CURIOSIDADE

Histórias do futebol: O dia em que o ponta do Santa Cruz demitiu o lateral do Sport

Na década de 80, diretoria do Sport contratou Paulo SIlva para segurar o habilidoso atacante tricolor Marlon. Não deu certo e o jogador do Leão teve passagem meteórica na Ilha

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Marcelo Cavalcante

Publicado em 05/07/2021 às 12:32 | Atualizado em 05/07/2021 às 20:14
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Marlon foi um dos grandes pontas-direitas que passaram no futebol pernambucano. Foi contratado pelo Santa Cruz em 1985. No primeiro ano, mostrou qualidade de sobra. Mas só em 1986 foi que a sua estrela realmente brilhou. Jogou muito: velocidade, inteligência, dribles desconcertantes, grandes assistências e frieza nas finalizações. Um jogador moderno para uma época em que o ponta jogava firme na extremidade do campo. E foi no seu segundo ano vestindo a camisa do Santa Cruz que Marlon protagonizou uma história curiosa que ele já mais esqueceu: causou a demissão do lateral-esquerdo do Sport, Paulo Silva, que só vestiu a camisa do Leão apenas uma vez.

No dia 30 de março de 1986 estava marcada a decisão do primeiro turno do Campeonato Pernambucano, entre Sport e Santa Cruz, na Ilha do Retiro. Uma partida que prometia ser equilibrada. Pelo lado do Sport, a dupla ofensiva formada por Zé Guimaraes e Luís Carlos estava afinada e prometia infernizar a zaga tricolor. Mas a grande estrela estava do lado tricolor. Só se falava em Marlon. Os diretores do Leão tentavam encontrar uma forma de parar o ponteiro. O que fazer? Pensaram, pensaram e resolveram contratar. Do futebol goiano, trouxeram Paulo Silva, que chegou com fama de marcador implacável e anunciado pela imprensa como o jogador que pararia o atacante coral.

Naquela época, o futebol não tinha tanta versatilidade como hoje. O ponta direita era praticamente um fixo. E o lateral-esquerdo tinha, entre outras funções, a de marcar o ponta. Marlon, pela sua qualidade, flutuava... difícil pará-lo. Mas Paulo Silva chegou botando banca e cheio de pompa. "Na véspera do jogo, a diretoria do Santa Cruz me mostrou as entrevistas que ele concedeu à imprensa, dizendo que não me conhecia e que de ponta direita com qualidade só conhecia Renato Gaúcho e Garrincha. Isso me deu uma motivação enorme", relembra Marlon, que ainda hoje mora no Recife.

Thiago Lucas/ Artes JC
Marlon X Paulo silva - Thiago Lucas/ Artes JC

Paulo Silva não imaginava o que sofreria. Quando a bola começou a rolar, o Sport foi para cima do Santa Cruz e abriu o placar logo no primeiro minuto de partida, com Zé Guimarães. Mas, depois dos 15 minutos, o Santa Cruz cresceu e equilibrou o clássico. Foi então que Marlon começou a brilhar. "Eu deitei e rolei para cima dele", conta Marlon. E foi mesmo. Dribles desconcertantes, o atacante só era parado por Paulo Silva com faltas. Muitas vezes, violentas. O lateral fez, no mínimo, 15 infrações no primeiro tempo. Levou um cartão amarelo. No começo da segunda etapa, o Santa Cruz empatou com o zagueiro Lula. E Paulo Silva continuou sendo driblado por Marlon. E só parava nas pancadas. Até que recebeu o cartão vermelho do árbitro Aristóteles Cantalice.

Mesmo com o Santa Cruz jogando melhor e com o jogador a menos, o Sport conseguiu segurar o empate no tempo normal e na prorrogação graças a boa atuação do goleiro Paulo César. A bronca maior para os rubro-negros foi a disputa dos pênaltis. Henágio (ídolo do Santa Cruz, mas que naquele ano vestia camisa rubro-negra), Cléo e Luiz Carlos perderam para o Sport. Rommel, Marlon e Neto fizeram 3x0 para o Tricolor. Santa Cruz campeão do turno. A dor de cabeça dos rubro-negros foi enorme. E a decepção com o Paulo Silva foi tanta que o atleta foi dispensado dias depois. Ou seja, o lateral teve uma das passagens mais meteóricas pela Ilha do Retiro: chegou, falou, jogou, foi expulso e foi embora.

Marlon lembra que, após a conquista do título pernambucano daquele ano, o Santa Cruz encarou o Brasileirão bastante confiante. E, numa partida contra o Goiás, deu de cara com quem??? Ele mesmo, Paulo Silva. "Nos reencontramos e, desta vez, ele foi mais humilde. Conversamos. Mas eu me dei bem de novo. Dei duas assistências para os gols do meu amigo Jarbas. Vencemos por 2x0", relembra. Marlon só tem boas lembranças do Santa Cruz. Vestindo a camisa coral chamou a atenção do Brasil. Chegou a ser convocado para seleção brasileira de novos. O duelo contra o Goiás foi a última partida de Marlon pelo Tricolor. Trocou o Arruda pelo futebol português, onde atuou por dez anos.

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