racismo

Lilia Schwarcz critica Beyoncé por 'glamourizar negritude' em Black is King

A professora tentou ensinar a cantora Beyoncé, mulher negra, a lutar contra pautas racistas

Alice Albuquerque
Cadastrado por
Alice Albuquerque
Publicado em 03/08/2020 às 16:59 | Atualizado em 03/08/2020 às 20:46
DIVULGAÇÃO
Em diálogo com a música, filme celebra a cultura negra - FOTO: DIVULGAÇÃO

Ao publicar um artigo de opinião na Folha de S.Paulo, a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz criticou a cantora Beyoncé pelo novo álbum "Black is King", lançado na última sexta-feira (31). Ao publicá-lo, a historiadora foi chamada de racista nas redes sociais.

Segundo a professora da Universidade de São Paulo (USP), a cantora erra ao "glamourizar a negritude" no novo álbum e "precisa aprender" a fazer uma luta antirracista que não envolva "pompa" e "brilho". O título do texto já começa apontando o possível "erro", "Filme de Beyoncé erra ao glamourizar negritude com estampa de oncinha", "Diva pop precisa entender que a luta antirracista não se faz só com pompa, artifício hollywoodiano, brilho e cristal", continua.

No entanto, Lilia observa que "o vídeo chega em boa hora" e usa o assassinato de George Floyd como exemplo de que "não existe democracia com racismo" e, logo em seguida, critica a obra. "Não há como negar as qualidades de "Black Is King". Mas, como nada na obra de Beyoncé cabe apenas numa caixinha, causa estranheza, nesses tempos agitados do presente, que a cantora recorra a imagens tão estereotipadas e crie uma África caricata e perdida no tempo das savanas isoladas."

O álbum foi avaliado por muitos como "afrofuturista", movimento estético que projeta o futuro a partir da perspectiva negra africana e diaspórias. Por isso, na obra de Beyoncé as pessoas negras são retratadas como reis e rainhas.

Ao mesmo tempo em que exalta, Lilia desvaloriza o trabalho de Beyoncé e a pauta antirracista utilizada pela cantora. "Mas o álbum decepciona também. Quem sabe seja a hora de Beyoncé sair um pouco da sua sala de jantar e deixar a história começar outra vez, e em outro sentido", finaliza, desrespeitando o local de fala.

Nas redes sociais, Lilia foi chamada de racista por suas críticas à cantora. A cantora Iza se posicionou contra a pesquisadora no Instagram. Ela criticou o trecho que a intelectual, que é branca, tenta ensinar a uma mulher negra como a luta antirracista deve ser feita.

"Meu anjo, quem precisa entender SOU EU. Eu preciso entender que privilégio é esse que te faz pensar que você tem uma autoridade para ensinar uma mulher negra como ela deve, ou não, falar sobre seu povo. Se eu fosse você (valeu Deus), estaria com vergonha agora. MELHORE", publicou a cantora Iza nos storys.

A apresentadora e roteirista Luana Xavier publicou um vídeo no seu Instagram exaltando que a "branquitude precisa se pensar", a partir do texto de Lilia. "A branquitude segue se achando poderosa a ponto de dizer o que está certo e o que está errado em narrativas negras", pontuou. Luana ressalta que uma "pessoa branca" pode ser especialista, mas jamais "conseguirá alcançar a importância que tem para o povo preto um trabalho como o novo álbum Black is King."

Após repercussão negativa e "cancelamento" na internet, Schwarcz se pronunciou no Twitter, dizendo respeitar o trabalho de Beyoncé e pediu desculpas "diante daqueles que ofendi".

Em resposta, a apresentadora do Decore-se da GNT, Stephanie Ribeiro, afirma que os negros "não são obrigados" a dialogar quando deslegitimados: "E mesmo assim estamos dialogando".

A escritora Lorena Pimenta escreveu uma série de tuítes falando sobre o papel das pessoas brancas nas pautas antirracistas fazendo referência ao local de fala.

Comentários

Últimas notícias