COLAPSO

Corrupção e má gestão agravam situação do coronavírus no Amazonas, diz especialista

Mais de mil pessoas já morreram e 13 mil foram infectadas no Amazonas

Cadastrado por
Agência Estado
Agência Estado
Agência Estado
Publicado em 13/05/2020 às 7:52
MICHAEL DANTAS/AFP
Corpo de Estevão Pereira, de 92 anos, é removido de sua casa em Manaus, no Amazonas. Ele morreu com sintomas da covid-19 - FOTO: MICHAEL DANTAS/AFP

O quadro dramático na saúde do Amazonas, onde o novo coronavírus já matou mais de mil pessoas e infectou quase 13 mil até a manhã desta terça-feira, tem também motivos anteriores à pandemia. A covid-19 atingiu um Estado com um sistema fragilizado por má gestão e desvios milionários de verbas, que ocorrem há vários governos, disse o presidente do Conselho de Medicina local, José Bernardes Sobrinho.

Desde 2016, o Operação Maus Caminhos, do Ministério Público Federal (MPF), investiga o mau uso de verbas. Atualmente, dois ex-secretários usam tornozeleira eletrônica e ex-gestores e empresários já foram presos. Atrasos em salários, que já são baixos, número reduzido de médicos e falta de investimentos completam o cenário que culminou com o desastre sanitário pelo qual passa o Estado. "Digo que é uma tragédia anunciada já há muito tempo. Há má gestão e subtração de recursos", afirmou Bernardes Sobrinho.

As investigações de procuradores da República apontam o médico e empresário Mouhamad Moustafa, sócio e administrador da Salvare Serviços Médicos, como chefe de um esquema criminoso que desviou mais de R$ 100 milhões em recursos públicos. Até o início de março, Moustafa acumulava sete condenações criminais, que somavam 81 anos de cadeia.

Na mesma investigação também apareceram dois ex-secretários de Saúde - Pedro Elias e Wilson Alecrim -, além de funcionários públicos e políticos.

Os desvios ocorreram, conforme as apurações, no Instituto Novos Caminhos, organização social que geria unidades de saúde. As fraudes envolveriam pelo menos quatro empresas e contratos superfaturados. O MPF ajuizou dezenas de ações penais e de improbidade administrativa. Na época das denúncias, os acusados alegaram inocência.

A corrupção tornou críticas as condições de trabalho dos profissionais de saúde. Quase 2 mil dos infectados pela doença no Estado - mais de 10% do total - são trabalhadores do setor. Quinze morreram e, desses, cinco eram médicos, afirmou Bernardes Sobrinho. A contaminação massiva teria sido consequência de um erro: pacientes com suspeita da covid-19 não usavam máscaras ao serem atendidos. "Em locais bem estruturados, a mortalidade é pequena. Curitiba tem 1 mil UTIs. A ocupação até recentemente era de 31%", disse.

Segundo o Conselho Regional de Medicina local, em janeiro de 2019, o órgão contava com 5.114 médicos ativos inscritos. Em janeiro de 2020, o número caiu para menos de 4.865. "Tem uma evasão muito grande. Os médicos estão indo embora de Manaus. Por quê? Primeiro, condições de trabalho ruins. Segundo, o governo paga com três, quatro meses de atraso. Eles vão fazer pós-graduação em São Paulo e Rio e ficam."

Bernardes Sobrinho disse ainda que a falta de UTIs agrava o problema. "Tem uma Sala Rosa no Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto em que todos estão esperando por uma vaga na UTI. Só que desses que estão na Sala Rosa, grande parte morre, não chegam lá Há uma fila de sete, oito esperando lugar", afirmou.

Quando há vaga, a escolha do paciente que vai ocupá-la é feita com base em critérios da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), explicou. "É uma preocupação constante entre nós médicos. Eu sou médico, tenho dois filhos médicos, duas noras médicas e uma neta médica. Se eu ou minha família precisar de uma UTI, vou ter de fretar uma UTI aérea e ir embora para Ribeirão Preto, minha cidade, lá eu consigo UTI. Porque aqui a gente vai acabar morrendo", disse.

Assine a nova newsletter do JC e fique bem informado sobre o coronavírus

Todos os dias, de domingo a domingo, sempre às 20h, o Jornal do Commercio divulga uma nova newsletter diretamente para o seu email sobre os assuntos mais atualizados do coronavírus em Pernambuco, no Brasil e no mundo. E como faço para receber? É simples. Os interessados podem assinar esta e outras newsletters através do link jc.com.br/newsletter ou no box localizado no final das matérias.

O que é coronavírus?

Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

Como prevenir o coronavírus?

O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
  • Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (mascára cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).

Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.

Confira o passo a passo de como lavar as mãos de forma adequada

 

Comentários

Últimas notícias