O novo coronavírus entrou no Brasil de forma distinta pelo menos cem vezes - na grande maioria das vezes vindo da Europa. A maior parte dessas introduções foi identificada nas capitais com maior incidência de voos internacionais como São Paulo, Minas Gerais, Ceará e Rio de Janeiro.
Apenas uma pequena parcela dessas introduções, no entanto, resultou nas linhagens que se dispersaram por transmissão comunitária no País. Um novo estudo revela que 76% dos vírus detectados até o final de abril se agrupam em três grandes grupos que foram introduzidos entre o final de fevereiro e o início de março e se espalharam rapidamente pelo país antes que as medidas de controle de mobilidade fossem iniciadas.
Os resultados foram obtidos por uma força-tarefa composta por pesquisadores de quinze instituições brasileiras (em conjunto com instituições britânicas), que realizaram o sequenciamento de 427 genomas do novo coronavírus SARS-CoV-2 de 21 no País. O estudo foi publicado na "Science", nesta quinta-feira, 23, com amostras colhidas de pacientes que testaram positivo para o novo coronavírus entre os meses de março e abril em 85 municípios. Trata-se do maior estudo de vigilância genômica do COVID-19 na América Latina.
Nesse estudo, os pesquisadores combinaram dados genômicos de SARS-CoV-2, com dados epidemiológicos e de mobilidade humana para investigar a transmissão do COVID-19 em diferentes escalas e o impacto das medidas de intervenção não farmacêuticas (INFs) no controle da epidemia no país.
Os resultados demonstram que as INFs, como fechamento das escolas e comércio no final de março, embora insuficientes, ajudaram a reduzir a taxa de transmissão do vírus que foi estimada no início do período em superior à 3 para valores entre 1 e 1,6 tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro.
As amostras foram sequenciadas e processadas no Laboratório de Bioinformática do Laboratório Nacional de Computação Científica LNCC/MCTI, coordenado por Ana Tereza Vasconcelos.