dia da mata atlântica

Saiba por que 27 de maio é o Dia Nacional da Mata Atlântica

Devido ao desmatamento, restam apenas 29% de um dos biomas mais férteis e importantes do País, com cerca de 20 mil espécies de vegetais

Alice Albuquerque Rute Arruda
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Alice Albuquerque
Rute Arruda
Publicado em 27/05/2020 às 17:36 | Atualizado em 28/05/2020 às 22:37
Agência Brasil
Dia Nacional da Mata Atlântica foi instituído em 1999 - FOTO: Agência Brasil

atualizada às 20h54

Instituído por meio de um Decreto Presidencial em 21 de setembro de 1999, o dia 27 de maio foi escolhido para marcar o Dia Nacional da Mata Atlântica. A data escolhida faz referencia a 27 de maio de 1560, quando o Padre Anchieta assinou a Carta de São Vicente, documento no qual descreveu, pela primeira vez, a biodiversidade das florestas tropicais. O bioma é considerado um dos mais importantes não só para o Brasil como também para o mundo. No País, inclusive, a Mata Atlântica é protegida pela Lei N° 11.428, de 22 de dezembro de 2006, e também é reconhecida como Patrimônio Nacional pela Constituição Federal de 1988.

A Mata Atlântica abrange as maiores cidades e regiões metropolitanas do País. Mais de 80% da produção econômica é gerada na região que, por sua vez, é considerada o centro socioeconômico do Brasil. No entanto, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, a vegetação ocupa apenas cerca de 29% da área de cobertura vegetal devido a ocupação e atividades humanas na região. Originalmente, o bioma ocupava mais de 1,3 milhões de km² em 17 estados do território brasileiro, estendendo-se por parte da costa do País. A estimativa do ministério é que existam cerca de 20 mil espécies vegetais na Mata Atlântica, o que significa aproximadamente 35% das espécies existentes no Brasil. Em relação à fauna, o bioma abriga cerca de 850 espécies de aves, 370 anfíbios, 200 de répteis, 270 de mamíferos e 350 de peixes.

Um levantamento feito pela Fundação SOS Mata Atlântica aponta que o bioma é responsável por garantir a qualidade de vida para mais de 70% da população brasileira. Da sua diversidade dependem serviços essenciais, entre eles o abastecimento de água, pesca, turismo, agricultura, regulação do clima, entre outros.

Uma iniciativa do Ministério do Meio Ambiente implementou o projeto Biodiversidade e Mudanças Climáticas na Mata Atlântica para cooperar com o Desenvolvimento Sustentável Brasil-Alemanha, e também contribuir com a conservação da fauna e da flora, melhorando a qualidade de vida da população.

O projeto utiliza a Adaptação baseada em Ecossistemas (AbE), que inclui o uso da biodiversidade dos serviços do ecossistema na tentativa de ajudar a adaptação da população aos efeitos do desmatamento e das mudanças climáticas.

Para a professora Ana Carolina Lins e Silva, do Departamento de Biologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), o Dia Nacional da Mata Atlântica é de extrema importância para promover a conscientização e preservação do bioma. "A instituição do dia é para você ter essa oportunidade de reflexão, de promover debates, palestras, material informativo, para você trazer essa discussão para compartilhar isso com todo mundo, sair do meio acadêmico e tornar isso mais acessível para as pessoas, é um dia de mobilização e luta. Para a gente mostrar a valorização para as pessoas do bioma", comentou. Ana Carolina ainda disse que, com as várias iniciativas de restauração da Mata Atlântica, é possível que o percentual de vegetação passe dos 30% em alguns anos. No entanto, ela lembrou que é um processo demorado. "Tudo é muito lento. Então qualquer coisa que você comece hoje, vão ter algumas décadas para você ter uma floresta. E por isso que, qualquer iniciativa dessas o quanto antes começa, você vai ter uma perspectiva e aí passa 30 e você está vendo uma 'matinha'", afirmou.

A professora da UFRPE, que faz trabalho de pesquisa no Parque Dois Irmãos, Zona Norte do Recife, ainda comentou sobre uma possível melhora na preservação do bioma devido a pandemia do novo coronavírus, mas que só será possível identificar os efeitos do período quando voltar à 'normalidade'. "A gente sabe que, existem alguns registros de diminuição de poluição nas cidades, tem gente falando que está ouvindo mais aves cantando. Então a gente tem acompanhado isso pela mídia, mas como a gente está sem acesso aos locais, não é possível dizer ainda. Por outro lado, o nosso receio é que, da mesma forma, como a gente está diante de problemas econômicos derivados dessa crise, então pode haver o outro lado da questão. Das pessoas irem mais a mata buscar algum recurso. Buscar madeira para lenha, coisa desse tipo", comentou. "Eu vejo que tem dois lados. Pode ter melhorado, porque diminuiu quantidade de carros passando ao redor, diminuiu a quantidade de pessoas passando. Mas também por outro lado pode ter uma pressão, que a gente não tem como diagnosticar por enquanto", completou.

Segundo ela, está proibido o acesso de pessoas no parque porque ainda não se sabe a consequência do vírus na fauna. "É tanto por uma uma questão de segurança do pesquisador, quanto da própria fauna, porque se um de nós entra doente com o coronavírus, nós não sabemos direito como é que esse vírus na fauna silvestre como seria essa interação", explicou a professora.

Palestra

Em comemoração a este dia, o Programa de Educação Tutorial em Ecologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em parceria com o laboratório de ecologia de mamíferos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), realizou uma palestra nesta quarta-feira (27), às 16h, através de live, com a temática "Mata Atlântica do Sul ao Nordeste: Compreendendo a biodiversidade", que contou com a participação da professora Ana Carolina Lins e Silva, da UFRPE, da professora Marcia Cristina Marques, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e da professora Helena de Godoy Bergallo, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Recife tem Pacto pela Mata Atlântica

Em 2016, em comemoração a Semana do Meio Ambiente, que acontece no início do mês de junho, o prefeito Geraldo Julio (PSB) assinou o Pacto pela Mata Atlântica.

O projeto é uma iniciativa que reúne ONGs, empresas e órgãos públicos, com o objetivo de restaurar o bioma que é representado na cidade com cerca de 6.400 hectares. O acordo prevê parcerias para implantação de mosaicos e corredores ecológicos, uso sustentável dos recursos naturais, instrumentos de fiscalização e controle, políticas de pagamento por serviços ambientais.

De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife, desde 2016 a PCR reforça o compromisso em monitorar as ações desenvolvidas através do plantio de toda a cidade desde 2016.

A meta do Pacto é viabilizar a restauração florestal de 15 milhões de hectares até 2050.

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Biodiversidade do bioma foi descrita pela primeira vez em 1560 - FOTO:Alexandre Gondim/JC Imagem
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Restam apenas 29% das matas, que ocupam áreas onde hoje estão cidades - FOTO:Alexandre Gondim/JC Imagem
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Bioma da Mata Atlântica abriga cerca de 850 espécies de aves, 370 anfíbios, 200 de répteis, 270 de mamíferos e 350 de peixes - FOTO:Alexandre Gondim/JC Imagem

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