Programa de Parcerias de Investimentos

Decreto de Bolsonaro libera estudos sobre a privatização de unidades básicas de saúde

A medida foi vista com desconfiança por alguns gestores de saúde de estados e municípios

Marcelo Aprígio
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Marcelo Aprígio
Publicado em 28/10/2020 às 7:07 | Atualizado em 28/10/2020 às 16:35
ANDREA RÊGO BARROS/PCR
UBS Iná Rosa Borges, no Vasco da Gama, Zona Norte do Recife - FOTO: ANDREA RÊGO BARROS/PCR

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) assinou um decreto que autoriza sua equipe econômica, liderada pelo ministro Paulo Guedes, a preparar modelo de privatização para unidades básicas de saúde (UBS). A medida, que foi publicada no Diário Oficial da União dessa terça-feira (27), incluiu a política de fomento ao setor de atenção primária à saúde no âmbito do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) da Presidência da República, que trata de privatizações. 

O decreto 10.530 prevê a "elaboração de estudos de alternativas de parcerias com a iniciativa privada para a construção, a modernização e a operação de Unidades Básicas de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios." A medida foi vista com desconfiança por alguns gestores de saúde de estados e municípios.

O documento afirma que, inicialmente, a medida permitirá a “estruturação de projetos pilotos, cuja seleção será estabelecida em ato da Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos do Ministério da Economia”. Questionada, a pasta confirmou que a medida pretende fomentar privatização no setor.

Em nota, o ministério comandado por Guedes afirmou que o "principal ponto do projeto é encontrar soluções para a quantidade significativa de Unidades Básicas de Saúde inconclusas ou que não estão em operação no país".

Além disso, a pasta afirma que o PPI irá trabalhar com o Ministério da Saúde e o BNDES na definição de diretrizes e na seleção de "municípios ou consórcios públicos" interessados.

"O objetivo é permitir a construção de um arranjo institucional para a estruturação de projetos de parceria com a iniciativa privada voltada aos entes federados. Nesse sentido, o PPI trabalhará junto ao Ministério da Saúde e ao BNDES na definição de diretrizes para a elaboração deste tipo de projeto, para, posteriormente, selecionar entes federados (municípios ou consórcios públicos) que demonstrem interesse nessas parcerias no setor de saúde", disse em nota enviada ao jornal O Globo.

O Ministério da Economia argumenta que "o principal ponto do projeto é encontrar soluções para a quantidade significativa de Unidades Básicas de Saúde inconclusas ou que não estão em operação no país". A pasta assegurou ainda que a condução da política pública continuará a cargo do Ministério da Saúde. A saúde também foi consultada pela reportagem, mas ainda não respondeu.

— Estamos trabalhando de mãos dadas com o Ministério da Saúde e o BNDES para ampliar as parcerias no setor de saúde. Sabemos do desafio de levar mais infraestrutura e serviços de qualidade a diversos municípios do Brasil e acreditamos que o modelo de PPPs será chave para alcançarmos os resultados que a população tanto merece— , destacou a Secretária Especial do PPI, Martha Seillier.

Desconfiança de gestores

A medida foi recebida com desconfiança entre os gestores municipais e estudais. O Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) afirmou que pediu ao Ministério da Saúde uma nota explicativa sobre a medida.

Já o presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Fernando Pigatto, disse que o o decreto será avaliado pela Câmara Técnica da Atenção Básica (CTAB), que deve emitir um parecer formal sobre o texto e tomar as devidas providências legais.

"Precisamos fortalecer o SUS contra qualquer tipo de privatização e retirada de direitos", disse Pigatto em vídeo no canal do CNS no YouTube.

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