexa, Carlos Alberto Almeida Moreira da Silva, disse que o clube autorizou "a análise de toda rotina administrativa do clube, na qual foram encontradas diversos emails, dentre um que mais chamou atenção no qual um técnico de segurança do trabalho do próprio clube alertou sobre as péssimas condições das instalações elétricas e o iminente risco de incêndio, em maio de 2018, para confrontar com a vistoria técnica realizada pela Anexa em fevereiro de 2019, logo após o incêndio, para ao final emitir o parecer técnico sobre a possível causa da tragédia".

Integrantes da alta cúpula da atual gestão flamenguista citam um dos e-mails, com ao menos um diretor executivo à época da tragédia ciente dos problemas do alojamento.

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