Por Catarina Hanne*
E daí que estamos com mais um dia de luta árdua nas UTIs?
E daí que mais uma vez ligo atrasada para as famílias, porque é a hora que conseguimos terminar os procedimentos, definir o plano terapêutico das próximas horas?
E daí que hoje faltou o principal opióide da terapia intensiva?
E daí que não temos onde comprar esse opióide?
E daí que daqui a pouco poderão faltar outras drogas, além de ventilador, médicos, técnicos de enfermagem, enfermeiros, fisioterapeutas?
E daí que mais um colega adoece e cada vez tem menos quem possa substiruí-lo?
E daí que eu tenha que dá mais uma notícia ruim para aquele filho, para aquela mãe? E daí que mais um paciente tenha falecido e com ele toda a esperança de uma família?
Famílias que estão perdendo o abraço, o cheiro, o fôlego, o emprego... A vida!
Não, Vossa Excelência, não queremos milagre... Não de você... Embora pense que é Deus, sabemos que nem é Deus e está muito longe de ser santo, ou profeta ou messias como alguns tontos querem falsamente pregar!
De você, só exigimos respeito... Se não sabe falar nada, se não tem nada para falar... Me permita uma humilde sugestão do que a medicina duramente tem me ensinado nesses 23 anos... Quando a gente não tem o que falar, a gente faz silêncio! Mas não esqueça, no seu posto, respeito não é virtude, é dever!
*Catarina Hanne, médica da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Júlio de Melo/Hospital Universitário Oswaldo Cruz, no Recife
"E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?"
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nessa terça-feira (28) que lamenta a escalada de mortes causadas pelo novo coronavírus no Brasil, mas não faz milagre. A declaração ocorreu no dia em que o País somou 5.017 óbitos pela covid-19, superando o total registrado na China, 4,6 mil.
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"E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre", disse a um repórter em frente ao Palácio do Alvorada, em Brasília. A resposta provocou risos de apoiadores do presidente que estavam na grade instalada no local.
Momentos depois, na mesma entrevista, Bolsonaro disse se solidarizar com as famílias das vítimas. "Mas é a vida. Amanhã vou eu. Logicamente, a gente quer ter uma morte digna e deixar uma boa história para trás", disse o presidente.
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