Carnaval

Checamos: O Galo perdeu para o Cordão da Bola Preta?

A megalomania dos maiores blocos de rua começou quando, em 1994, o Galo da Madrugada passou a ser conhecido como maior bloco carnavalesco do mundo. Anos depois, o bloco carioca Cordão da Bola Preta tentou superar o evento recifense

Débora Oliveira
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Débora Oliveira
Publicado em 09/11/2020 às 17:03 | Atualizado em 10/12/2020 às 15:17
Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem
FOTO: Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem

Quando será possível ver o Galo da Madrugada alçado na ponte Duarte Coelho novamente é uma incógnita. Independente disso, na boca do recifense, ele continua sendo o protagonista do maior bloco de rua do mundo. Mas há quem discorde do título. Nos últimos anos, o carioca Cordão da Bola Preta foi referenciado diversas vezes como o maior bloco de rua do mundo. A disputa entre as agremiações marcou a última década. Será que o Galo se mantém invicto?

Como checamos

Para saber qual dos blocos é o maior, ao menos em números, fomos em busca do público de cada evento entre os anos de 2010 e 2020. No Recife, os dados são estimados pela própria sede do bloco. No Rio, além da sede da agremiação, a Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (Riotur) em conjunto com a Polícia Militar também divulgam estimativas anuais. Fizemos um levantamento com base nas reportagens que saíram em cada ano e confrontamos com os dados solicitados às organizações.

Após 17 anos no topo, em 2012 o Galo foi desbancado pelo Bola Preta, que registrou 2,2 milhões de foliões contra 2 milhões do bloco recifense. Algumas reportagens, corroborando com a estimativa do bloco carioca, dizem que ele alcançou um público de 2,5 milhões. No ano seguinte, com o objetivo de cravar a vitória no The Guinness Book of World Records, a organização do Bola Preta convidou fiscais do Livro dos Recordes para a celebração, esperando alcançar a mesma marca do ano anterior, mas o resultado atingido foi de 1,8 milhões. Neste ano, o Galo recobrou sua posição, registrando 2,5 milhões de foliões. Até o meio da década passada, em todos os carnavais, a disputa era noticiada nos jornais das cidades.

A partir de 2016, o público do Bola Preta foi diminuindo, chegando em 630 mil neste carnaval. Segundo a assessora da agremiação, Carolina Salgado, a falta de incentivos vindos do poder público impedem o bloco de melhorar sua estrutura. “Nos carnavais entre 2016 e 2020, tivemos um público médio de 1,5 milhão, um número menor que em anos anteriores porque fomos obrigados a trocar o local do desfile para um espaço mais limitado, por conta de alterações urbanísticas na Avenida Rio Branco, como a implementação do VLT.”

Guiness Book, 1994 edition

A megalomania dos maiores blocos de rua do mundo começou quando, em 1994, o Galo da Madrugada foi reconhecido como maior bloco carnavalesco do mundo. Naquele carnaval, a agremiação juntou 1,3 milhão de pessoas no centro do Recife.

Segundo os organizadores da agremiação, o título foi concedido pelo The Guinness World Recordes, uma publicação inglesa reconhecida mundialmente por medir recordes de feitos quantificáveis. Tudo que é maior e pode ser contado é um potencial recordista da edição anual.

 

Reprodução/Galo da Madrugada
Certificado de maior bloco de carnaval do Brasil. - Reprodução/Galo da Madrugada

No entanto, o certificado enviado a nossa reportagem pela organização do Galo atribui à agremiação o título de “maior bloco de carnaval do Brasil”, não do mundo. Além disso, o título não consta na base de dados do Guinness, que pode ser acessada por qualquer pessoa, mediante cadastro no site. Procuramos nas edições de 1994 e 1995 alguma menção ao Galo da Madrugada, mas também não encontramos. Ao Confere.ai, a Gerente Sênior de Relações Públicas da World Records, Alice Pagan, confirmou que o recorde de maior bloco do mundo não consta nos registros da organização. “Nosso banco de dados nos informa não apenas os recordes que foram certificados, mas também todas as solicitações que recebemos e que ainda estão pendentes de análise”, explicou.

Encontramos no site do Guinness dois outros recordes carnavalescos. Em 2005, o carnaval de rua de Salvador foi considerado o maior do mundo, empatando com a marca alcançada pelo Mardi Gras, evento momesco realizado em Nova Orleans, nos Estados Unidos, com cerca de 2 milhões de foliões. Já o maior carnaval em geral é o do Rio de Janeiro, consagrado na edição de 2004, com 2 milhões de foliões por dia nos eventos da cidade. Ambas as marcas não são alcançadas por inscrição, mas pela avaliação de consultores e empresas de consultoria especializada, segundo o site oficial.

Origem dos blocos

LEO MOTTA/JC IMAGEM
Desfile do Galo da Madrugada no Carnaval 2020 - LEO MOTTA/JC IMAGEM
Foto: Reprodução/Twitter @leandraleal
O bloco de rua mais tradicional do Rio costuma reunir 1 milhão de pessoas e cantar marchinhas históricas - Foto: Reprodução/Twitter @leandraleal

O Cordão da Bola Preta é um dos mais antigos blocos do Brasil. Seu primeiro desfile ocorreu em 1918, sob a direção de Álvaro Gomes de Oliveira (Kaveirinha – no centro, em pé), Francisco Brício Filho (Chico Brício), Eugênio Ferreira, João Torres e os três irmãos Oliveira Roxo, Jair, Joel e Arquimedes Guimarães. Em 2018, o bloco completou 100 anos em atividade.

Já o Galo da Madrugada despertou pela primeira vez em fevereiro de 1978. No site da agremiação, conta-se que, naquela época, cerca de 75 pessoas fantasiadas de almas penadas percorreram as ruas do bairro de São José, área central do Recife. Com seus sacos de confetes e serpentinas, elas foram acompanhadas por uma orquestra de Frevo composta por 22 músicos, por um desfile durante a aurora, antes da abertura do comércio.

Cheque você também

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